Terminei de ler Nostalgia (1993) de Mircea Cãrtãrescu da Mundaréu. Esse escritor romeno vem sendo muito elogiado então em uma feira do livro comprei esse exemplar. Em um evento eu mostrei a uma amiga e o livro acabou ficando com ela que o leu e comentou que não era o tipo de livro que ela gosta. Eu também não vinha gostando da leitura, tanto que depois que ela me devolveu esqueci o livro pela casa. Achei recentemente e resolvi concluir a leitura. Continuo não me identificando com a obra. Belíssima capa!
O marcador de livros foi presente de uma amiga, é um pedaço da obra de Monet, Água Lilás.
Obra Flor (2024) de Pier Bertig
O texto é incrível, com um vocabulário fabuloso, deve ser maravilhoso ler no idioma original. São parágrafos enormes, repletos de descrições, detalhes. São várias histórias de crianças e adolescentes, com suas maldades. É muita perversão. Só são adultos os personagens no epílogo que é bem surreal.
Terminei de ler O verão em que mamãe teve olhos verdes (2017) de Tatiana Tibuleac da Mundaréu. A escritora é da Moldávia, de expressão romena. Eu amei essa capa que tem a obra Duck Haws (1822) de John James Audubon.
O marcador de livros é do Museu Van Gogh de Amsterdam, sei que ganhei, mas não lembro detalhes de como chegou aqui e por quem.
Eu não lembrava o motivo desse livro ter ido pra minha lista, eu separo em uma lista, livros que gostaria de ler, pra escolher alguns pra adquirir em feiras de livros. Quando comecei, entendi. Mãe e filho tem uma relação muito conturbada. Os pais amavam profundamente a irmã dele, que morre. A mãe se afasta do filho pra trabalhar a sua dor e o esquece. Ele tem problemas psiquiátricos. O livro é intenso, profundo. O narrador é esse filho que conta a sua história. Vamos conhecendo a história entrelaçadas entre passado e presente. Como são os pensamentos do narrador, ele fala sem pudores de sentimentos controversos que temos, aqueles que não revelamos pra ninguém, mas que eles surgem. É um livro corajoso, que vai para lugares profundos. Que encontra compreensão em quem viveu momentos controversos como o protagonista.
É quando sua mãe tem um câncer terminal que a relação deles fica linda. São muito poéticos os dias que viveram na casa de verão perto da praia. A mãe ganha finalmente leveza. Os dois passam a ser afetuosos um com o outro. A passear, a ver a noite, a dançar na praia. São tão lindos os momentos. Inicialmente ela que cozinha e faz as compras, com o tempo ele vai assumindo as funções. É muito lindo!
Assisti Quo Vadis, Aida? (2020) de Jasmila Zbanic no TelecinePlay. Esse filme entrou na grade de programação porque passou em um festival, acabou ficando. O filme é baseado no livro do sobrevivente bósnio Hasan Nuhanovic que quero ler. Eu sabia que seria dificílimo de ver e adiei, mas com receio de ser retirado da grade, assisti. Não foi nada fácil até porque estamos em momentos insanos de guerra, uma guerra sempre é insana, então é horrível ver algo que igualmente fere os direitos humanos e mortes injustificáveis, principalmente de civis. O ser humano é torpe. Parei de ver várias vezes e só voltei porque sei da necessidade de fatos históricos abomináveis jamais serem esquecidos.
É sobre a guerra da Bósnia. Os militares sérvios chegam em Srebenica em 1995. Milhares de civis seguem então para para as bases na ONU na região para buscar abrigo. Alguns dentro da sede e inúmeros fora. Começa então uma negociação absurda que não quer conciliação. Os sérvios começam então a dizer que vão retirar os civis e levá-los a um lugar seguro. Separam os homens das mulheres e executam sumariamente 8373 homens rendidos e desarmados, a maioria bósnia muçulmana. A abominável chacina ficou conhecida como o Massacre de Srebrenica. Em 2004 o Tribunal Penal Internacional declarou genocídio.
