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terça-feira, 25 de setembro de 2018

Istambul de Orhan Pamuk

Terminei de ler Istambul (2003) de Orhan Pamuk da Companhia das Letras. Eu adoro esse autor, sempre ouvi elogios desse livro, fiquei bem eufórica quando vi um exemplar no sebo aqui perto de casa. Eu não costumo ler detalhes dos livros antes de ler para não saber segredos, então se soubesse que Istambul era autobiográfico não sei se teria lido. Esse livro me lembrou algo que me disseram faz tempo que é melhor não conhecermos as pessoas atrás dos artistas que admiramos, e esse é o caso.

Obra Riberas del Bósforo de Eugène Degand

Não sei se foi uma escolha do autor fazer um olhar turístico por Istambul, para expor menos as mazelas do mundo e as intimidades de sua família. Também Pamuk diz na obra que não devemos confiar em tudo o que ele diz, que nem sempre foi exatamente daquela forma e que ele inventa bastante. Quando Pamuk era criança o médico aconselha passeios em Bósforo, antes mesmo da cidade virar um grande ponto turístico. Ele, seu irmão e sua mãe viajavam constantemente para lá para aproveitar o dia. 
Obra Istambul de Celal Günaydin

A família de Pamuk vivia em um prédio, lá ele tinha contato com todos, sua avó vivia no andar de cima. Seus pais viajavam muito a trabalho. Pamuk gostava muito, mas muito mesmo de matar aulas e quando seus pais viajaram mais tempo deixando-o com sua avó que esse costume se intensificou. Pamuk conta que sua família vivia muito confortável, que era muito abastada, mas que perdeu dinheiro com o tempo, embora tenham continuado com posses. 

Eu não tinha ideia que Pamuk tinha sido um artista plástico na adolescência. Nas fugas da escola ele passeava por Istambul, lia clássicos da literatura e pintava. Não sei o quanto é verdade, ele mesmo dá a entender que não disse os fatos como foram, mas sua primeira paixão aconteceu quando ele tinha 19 anos. Tinha me esquecido que Pamuk vem de um país retrógrado e conservador. Ele se coloca como uma criança aos 19 anos, mas poderia ter mentido a idade. Sua amada seria menor de idade. O pai dela, preocupado com a aproximação da filha com um artista,  afasta-os. Em Istambul passam a falar dela que vivia passeando com o rapaz, . O pai não queria a filha próxima de um rapaz artista. Fico imaginando o que o pai da moça deve ter pensando uns anos depois quando Pamuk tornou-se escritor e mais futuramente um escritor famoso e ganhador de Nobel. O livro termina exatamente quando Pamuk decide que não será pintor e sim escritor.

Beijos,
Pedrita

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Castelo Branco


Terminei de ler O Castelo Branco (1985) de Orhan Pamuk pela Companhia das Letras. É o primeiro livro que esse autor publicou. Eu tinha lido Neve (2002) e gostado muito, havia comprado em uma promoção no Submarino. Aí esse apareceu em promoção no mesmo site, resolvi comprar e ler também. Muito bom! Me lembrou bastante A Obra em Negro da Marguerite Yourcenar. O Castelo Branco é ambientado no século XVI, mesmo período que é abordado o livro da Yourcenar. Enquanto o personagem da Yourcenar tenta desvendar os mistérios da medicina, o protagonista de O Castelo Branco concentra seus estudos na astronomia. Mas como todos na época, há várias reflexões sobre diversas áreas medicina, filosofia, astronomia, geografia. Então os personagens acabam se parecendo. Orhan Pamuk é ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2006. Neve é bem diferente de O Castelo Branco. Gostei muito de O Castelo Branco, mas ainda sou mais fascinada por Neve, maravilhoso!

Obra The Academy of Baccio Bandinelli (1550) de Enea Vico
Nosso protagonista é italiano, ele é preso em um barco e vai parar na prisão de Istambul. Pelos seus poucos conhecimentos médicos e um bocado de sorte torna-se protegido de um Paxá. Depois um sósia turco consegue tê-lo como seu escravo e pede que ele lhe ensine tudo o que sabe. Começam então debates e debates sobre o pouquíssimo conhecimento que os dois têm. E uma complexa teia de questionamentos astronômicos e sobre a nossa existência. Como nessa época sabia-se muito pouco de ciência e há muito obscurantismo, Pamuk consegue ir a fundo em questões milenares que eternamente nos perguntamos, quem somos, fé, religiões. É um texto intenso e complexo. Gostei muito! Acabamos nós mesmos nos questionando como é possível dois homens nascerem absolutamente iguais em continentes tão diferentes. Além dessas questões existenciais o autor ainda debate religião, ciência, medicina, poder e vários outros temas nas discussões dos dois personagens principais.
Obra Pearl Fishers (1570-71) de Alessandro Allori

Trechos de O Castelo Branco de Orhan Pamuk:
“Navegávamos de Veneza para Nápoles quando e esquadra turca apareceu.”

