sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Um lugar entre os vivos

Terminei de ler Um lugar entre os vivos (2003) de Jean-Pierre Gattégno da Companhia das Letras. Comprei esse livro às escuras na Bienal do Livro. A editora colocara alguns livros com preços promocionais, esse era um deles e custava R$ 20,00. Uma atendente que me indicou. Eu tive bastante dificuldade em achar informações sobre esse autor que nasceu na França, precisei inclusive mudar no Google para me enviar dados só em francês. Achei muitas resenhas sobre um livro de divã que ele escreveu, que ainda não foi lançado no Brasil. Não achei resenhas no Brasil sobre livros desse autor, nem informações no blog de literatura contemporânea Paisagens da Crítica. Esse livro foi publicado na coleção de livros policiais da Companhia das Letras. Essa edição é muito bonita e traz as páginas pintadas de vermelho do lado de fora. Gostei bastante de Um lugar entre os vivos e foi uma grata surpresa!


Tela de Cédric Tanguy, O irônico barroco

Nosso protagonista é um escritor medíocre e é contratado por um possível serial-killer para escrever sobre os assassinatos de mulheres. Nós, nem o escritor, temos a certeza se realmente quem o contrata é verdadeiramente o serial-killer. O que mais gostei são os textos sobre a arte de escrever, a inspiração, a mediocridade da escrita, editores. Há pensamentos bem diferentes sobre a visão das formas de escrever do "serial-killer", do escritor, de uma antiga namorada do escritor que selecionava textos em editoras. São textos irônicos sobre o mercado de consumo literário, a arte ou a falta de arte ao escrever, oportunismo. Gostei muito!
Obra de Balthus

Anotei alguns trechos de Um lugar entre os vivos de Jean-Pierre Gattégno:

“Eu sou o filho da noite medieval e da noite nova-iorquina.”

“Se o leitor não fosse fisgado desde as primeiras linhas, tudo estaria perdido, ele fechava o livro e ia atrás de outro. Essa idéia o desnorteou. Mas era evidente: as prateleiras das livrarias estão abarrotadas de livros. Há entre eles uma guerra desencadeada a golpes de incipit. Primeiras linhas contra primeiras linhas. Desde o começo, em duas frases incisivas, percucientes e corrosivas, deve-se pegar o leitor com uma bela ação, criar uma atmosfera, envolvê-lo com algumas personagens e deixá-lo morrendo de vontade de saber o que vem depois.
A batalha, geralmente, se ganha com duas frases...”

“Sempre que nos pomos a escrever um livro – começou ele em um tom exaltado, um tom que se percebia o rancor-, pensamos que vai arrebentar. Nas primeiras páginas, é o entusiasmo, estamos certos de que ninguém jamais escreveu coisa melhor. Pensamos na glória, na riqueza, nos vemos nos jornais, na televisão, nas livrarias, por toda a parte. Mas, ao final de alguns dias, ou de algumas semanas, perdemos o fôlego, descobrimos que chafurdamos no nada, nos atrapalhamos com as palavras, que não sabemos mais como continuar.”


As telas são de pintores franceses.


Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Assalto ao Trem Pagador


Assisti O Assalto ao Trem Pagador (1962) de Roberto Farias no Canal Brasil. Queria há anos ver esse filme e tinha muita vergonha de ainda não tê-lo visto. Ganhador de inúmeros prêmios, marco do cinema, me parecia algo inconfessável que ainda não tinha visto. O filme relata um grande assalto que foi realizado na estrada de ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Tudo é impecável! As cenas, a fotografia de Amleto Daissé, a direção. É um filme ousado, contundente. Um grupo assalta um trem pagador, mas não pode, por um tempo, usar o dinheiro, só muito pouco do dinheiro que ficaram. O roubo foi de 27 milhões de cruzeiros, difícil imaginar o que significam hoje, muitos ficaram com 3 milhões. Não lembro qual a moeda da época, mas era uma fortuna. Eles compram poucas coisas, mas obviamente acontecem muitas intrigas, já que muitos da comunidade onde os assaltantes moram sabem quem são os assaltantes e alguns querem gastar mais do que deveriam.