O filme impressiona. Pra acompanharmos esses horrores, seguimos Aida, uma tradutora, seu marido é um conciliador, então os dois vão as negociações e começam a perceber que tudo é uma farsa, mesmo que tudo que seja dito dê a entender que todos civis serão protegidos, eles vão percebendo e obtendo informações que isso não está acontecendo.
A tradutora tenta desesperadamente incluir o marido e os dois filhos nas listas que ela se encontra para serem salvos com ela, desconfiando que se eles forem com os civis terão um destino trágico igual. Ela pede até ao médico que inclua os três na lista do hospital e o médico diz a ela que os doentes não estão chegando ao hospital. Imaginem! Nem os doentes, mesmo as guerras sendo absurdas, há um mínimo de regras.
Jasna Duricic impressiona, que atriz. É desesperador a luta dela para proteger sua família e questionar as ordens, que interpretação. O filme vem ganhando muitos prêmios.
Assisti Onde Está Segunda? (2017) de Tommy Wirkola na Netflix.Que grata surpresa! É um filme de ficção científica, infelizmente muito atual. O ótimo roteiro é de Max Botkin e Kerry Williamson. O diretor é norueguês, o filme é uma coprodução entre Bélgica, Reino Unido, Estados Unidos e França. O filme foi rodado na Romênia.
O mundo está superpopuloso. Há poucos alimentos e água. Uma empresa cria a lei do filho único. Quem tiver mais de um terá seu outro filho congelado para ser descongelado quando o mundo voltar a se reequilibrar. A filha do personagem do William Dafoe tem 7 meninas e ela morre no parto. Ele diz que dará um jeito.
Cada neta tem o nome de um dia da semana. Elas usam os dados da mãe e só podiam sair no dia do seu nome. Elas precisam compartilhar tudo o que passaram para que as outras possam acertar no dia seguinte o que aconteceu. Na infância as 7 são interpretadas por Clara Head e na idade adulta por Noomi Rapace, gosto muito dessas atrizes. Cada uma tem uma personalidade, estilo e habilidades. O pai brilhante diz que a força delas está na união, que cada habilidade soma ao bem coletivo. Mas quando saem todas são a Karen e se vestem e se comportam da mesma maneira.
O filme é todo muito inteligente. A Segunda some e elas tentam investigar. Há muitos desdobramentos e surpresas, com muita profundidade de roteiro. Ainda no elenco estão: Glenn Close, Marwan Kenzari, Christian Rubeck e Pal Severre Hagen.
Fui ao concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de S.Paulo - Osesp na Sala São Paulo. A orquestra teve dois convidados: o regente romeno Cristian Macelaru e o pianista macedônio Simon Trpceski. Belíssimo concerto! Os dois interpretaram a incrível obra de Béla Bártok, Concerto nº 3 para Piano. Bártok está entre os meus compositores preferidos e que obra maravilhosa! O pianista precisou voltar para o bis e tocou uma obra do seu país, a Macedônia, com o spalla da orquestra, Davi Graton. A obraCapricho Macedônio nº 1 para Violino e Piano, de Dragan Shuplevski, peça inspirada na canção folclórica Ne si go prodavaj Koljo cifliko.
Meu amigo falou muito da beleza da obra de Brahms que a orquestra ia tocar no final, a Sinfonia nº 2, em Ré Maior, Opus 73. Realmente muito bonita, mas eu sou fã mesmo é de Bártok. Na abertura a Osesp interpretou o Prelúdio da ópera Parsifal de Wagner.
Assisti Amém (2002) de Costa-Gavras na ClaroTV. É um filme muito difícil de ver baseado na história do oficial da SS Kurt Gerstein. Ele era um cientista e criou um veneno para parasitas. O exército o convoca, só depois de um tempo ele descobre que a sua invenção estava sendo usado para matar pessoas em massa nos fornos dos campos de concentração.
