O Green Book era um livro editado até recentemente com dicas de locais que permitiam negros e os atendiam bem. O editor disse que com as mudanças nos Estados Unidos, parou de ser editado muito recentemente, mas que com o aumento do conservadorismo, talvez retorne. O que mais me incomodou foi a construção do roteiro na fórmula de bolo dos filmes americanos. As histórias foram ordenadas artificialmente para os momentos de impacto conforme os critérios de emoção forçada do cinema americano. Essa falta de naturalidade acaba com uma boa história. Lembrou os causos contados pelo motorista, organizados para dar mais impacto em quem ouve, e não tanto pautados na realidade. É esquisitíssimo também pautar um filme sobre racismo como comédia, não vi graça na maioria das cenas.
Não sabia que o protagonista é o motorista, que o pianista fica de suporte para o outro personagem. Viggo Mortensen está bem, mas as interpretações são muito caricatas. Um é deselegante, não sabe comer, falar, grosseiro mesmo. E o outro um poço de educação e arrogância. Bem clichê de músico erudito que só toca pra rico, que é rico. Mahershala Ali também está bem, mas igualmente estereotipado.
No filme, o pianista erudito diz que foi aconselhado a tocar composições próprias,alegaram que ele teria dificuldade de agendar concertos pelo mundo se tocasse Brahms, Chopin, Beethoven, repertório clássico tradicional. Que não aceitariam e ele não conseguiria agendar apresentações. Quero checar essa informação. Pode ser que seja fato quando pensa-se em agendar naquela época concertos no sul dos Estados Unidos, mas não sei se essa restrição existiria pelo mundo. Mesmo antes da época do filme, havia um interesse pelo exótico. Sim, é um pavor achar exótico um negro tocar brilhantemente Chopin, Beethoven, mas acho que o pianista não teria dificuldade de agendar apresentações com um repertório mais virtuosístico. E o personagem parecia muito querer quebrar paradigmas para aceitar essa orientação. Essa sensação de falsidade na construção do roteiro acompanha o filme todo.
Beijos,
Pedrita