Eu relutei em ver porque não vejo filmes que falam de doença, até porque a maioria apela ao melodrama, músicas trágicas, muito choro. Como é Almodóvar, achei que daria para arriscar e encontrei um filme que fala de morte o tempo todo com poesia, sem exageros e muitos silêncios. Dá pra fazer um filme com um tema tão difícil sem carregar em músicas incidentais oportunistas. A delicadeza do filme me tocou profundamente.
Juliane Moore é Ingrid, uma escritora de renome, está em mais um lançamento de seu livro e fica sabendo que sua amiga, que há tempos estavam afastadas, está com câncer no hospital. Ela vai visitá-la e começa uma bela relação de amor e cumplicidade. Uma união que faz juz a máxima: ninguém solta a mão de ninguém. O câncer da amiga é nos ossos. Ela conta que está há anos em tratamento, que recusou no começo. Parece que nos Estados Unidos não é obrigatório acompanhante, então ela está sempre sozinha no quarto. E parece que as duas estão muito bem nas finanças. Tilda Swinton é Martha, uma repórter de guerra. Quando o câncer volta a se espalhar, ela se decide pela eutanásia que é crime nos Estados Unidos.Ela pede que a amiga fique no quarto ao lado. Ela reluta um pouco em aceitar, mas cede. Elas tem conversas lindas, falam do passado, de seus trabalhos. Martha foi casada com Damian de John Turturro, quando se separou a amiga teve um romance com o ex. Martha conta que acompanhou inúmeros fins de militares nas guerras que trabalhou, quando não tinha a mínima possibilidade de socorro. Ela tem uma compreensão muito peculiar da morte e estabelece as regras de convivência. Quando a porta do quarto estiver fechada, o momento chegou. Elas passam a ter uma bela relação na lindíssima casa que Martha aluga. A vista é maravilhosa, no meio do nada, entorno de mata. Ingrid vai ter que fingir para a polícia que nunca soube das intenções da amiga. A deslumbrante Casa Zsoke da filmagem fica na Espanha.
Almodóvar é cirúrgico ao final. Ingrid vai depor e é tratada como criminosa. O policial trata como suicídio e não eutanásia e intimida Ingrid o tempo todo. Quando ele diz que é religioso, sendo que investigação precisa ser laica, Ingrid resolve chamar a advogada que já tinha sido preparada para essa situação. Incrível o diretor colocar o fanatismo religioso tão em voga atualmente para fazer doer o que já dói e trazer uma infinidade de preconceitos individuais as escolhas dos outros.Beijos,
Pedrita
Por questões pessoais, estou relutando em ver esse filme. Mas acabarei por fazê-lo. O tema está voga, porque hoje as pessoas
ResponderExcluirpodem escolher abreviar o sofrimento inevitável. E poupar os próximos dos desgastes infligidos pela situação. O poeta/compositor Antônio Cícero fez essa opção (levada a cabo, fora do Brasil). Mas teve quem o criticasse, porque há quem se meta em tudo.
Beijo
marly, eu tb relutei, logo que vi que era sobre doença parei. um tempo depois resolvi dar uma olhada e é muito bom. sem exageros. triste, claro, mas inteligente. sim, as pessoas resolvem julgar. estranho que aceitam até com uma certa facilidade tratamentos paliativos de pessoas desenganadas, mas não aceitam a redução do sofrimento.
ExcluirBoa tarde e uma excelente quarta-feira, com muita paz e saúde. Espero que você goste do Parque das Águas de Cambuquira.
ResponderExcluirluiz, boa semana.
ExcluirTbm não sou muito fã de assistir filmes cujo tema é sobre doença, mas esse filme é de uma delicadeza, poesia e sutileza ímpares.
ResponderExcluirUma obra prima.
luli, não é, não fala muito de doença. elas falam muito da vida delas.
ExcluirGostei demais do filme, que consegue tratar de um drama tão profundo com delicadeza e paz.
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