terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Ângela Diniz

Assisti a série Angela Diniz (2025) de Andrucha Waddington na HBOMax. Eu queria muito ver. Reluto muito em ver histórias baseadas em casos reais de violência. O que mais me assusta nessa história, é que as pessoas tem sempre uma frase na ponta da língua depreciativa sobre a Ângela Diniz, mas nunca sobre o seu algoz. Tanto tempo passou e as pessoas ainda acham que mulheres devem morrer só porque não se gosta dela.

Infelizmente a série não contextualizou a época. A década de 70 era do amor livre e muitos aderiram. Época do movimento hippie. Como hoje no discurso sobre a monogamia. Sim, como hoje há muitos casais tradicionais, mas era um movimento bem expressivo a liberdade e ao amor livre. Ângela Diniz era só mais uma pessoa que abraçou o amor livre. Ela e o grupo da elite carioca que ela se inseriu. A roteirista é Elena Soárez.

O que me assustou é que Ângela Diniz casou aos 17 anos com um homem de 31 anos. Ela e seu marido eram da alta sociedade. Sim, é difícil proibir adolescentes, mas sendo ainda menor de idade, a família ao menos poderia ter pedido que ela esperasse ter 18 anos para casar. De qualquer forma, ela parece que casou por amor, foi feliz por 9 anos e tiveram 3 filhos. A série não sei porque resolveu fazer Ângela ter uma única filha o que muda demais o contexto. Eles foram casados por 9 anos, então ela tinha somente 26 anos quando se separou.
Ângela se separou e foi viver na efervescência carioca. Onde se praticava o amor livre e a alta sociedade vivia intensamente em festas regadas a whisky e cocaína. Ângela bebia vodca. Ela tem um romance com Ibrahim Suede que era casado. Ângela era daquelas amigas que sempre queremos ter, parceira, solidária, enfrentava tudo para defender quem amava. Marjorie Estiano está maravilhosa. Ibrahim é o Thiago Lacerda. Suas melhores amigas são interpretadas por Camila Màrdilla e Renata Gaspar. No elenco ainda aparecem Yara de Novaes, Daniela Galli, Thelmo Fernandes, Pedro Nercessian, Joaquim Lopes e Emilio de Mello. A série é muito bem realizada, belíssima fotografia, incrível reconstituição de época.

É por Ibrahim que Ângela conhece Doca Street interpretado brilhantemente por Emílio Dantas. Ela e Suede viajam para São Paulo, para a fazenda da família Scarpa. Ângela e Doca tem uma paixão avassaladora. A série também não fala muito de Doca. Ele teve filhos, um com Adelita Scarpa. Também não fala muito da vida profissional dele. O que achei na internet é que ele trabalhava na empresa da família Scarpa após o casamento. Ele era um bon vivant, vivia sempre do dinheiro da mulher que estava. E passou a viver as custas da Ângela. Doca era viciado em cocaína e bebia muito whisky. Quando ele alugou a casa na Praia dos Ossos em Búzios eu achei que ele tinha algum dinheiro, até que mostra na série ele pedindo pra Ângela assinar o cheque do aluguel. Não só ele não tinha dinheiro, como ele gastava o dinheiro dos outros como se fosse dele e depois pedia pra pagar. Ele fazia e depois pedia pra pagar. Assustador. Também não sabia que o romance foi relâmpago de apenas 4 meses e sempre tumultuado. Ele sabia que Ângela era uma mulher livre, mas só queria controla-la. Quando ela o manda embora, cansada dos ataques de ciúmes. Ele vai embora, mas volta e dá quatro tiros na cabeça dela que estava sozinha.
Quem defendeu Doca foi um ex-juiz Evandro Lins e Silva. interpretado por Antonio Fagundes. O último episódio é praticamente o primeiro julgamento. O segundo, após a pressão popular com o slogan Quem Ama Não Mata fica praticamente de coadjuvante. Não mostraram a força das mulheres, nem parte do segundo julgamento. É tudo muito rápido. Deram mais visibilidade ao algoz. Achei que diluíram a força da Ângela Diniz ao final. No primeiro Doca, réu confesso, foi julgado em Cabo Frio. O ex-juiz fez Doca manipular a imprensa com entrevistas chorosas, de bom moço, da mulher doidivanas que era Ângela, mulher que ele mal conhecia. E a população caiu, alguns até hoje. Como se deixam manipular. Com a pressão feminina, ele foi condenado a regime fechado, mas cumpriu mesmo só uns 3 anos. A justiça no Brasil não é igual para todos.

Ângela Diniz



Beijos,
Pedrita

3 comentários:

  1. Por volta de 2012-2013, foi deflagrada uma guerra contra o feminismo. Associavam o movimento a coisas como depravação, promiscuidade etc. E eu que sempre soube que feminismo não é nada disso, comentei no post de uma amiga, sobre o caso da Angela Diniz. O que mais me chamou a atenção nesse caso foi perceber que os homens diferenciavam o modo como julgavam o comportamento das mulheres e dos homens. Ações que consideravam normais e aceitáveis num homem, condenavam radicalmente nas mulheres. Então eu nem me interessava pelos detalhes do caso, me prendia apenas à flagrante injustiça dirigidas às mulheres. Depois de morta, Angela Diniz, passou de vítima à culpada. E o assassino passou a ser "o pobre homem manipulado e desonrado", que merecia a absolvição. Achei isso de um cinismo inacreditável. E lavei a alma quando outras mulheres exigiram uma revisão do julgamento. Os privilégios garantidos ao homem pelo patriarcado têm que acabar. Eles são imorais. Eles são canalhas. Eles são a causa da desconexão entre homens e mulheres. E, no extremo, são a causa dos feminicídios.
    Minha amiga disse que o melhor documentário sobre o caso Angela Diniz é um podcast chamado 'Praia dos Ossos'. Eu não o vi. E também ainda não vi essa série.

    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Boa tarde Pedrita. Parece ser uma série muito importante. Obrigado pela dica.

    ResponderExcluir
  3. Pedrita obrigada por compartilhar essa série ainda não conhecia, é uma boa oportunidade pra conhecer a vida da Ângela Diniz, feliz quarta-feira bjs.

    ResponderExcluir

Cultura é vida!