“Era o tédio. Não respondi nada, porque ele estava muito agitado, mas, para falar com franqueza, foi o que pensei: eu sabia, com base não só na minha própria experiência mas também na dos meus irmãos e das minhas irmãs, que o tédio, observado sobretudo nas pessoas egoístas, pode levar a resultados muito produtivos quando não se redunda apenas em coisas sem sentido.”

Música do post: Dufay - La belle se siet au pied de la tour
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Procurei pintores e músicos do período que se passa a ação do livro. Alessandro Allori (1535-1607) e Enea Vico (1523-1567) foram pintores italianos. A música do post é do compositor belga Guillaume Dufay que viveu entre 1397 e 1474.



Beijos,


Pedrita

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Neve


Terminei de ler Neve (2002) de Orhan Pamuk pela Companhia das Letras. Comprei esse livro há um tempo no site Submarino. Não comprei quando a editora publicou no Brasil, esperei entrar em oferta um tempo depois e consegui um bom preço. É simplesmente surpreendente! Compreendo agora porque o autor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2006. Fiquei tão chocada com o livro que não conseguia fazer mais nada depois que terminei a leitura. Também, desde que comecei a ler Neve, não queria saber de fazer outra coisa a devorar suas páginas avidamente.

Obra Yaghboya de Fikret Otyam
Neve é muito complexo. Um ex-morador da cidade fictícia turca de Kars resolve voltar a cidade natal para fazer uma matérias sobre jovens suicidas e sobre as eleições. Pamuk utiliza um recurso muito comum na literatura, seu protagonista não é claro em suas convicções, em todas as entrevistas de todas as vertentes religiosas, ele se confunde. Se dizia ateu, mas evoca Deus. Com essa confusão de pensamentos e sentimentos ele entra a fundo em cada teoria religiosa e política da Turquia. Fica claro que aquele país não aceita o ateu, e que ele se declarar ateu poderá ser morto por grupos extremistas.

Obra de Turgut Atalay

As religiões são utilizadas como manobras políticas, não de fé. Então a população fica sujeita as imposições políticas de sua fé. As jovens suicidas ficam sem opção. Elas são proibidas de ir a escola com o rosto coberto, só poderão voltar a escola se descobrirem as suas cabeças. Elas escolhem então não ir mais a escola. Então decidem forçá-las a tirar o véu, ameaçando acabar com os negócios do pai, destruir a família financeiramente. E entre tirar o véu e se matar, elas escolhem o suicídio. Ou outra que é obrigada a casar com um ancião. Mas todos só tem preconceito com o crime do suicídio que elas cometem e falam que nada é verdade, elas que realmente não tinham fé. Não vêem com maldade as ações que fazem e culpam as jovens de seus atos. Uma sociedade muito machista, com pouco respeito as mulheres e suas crenças.

Obra de Esti Saul

Neve também mostra a complexidade de credos e religiões. A agressividade que existe entre as facções, na maioria clandestinas, e o quanto colocam a culpa para manter o poder de ações terroristas. É um livro complexo, difícil. E nosso protagonista é irritante. Ele é egoísta, sem personalidade, não pensa no próximo, a não ser em seus interesses. É difícil aturá-lo até o fim do livro. Neve é absolutamente incrível, fiquei impressionada com o estilo de narrativa de Orhan Pamuk, com a ficção que permeia tanta realidade. Obra de arte!

Obra de İsmail Acar
Anotei alguns trechos de Neve de Orhan Pamuk para que tenham idéia da complexidade da obra e seus pensamentos:

“O silêncio da neve, pensou o homem que estava sentado logo atrás do motorista de ônibus. Se aquilo fosse o começo de um poema, poderia chamar o que sentia em seu íntimo de o silêncio da neve.”

“Era um poeta e, como ele próprio escrevera – num de seus primeiros poemas, ainda desconhecido dos turcos -, neva apenas uma vez em nossos sonhos.”

“Mas me parece que você não poderia ser de fato ateu, porque é uma pessoa boa.”

“Se Deus não existe, isso significa que o céu também não existe. E isso significa que os pobres do mundo, esses milhões que vivem na pobreza e na opressão, nunca irão para o céu. E se é assim, então como você explica todo o sofrimento dos pobres? Para que estamos aqui, e por que temos de suportar tanto sofrimento, se é tudo em vão?”

“Ele sentiu o mesmo tipo de culpa e vergonha que sentia quando jovem, ao sair de reuniões políticas. Aquelas reuniões políticas o perturbavam não apenas porque ele era um rapaz de alta classe média, mas também porque as discussões eram cheias de atitudes infantis e exageros.”
Todas as telas são de pintores turcos recentes como a obra do post. Tive uma grande dificuldade de localizar pintores turcos e suas obras.
Música do post: Gökhan Kırdar Yeni Ay Anlat Istanbul

Beijos,
Pedrita