Desesperado ele se une a um padre para tentar vazar a informação para o mundo tentando parar o extermínio continuado. Kurt Gerstein vê inclusive o produto dele em ação e fica chocado. Mas vai ficando cada vez mais desesperado e enojado de saber que 10 mil judeus, ciganos e outros excluídos da época eram dizimados diariamente. Muito assustador como todos tentam ignorar de forma hipócrita os avisos. O Papa promete no Natal falar, mas ignora. Pedem provas, tudo para retardar a tomada de decisão. Só começam mesmo a proteger uma minoria de judeus convertidos católicos quando a Alemanha rende a Itália. E mesmo assim segregam os judeus dos convertidos. Kurt Gerstein é interpretado brilhantemente por Ulrich Tukur. O ator faz o contido alemão que conseguia esconder dos nazistas que estava tentando avisar o mundo das atrocidades. O padre que o ajuda por Matthie Kassovitz.
O elenco todo é muito bom: Sebastian Koch, Ulrich Mühe, Ion Caramitru e Hans Zischler. O filme é muito angustiante já que sabemos que não conseguiram fazer nada. Enquanto tentavam avisar os americanos, a igreja, os judeus eram exterminados em massa nas câmaras de gás e nos campos de concentração. Amén ganhou inúmeros prêmios como César de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Ator para Matthie Kassovitz.
Assisti ao recital com o violinista Emmanuele Baldini e a pianista Dana Radu na série BMA Música Erudita na Biblioteca Mário de Andrade. Que apresentação maravilhosa, que interpretações, que repertório. Eu gosto demais da pianista romena Dana Radu, já falei dela em postagens aqui. Eu já tinha ouvido interpretações do italiano Emmanuele Baldini como spalla da OSESP, mas foi a primeira vez que vi em recital. Os dois são músicos incríveis.
César Franck por Pierre Petit
Eu gosto demais do compositor belga César Franck. O violinista contou que iam interpretar uma das grandes obras para violino e piano de todos os tempos, a Sonata em Lá Maior, que maravilha! O duo ainda interpretou a Sonata em Ré maior D 384 de Franz Schubert e estreou uma obra brasileira de Caio Facó, Canções Errantes, inclusive o compositor estava na plateia. Em plena crise econômica é de emocionar ver uma série patrocinada. Além de um recital belíssimo, era ainda gratuito!
Assisti Child 44 (2015) de Daniel Espinosa no TelecinePlay. Eu procurava um filme para distrair em suspense e terror. Adoro filmes de fantasminhas para relaxar. Esse parecia policial, mas é bem mais um filme de guerra do que um filme policial, não é nem um pouco leve, mas é bom. É baseado no best-seller do inglês Tom Rob Smith. O diretor é sueco.
Com um roteiro bem rocambolesco, mostra a vida de nosso protagonista. Ficou órfão na Rússia como inúmeras crianças e passou muitas provações, fugiu e foi treinado no exército. Em uma investigação sua mulher é acusada, ela está grávida e ele a protege. Em paralelo crianças são assassinadas por um louco. Talvez a obra seja muito extensa e condensá-la bagunçou um pouco o roteiro e ficou um pouco confuso. Mas é um filme muito bem realizado, cenas muito bem feitas.
Na presidência de Stalin, no Paraíso, crimes não aconteciam. O protagonista não consegue investigar. Cada uma das 44 crianças tem um culpado que é morto, mas o verdadeiro assassino não. A dificuldade de investigar, os riscos, todos tinham que fingir que as mortes eram acidentes, que os culpados tinham sido executados. A parte da guerra é o mais interessante em Child 44. Os abusos do regime, os campos. Gosto muito da Noomi Rapace que faz a esposa. O oficial é interpretado por Tom Hardy. O amigo oficial por Gary Oldman. Há um elenco extenso, já que são muitas locações, tramas: Joel Kinnaman, Fares Fares, Vincent Cassel, Paddy Considine e Charles Dance.