Eu fiquei impressionada com o maravilhoso elenco e a cada aparição de incríveis atores. Li que nos extras do DVD eles relatam a seleção de um dos atores principais, o que interpretou o Tonho Medonho, Eliezer Gomes, que está excelente, ele era um ex-motorista de ambulância. Outro é o Reginaldo Farias, novinho de tudo. As mulheres são belíssimas interpretadas por grandes atrizes: Helena Ignez, Luisa Maranhão, Ruth de Souza e Dirce Migliaccio. O policial é interpretado pelo Jorge Dória. Aparecem no filme: Grande Otelo, Wilson Grey, Mário Lago, Átila Iório, Oswaldo Louzada e Nelson Dantas.
O Assalto ao Trem Pagador ganhou Prêmio Saci 1962, Melhor ator coadjuvante (Jorge Dória), Melhor atriz coadjuvante (Dirce Migliáccio) e Melhor Roteiro (Roberto Farias). Prêmio Governador do Estado de São Paulo 1962, Melhor Roteiro (Roberto Farias). V Festival de Cinema de Curitiba 1962, Melhor atriz coadjuvante (Luiza Maranhão), Revelação (Eliezer Gomes). Troféu Cinelândia 1962, Revelação (Eliezer Gomes). Festival de Cinema da Bahia 1962, Melhor Filme, Melhor Ator (Eliezer Gomes), Melhor atriz coadjuvante (Luiza Maranhão), Melhor Roteiro (Roberto Farias). Festival de Lisboa, Portugal, 1963, Prêmio Caravela de Prata. Festival de Arte Negra, Senegal, 1963, Prêmio Especial do Júri e representou o Brasil no Festival de Veneza de 1962.


Música do post: São Coisas Nossas - Noel Rosa


Beijos,
Pedrita

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Se o Vento Levanta a Areia

Assisti Se o Vento Levanta a Areia (2006) de Marion Hänsel no Cinemax. O filme é uma co-produção entre França e Bélgica e é baseado no romance francês Chamelle, de Marc Durin-Valois que fala de uma família que vive em um vilarejo na África. Começa com um homem tentando convencer um pai a matar sua última filha naquela noite, já que será no futuro mais uma boca pra comer, ele já tem dois meninos e uma menina é menos forte ao trabalho. E a água do vilarejo vai acabar daqui a uns anos. A mãe foge com o bebê. Volta no outro dia de manhã e o pai desiste de matar sua filha.


Passam-se os anos, a água do vilarejo está prestes a acabar. Todos precisam partir. Mas a pergunta é para onde? Pelo caminho há outros poços há muita violência, grupos em guerra. Eles vivem de forma simples nesse vilarejo. Esse pai é estudado e dá aulas em uma pequena escola. Eles têm cabras. Vivem bem, apesar de poucos recursos. Ir ao encontro do desconhecido é muito arriscado. Ainda mais tendo que passar por tantas regiões violentas ou pelo deserto do Saara.
O filme começa então a nos virar por dentro. Nós que desconhecemos as questões de falta d´água, não temos idéia dos horrores que um bem tão precioso provoca em sua falta. Grupos mantém o controle de poços para conseguir o que desejam. Brigam e matam por água. E a população fica a mercê desses soldados ou revolucionários. É uma violência sem fim. Essa família até consegue sobreviver a algumas abordagens e andar muito, mas as surpresas com a violência são tantas, que nos dilacera. Continuei vendo, mesmo sofrendo muito, porque acho que nós estamos muito acomodados e temos pouca noção de questões de sobrevivência sem água. Desperdiçamos tanto esse bem precioso, ficamos preocupados se o carro foi ou não lavado naquela semana e nos esquecemos quantos povos não tem água nem para beber. E que com o nosso desperdício, pode ser que nós também passaremos por questões semelhantes. Nós não só desperdiçamos muita água, como não plantamos árvores nem cultivamos plantas que ajudam no nosso ecossistema.
O elenco é excelente, atuações maravilhosas. São muito bonitos os dois atores que fazem o casal em Se o Vento Levanta a Areia, Issaka Sawadogo e Karemera Umulinga. Alguns outros são Carole Karemera, Asma Nouman Aden e Emile Abossolo M'bo.
Música do post: 13 Shayalan Amabala



Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Família do Futuro

Assisti A Família do Futuro (2007) de Stephen J. Anderson na HBO. O roteiro é baseado no livro de William Joyce. Eu queria muito ver animação, mas não tinha idéia de que é tão linda, me emocionei várias vezes. É um ótimo desenho para falar com as crianças dos diferentes, da orfandade, da exclusão. É da Disney e fazem no final uma homenagem a Walt Disney com um texto dele dizendo que devemos sempre olhar para frente, seguir em frente e nunca desistir. Começa em um dia de chuva, com uma mãe muito triste carregando um bebê e deixando na porta de um orfanato. Aí o nosso amiguinho gênio já está mais velho. Ele tem um amiguinho no quarto que mal dorme porque o seu amiguinho passa a noite perdido nas suas invenções.

Nosso protagonista nunca consegue ser adotado porque só pensa em suas invenções e os pais adotivos buscam crianças com esteriótipos, que gostem de esportes, leiam menos. Ele resolve participar de uma feira de ciências, mas o Homem do Chapéu Côco aparece para quebrar seu invento. Aí começa a trama, bastante complexa e muito emocionante. As animações são muito bem feitas.

Eu adorei os sapos cantores. E as músicas! Eu achei um vídeo no youtube com eles cantando! Eu gosto muito desse hábito atual dos filmes de animação e juvenis a terem vários pôsteres com personagens que gostamos. É bem simpático! E os ilustradores devem adorar!

A trilha sonora de Danny Elfman e Rufus Wainwright é ótima! Vou colocar uma música do filme que gostei muito, Another believer de Rufus Wainwright.


Música do post: Another believer - Rufus Wainwright
Youtube: Meet The Robinsons - Frogs Theater Announcement




Bejios,
Pedrita

domingo, 21 de setembro de 2008

Tina Gorina e Stanislav Angelov

Fui ao recital com a soprano espanhola Tina Gorina (foto) e o pianista búlgaro Stanislav Angelov (foto abaixo) no Teatro Humboldt que fica em Interlagos. É um bonito teatro. Gostei bastante da apresentação. Ainda cantaram os brasileiros, a mezzo-soprano Juliana Parra e o barítono Yuri Jaruskevicius.

Os músicos fizeram algumas alterações no programa, eu só tenho o original que vou colocar aqui:

Gaetano Donizetti (1797-1848)
Ópera: A Filha do Regimento
Ária: Salut a la France
Solista: Tina Gorina
Jules Massenet (1842-1912)
Ópera: Thais
Ária: Voilà donc la terrible cité
Solista: Yuri Jaruskevicius

Saint-Saëns (1835-1921)
Ópera: Sansão e Dalila
Ária: Mon coeur s’ougvre a ta voix
Solista: Juliana Parra

Vincenzo Bellini (1801-1835)
Ópera: La Straniera
Ária: Pago , o ciel tremendo
Solista: Tina Gorina

Georges Bizet (1838-1875)
Ópera: Carmen
Ária: Habanera
Solista: Juliana Parra

Gioacchino Rossini (1792 – 1868)
Ópera: O Barbeiro de Sevilha
Dueto: Dunque io son
Solistas: Juliana Parra e Yuri Jaruskevicius

R. Wagner (1813 – 1883)
Ópera: Tannhäuser
Ária: Canção da Estrela
Solista: Yuri Jaruskevicius

Jacques Offenbach (1819-1880)
Ópera: Os Contos de Hoffmann
Dueto: Barcarola
Solistas: Tina Gorina e Juliana Parra

Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Ópera: Il Guarany
Ária: O Dio degli Aimorè
Solista: Yuri Jaruskevicius

Georges Bizet (1838-1875)
Ópera: Carmen
Ária: Habanera
Solista: Juliana Parra

Gaetano Donizetti
Ópera: Don Pasquale
Ária: Quel guardo il cavaliere
Solista: Tina Gorina
Gostei bastante dos músicos estrangeiros. No final eles fizeram uma homenagem ao público brasileiro interpretando um belo arranjo da canção Se Esta Rua. Os ingressos eram somente R$ 8,00 ou um quilo de alimento.


Música do post: 03 - Tornami a dir che m'ami

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Youtube: Patrizia Ciofi - Don Pasquale - Quel Guardo Il Cavaliere



Beijos, Pedrita