quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Neve


Terminei de ler Neve (2002) de Orhan Pamuk pela Companhia das Letras. Comprei esse livro há um tempo no site Submarino. Não comprei quando a editora publicou no Brasil, esperei entrar em oferta um tempo depois e consegui um bom preço. É simplesmente surpreendente! Compreendo agora porque o autor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2006. Fiquei tão chocada com o livro que não conseguia fazer mais nada depois que terminei a leitura. Também, desde que comecei a ler Neve, não queria saber de fazer outra coisa a devorar suas páginas avidamente.

Obra Yaghboya de Fikret Otyam
Neve é muito complexo. Um ex-morador da cidade fictícia turca de Kars resolve voltar a cidade natal para fazer uma matérias sobre jovens suicidas e sobre as eleições. Pamuk utiliza um recurso muito comum na literatura, seu protagonista não é claro em suas convicções, em todas as entrevistas de todas as vertentes religiosas, ele se confunde. Se dizia ateu, mas evoca Deus. Com essa confusão de pensamentos e sentimentos ele entra a fundo em cada teoria religiosa e política da Turquia. Fica claro que aquele país não aceita o ateu, e que ele se declarar ateu poderá ser morto por grupos extremistas.

Obra de Turgut Atalay

As religiões são utilizadas como manobras políticas, não de fé. Então a população fica sujeita as imposições políticas de sua fé. As jovens suicidas ficam sem opção. Elas são proibidas de ir a escola com o rosto coberto, só poderão voltar a escola se descobrirem as suas cabeças. Elas escolhem então não ir mais a escola. Então decidem forçá-las a tirar o véu, ameaçando acabar com os negócios do pai, destruir a família financeiramente. E entre tirar o véu e se matar, elas escolhem o suicídio. Ou outra que é obrigada a casar com um ancião. Mas todos só tem preconceito com o crime do suicídio que elas cometem e falam que nada é verdade, elas que realmente não tinham fé. Não vêem com maldade as ações que fazem e culpam as jovens de seus atos. Uma sociedade muito machista, com pouco respeito as mulheres e suas crenças.

Obra de Esti Saul

Neve também mostra a complexidade de credos e religiões. A agressividade que existe entre as facções, na maioria clandestinas, e o quanto colocam a culpa para manter o poder de ações terroristas. É um livro complexo, difícil. E nosso protagonista é irritante. Ele é egoísta, sem personalidade, não pensa no próximo, a não ser em seus interesses. É difícil aturá-lo até o fim do livro. Neve é absolutamente incrível, fiquei impressionada com o estilo de narrativa de Orhan Pamuk, com a ficção que permeia tanta realidade. Obra de arte!

Obra de İsmail Acar
Anotei alguns trechos de Neve de Orhan Pamuk para que tenham idéia da complexidade da obra e seus pensamentos:

“O silêncio da neve, pensou o homem que estava sentado logo atrás do motorista de ônibus. Se aquilo fosse o começo de um poema, poderia chamar o que sentia em seu íntimo de o silêncio da neve.”

“Era um poeta e, como ele próprio escrevera – num de seus primeiros poemas, ainda desconhecido dos turcos -, neva apenas uma vez em nossos sonhos.”

“Mas me parece que você não poderia ser de fato ateu, porque é uma pessoa boa.”

“Se Deus não existe, isso significa que o céu também não existe. E isso significa que os pobres do mundo, esses milhões que vivem na pobreza e na opressão, nunca irão para o céu. E se é assim, então como você explica todo o sofrimento dos pobres? Para que estamos aqui, e por que temos de suportar tanto sofrimento, se é tudo em vão?”

“Ele sentiu o mesmo tipo de culpa e vergonha que sentia quando jovem, ao sair de reuniões políticas. Aquelas reuniões políticas o perturbavam não apenas porque ele era um rapaz de alta classe média, mas também porque as discussões eram cheias de atitudes infantis e exageros.”
Todas as telas são de pintores turcos recentes como a obra do post. Tive uma grande dificuldade de localizar pintores turcos e suas obras.
Música do post: Gökhan Kırdar Yeni Ay Anlat Istanbul

Beijos,
Pedrita

10 comentários:

  1. Eu, aqui mais uma vez fuçando blogs alheios, encontreio o teu, um blog legal, quem gosta do gênero certamente fica navegando por aqui!
    Bem, neste caso...eu volto, ok?!
    A revoir...

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  2. Sempre tive vontade de ler esse livro... quem sabe um dia.
    Passe lá no meu blog e deixe seu comentário!!!

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  3. pedrita, q saudade da srta!!! como estás? nem vem mais ao RJ...
    mesmo atrasadaço, quero q saibas q te desejo um ótimo 2008, ok?!
    ;-)

    (depois manda um mail, quero falar contigo.. cavanhaque72@gmail.com)

    bjs
    bom dia
    bom final de semana

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  4. Oi, Pedrita!
    Quando alguém se dispõe a "ler" a religião em todas ou algumas de suas implicações, políticas, sociais,éticas ou metafísicas, sempre sai um livro denso, "não muito fácil de ler"...
    Belas telas de pintores turcos, e bela escolha de música para o post.
    Tudo "no capricho", como sempre!

    Obrigado pela visita,moça.

    Beijo,

    Marcelo.

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  5. Faz tempo que quero ler esse livro, mas ainda não comprei. Adorei as imagens do post! A música não dá pra ouvir agora porque estou num computador sem som.

    Camila
    mesmachuva.blogger

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  6. adoro todos os livros dele. li duas vezes MEU NOME É VERMELHO!

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    1. fatima, vou ler vermelho então. adorei os dois desse autor.

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  7. Gostei mais de Os jardins da Inocência... mas isso também tem a ver com o momento em que lemos, e estou numa fase com dificuldade de concentração num texto tão denso.

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    1. carlos, exato, tem época que preferimos livros menos densos.

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Cultura é vida!