Assisti Teorema Zero (2013) de Terry Gilliam no TelecinePlay. Um dia desses eu vi uma chamada desse filme no Telecine e alucinei, quando vi que era do Terry Gilliam com o maravilhoso Christoph Waltz, enlouqueci novamente. E finalmente vi o filme disponível no TelecinePlay. O roteiro é de Path Rushin. E que deleite e que genialidade, quanta loucura. Gênio!
E para o que serve tanta loucura? Por que gostei tanto se o final é incompreensível? Essa é a genialidade do filme. No surreal, no fantástico, escancarar nossas loucuras, os dias de hoje. Todos querem ter, querem possuir. Trabalham em seus cubículos, em games, sem se comunicarem. Vão a festas, mas não interagem, cada um com seu fone de ouvido, seu celular em mundos paralelos. E possuir pra que se nada é real? A moça que ele conhece é interpretada por Melánie Thierry.
O protagonista quer autorização para trabalhar em casa porque aguarda um telefonema. Esse é um dos segredos do filme e esse é revelado. Ele consegue a autorização e a casa dele ganha inúmeras câmeras para ser vigiado incessantemente. Tudo é vigiado, o tempo todo querem que eles comprem algo. Os cenários são fantásticos nos dois sentidos da palavra. Em um determinado momento as paisagens lembraram muito a artificialidade do extinto Second Life.
David Thewlis está no elenco. Tilda Swinton é a psicóloga virtual. O garoto é interpretado por Lucas Hedges. Ainda no elenco: Gwendoline Christie, Ben Whishaw, Peter Stormare, Lily Cole e Sanjeev Bhaskar.
Matt Damon faz uma pequena participação, é o dono da empresa, patrão do protagonista. Teorema Zero ganhou prêmio especial no Festival de Veneza para filmes futuristas.
Terminei de ler O Compromisso (2004) de Herta Müller da Editora Globo. Assim que essa autora romena ganhou Prêmio Nobel de Literatura em 2009 é que o Brasil resolveu traduzir uma de suas obras e eu quis ler. Enquanto muitos no mundo já conheciam Herta Müller para premiá-la, o Brasil ainda não tinha uma única obra sua traduzida. Comprei esse livro em uma dessas promoções de 50% de desconto. Bela edição, bela capa. A foto é de Corbis.
Obra Vestido Cinza de Theodor Pallady
Herta Müller nasceu na Romênia, mas como se recusou a colaborar com o serviço secreto do país foi para Berlim, onde mora. O Compromisso fala desse país onde não há liberdade. Uma mulher é convocada a depor, no trajeto lembra de sua vida, como nós lembramos dos fatos, como conhecemos nossa história, lembramos fragmentos. Algo no trajeto lembra um trecho, outro fato, outro fragmento, e nós vamos unindo essa colcha de retalhos de um pouco da vida dessa mulher. É bom descobrir esses fragmentos.
Obra Mulher em Amarelo de Theodor Pallady
Vou falar detalhes do livro: Essa mulher, de brincadeira, algo que os jovens fazem muito hoje nas rede sociais, escreve um bilhetinho que quer um italiano para casar para tirá-la do país. Algo inocente, brincalhão. Um colega de trabalho com raiva de não ter essa mulher, resolve denunciá-la. Ela passa então a ser regularmente convocada. As pessoas do bairro não gostam dela, a família do homem que ela vai viver junto também não. É como se uma mulher que é convocada fosse o que era no passado um leproso, um pária da sociedade. Ninguém quer estar perto. Ninguém quer ser igualmente convocado. Triste um país onde as pessoas não são livres para pensar, criar, brincar e viver. Incrível essa obra, incrível o texto, quero ler outra obra dessa autora.
Tanto o pintor, bem como o compositor são romenos como a escritora.