O rapaz adquire uma caixa de Vivian Maier que nunca ouviu falar e descobre uma caixa repleta de negativos. Na contraluz ele acha que as fotografias são interessantes e vai pesquisar a pessoa. Logo descobre que Vivian Maier foi babá. Ele passa a querer entender porque uma babá fotografava tanto. Acha umas pessoas que pagam um depósito com outros objetos de Vivian Maier, essas pessoas queriam parar de pagar o lugar e o rapaz pega os materiais. Vivian Maier era uma mulher metódica, roupas, tíquetes, recibos. Nos recibos estão telefones, ele passa a ligar e descobre pessoas que tiveram Vivian Maier como sua babá.
Ele descobre que Vivian Maier foi operária, só depois que resolveu ser babá e estava sempre com sua máquina fotográfica registrando tudo. As pessoas acham que o trabalho de babá dava mais liberdade a Maier, ela estaria bastante ao ar livre com as crianças, assim podia fotografar. E podia passear com as crianças, levando-as onde queria.
Vivian Maier gostava de tirar fotos de pessoas e bairros pobres. Levava as crianças lá. Chegou inclusive a ser proibida de levar as crianças em bairros pobres por um dos pais que trabalhou. Vivian Maier tinha um olhar cínico e crítico sobre a vida, muitas vezes sádico quando ela ficou fotografando uma criança que cuidava que se machucou. Também fotografava muito mortos, pessoas machucadas. Amava aquelas notícias sensacionalistas trágicas, algo que é bastante comum em pessoas pobres. Sim, pode ser que ela tenha sofrido violência ou abuso em algum momento, mas pode ser somente esse interesse mórbido por sensacionalismo muito comum, infelizmente.
A quantidade de fotos que ela tirava eram impressionantes. Um especialista falou da câmera e acho que era o que fazia toda a diferença. Maier não precisava olhar com a câmera na frente do rosto. A câmera ficava pendurada ao pescoço, Maier olhava pra baixo para ver o foco, imagino que esse recurso intimidava bem menos o fotografado. John Maloof procura museus para que se interessem e ajudem no trabalho e na pesquisa, mas claro, ninguém se interessa. Se ela fosse filha de alguém famoso, mesmo com fotos ruins, iam se interessar. Como ela era uma mulher, pobre e desconhecida, mesmo com fotos incríveis, não se interessaram. Maloof faz sozinho uma exposição, o lado sensacionalista, babá que tira fotos ganha a mídia e finalmente o reconhecimento chegar por vias tortas.
Esse material foi comprado no leilão praticamente na época que Vivian Maier morreu. Muitos acham que ela não teria gostado desse sucesso. Talvez da exposição excessiva de sua imagem, das entrevistas, mas acho difícil que não tivesse gostado que o seu trabalho fosse visto. Difícil adivinhar.
Só uma mulher relata maus tratos da babá. Quando criança Vivian Maier era cruel com a menina. Violenta mesmo. Os outros todos só falaram do lado reservado da fotógrafa. Esse lado me fascinou bastante, o quanto a fotógrafa não falava de sua vida. Ela inclusive inventava que tinha nascido na França, quando na verdade tinha nascido em Nova Iorque, pouco se sabe de sua história e de sua família. Gostei demais desse lado dela não gostar de falar dela, de permitir que pensassem o que quisessem sobre ela. Essa aura de mistério me fascinou muito. Tenho um apreço enorme por pessoas que gostam de ser reservadas, de pouco falar de si. As fotos falam por ela, talvez não o que de fato é, porque a arte permite muitas interpretações. E acho fascinante que ela parecia gostar que as pessoas imaginassem o que quisessem. Acho é mais precioso ainda quem não gosta de se expor demasiadamente.
Beijos,
Pedrita