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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A Pedra da Paciência

Assisti A Pedra da Paciência (2012) de Atiq Rahimi no TelecinePlay. Quando fui a Reserva Cultural ver Um Belo Domingo que comentei aqui, esse filme estava em cartaz. A maioria escolhia esse para ver, eu escolhi o outro. Agora quis ver. Atiq Rahimi é afegão e refugiado na França, um imigrante. Ele é escritor e cineasta, ganhou muitos prêmios com suas obras. O livro que deu origem a esse filme ganhou Prêmio Goncourt. O filme A Pedra da Paciência é muito importante nesse momento para mostrar a precariedade de vida que as pessoas vivem nesses lugares de conflitos e intolerância religiosa.

Uma mulher tem que cuidar do seu marido vegetativo em meio a uma cidade que está sendo bombardeada. E ainda tem que cuidar de suas duas filhas pequenas. O entregador de água não tem aparecido, a farmácia não fornece soro sem ela pagar o que deve, ela faz então soro caseiro com a pouca água que sobra. A família do marido foi embora. A esposa está revoltada. O marido tem vários irmãos que o idolatravam, a mãe do marido tinha adoração pelo filho, mas não pensam duas vezes em largar essa mulher e o marido vegetativo a própria sorte, sem comida, água e dinheiro.
Com muita dificuldade, dias procurando, ela consegue localizar a tia que vive de dormir com homens em troca de pagamento. Ela deixa suas duas filhas com a tia e diariamente vai cuidar do marido na casa já parcialmente destruída. É desesperador quando um tanque aponta para ela e atira na casa. A veracidade dos conflitos no filme é aterrador, muito bem realizado.

Enquanto passa horas com o marido em coma, ela conta a sua história que é igualmente aterradora. Como o pretendente estava na guerra, a cerimônia de casamento é feita com ela e a adaga do futuro marido. Só muito tempo depois é que ela conhece o marido que casou. Para que a pureza dela fosse preservada ela dorme na cama da sogra até o marido que ela só conhece em foto chegue. A condição da mulher nessas sociedades é monstruosa. Ela anda nas ruas de burca. O religioso só vai na casa dela para exigir que ela continue rezando, mas não leva nenhuma ajuda. Ele deve até acreditar, mas de forma leviana diz que se ela rezar incessantemente por 15 dias, o marido acordará depois desse período. Ela acredita e praticamente larga as filhas para rezar direto ao lado desse homem. E claro que ele não acorda. Com o abandono ela começa a questionar e se irritar com esse religioso. Ela não diz isso a ele, mas fala nas conversas com o marido em coma. Essa mulher questiona também a guerra e matar em nome de Alá. Com os relatos dela vemos o quanto eles negam, mas agem escondidos, desrespeitam as mulheres, tudo é pecado, mas agem e pensam com muito pecado. Todos fingem que não percebem e acabam sendo cúmplices das maiores atrocidades cometidas contra as mulheres. A atriz lindíssima é iraniana Golshifteh Farahani. O marido é interpretado por Hamid Djavadan. A tia por Hassina Burgan. O jovem soldado por Massi Mrowat.

Beijos,
Pedrita

terça-feira, 12 de julho de 2011

O Livreiro de Cabul

Terminei de ler O Livreiro de Cabul (2006) de Åsne Seierstad. Minha irmã que me emprestou esse livro que é da BestBolso, inclusive esse livro é fácil de achar em livrarias virtuais por 9 a 10 reais. O Livreiro de Cabul  ficou por muito tempo entre os livros mais vendidos. Me surpreendi no início por descobrir que a autora é norueguesa e que era correspondente internacional da guerra no Afeganistão. Sempre admiro a coragem de jornalistas que cobrem conflitos. Em geral esses livros desses países são escritos por pessoas que vivem neles, é diferente alguém olhar de fora e narrar aquelas vidas. O desing da capa é de Leonardo Iaccarino sobre a foto de Kate Brooks/Polaris. Foi o primeiro livro conforme a Nova Ortografia que li. A Georgia escreveu sobre esse livro no blog O Que Elas Estão Lendo? 

Enquanto cobria a guerra,  Åsne Seierstad conheceu um Livreiro de Cabul e pediu se poderia retratar a sua família e que para isso precisaria morar e passar um bom tempo com eles. Ele concordou e ela escreveu esse livro. Como muitos, ela se chocou com a forma com as mulheres são prisioneiras de um regime retrógado e violento. Ela mostra inclusive que a rigidez piorou nas últimas décadas, fala que a burca foi instituída muito recentemente. Relata que a maioria da população é analfabeta.  A preocupação da maioria é em seguir os rígidos costumes, há muito medo, principalmente das mulheres em estimular pensamentos nos homens. Eles passam a maior parte do tempo com medo, rezando e combinando casamentos onde o casal, em geral, só vai se conhecer na cerimônia. Estudo, informação e cultura parecem não existir para essas famílias. Tanto que Åsne Seierstad relata que escolheu uma família diferente de uma maioria, já que o pai é um livreiro. E eu me surpreendi que apesar do pai ser livreiro, ele quer que os filhos trabalhem desde pequeno horas a fio, sem dias de descanso e impede que os filhos estudem. Mesmo vivendo dos livros e amando os livros, ele não autoriza os filhos de estudar. Åsne Seierstad relata inclusive que mesmo quando alguns governos são menos rigorosos nas leis castradoras, que as próprias famílias não aceitam e seguem tradições. Como sempre as mulheres são vítimas de um sistema opressor, o que significa muitas vezes serem assassinadas pela própria família e o ato ser aceito no grupo porque era preciso limpar a honra.

Eu anotava muitos trechos, chegou uma hora que achei melhor parar. Vou escolher alguns.

Trechos de  O Livreiro de Cabul de Åsne Seierstad:

“Quando Sultan Khan achou que estava na hora de procurar outra esposa, ninguém queria ajudá-lo.”

“Eu havia passado seis semanas com os comandantes da Aliança do Norte no deserto perto da divisa com o Tadjiquistão, nas montanhas de Hindu Kush, no vale do Panshir e nas estepes ao norte de Cabul. Acompanhei suas ofensivas contra o Talibã, dormi em chão de pedra, em cabanas de barro, na linha de frente. Viajei na boleia de caminhões, em veículos militares, a cavalo e a pé.”

“-Primeiro os comunistas queimaram meus livros –ele contou-, depois os livros foram saqueados pelos mujahedin, e em seguida queimados de novo pelos talibãs.”

“A família de um livreiro é incomum em um país onde três quartos da população não sabem ler nem escrever.”

“O que me revoltava era sempre a mesma coisa: a maneira como os homens tratavam as mulheres. A crença na superioridade masculina era tão impregnada que raramente era questionada. Em discussões, ficava claro que, para a maioria deles, as mulheres são de fato mais burras que os homens, que o cérebro delas é menor e que não podem pensar de maneira clara como os homens.”

“Também vestia a burca par saber como é ser uma mulher afegã. Como é espremer-se num dos três bancos traseiros de um ônibus quando há muitos bancos livres na frente. Como é dobrar-se no porta-malas de um táxi porque há um homem no banco de trás.”


Não consegui localizar pintores do Afeganistão. Pelos relatos no livro, a cada novo governo no país muitos lugares históricos eram destruídos.






Beijos,
Pedrita