sábado, 24 de julho de 2010

A Voz de Schumann

Assisti ao recital A Voz de Schumann no Centro Cultural São Paulo com a soprano Adélia Issa e o pianista Ricardo Ballestero. Eu tinha assistido a esse recital no MASP e ficado maravilhada com esse repertório. Sempre me surpreendo com as percepções culturais que sempre mudam. Da primeira vez eu tinha amado as obras de Brahms, tanto que aguardava ansiosamente esse momento. Só que dessa vez eu amei mais as de Schumann, incrível como a cada momento, a cada nova experiência, nossas percepções mudam. Adoro essa variação que a cultura promove em nossos sentimentos.



Nesse repertório eles apresentam inicialmente obras de Schumann, depois de compositores que sofreram influência dele e amigos.

Ano da Canção - 1840


- Mit Myrten und Rosen (Heinrich Heine)
- Seit ich ihn gesehen - de Frauenliebe und Leben (Adelbert von Chamisso)
- Schöne Fremde - de Liederkreis, op. 39 (Joseph von Eichendorff)

Robert e Clara de Liebesfrühling (Friedrich Rückert)


- Liebst du um Schönheint
- Er ist gekommen

Melodrama


- Linda Menina (Friedrich Hebbel - tradução livre de Adélia Issa)

Piano Solo


Quatro peças de Waldszenen, op. 82 
- Eintritt
- Jäger auf der Lauer
- Freundliche Landschaft
- Abschied

Os Amigos


Felix Mendelssohn
- Suleika (Marianne von Willemer)
Johannes Brahms
- Unbewegte laue Luft (Georg Friedrich Daumer)
- Botschaft (Hafiz/Daumer)

Homenagens E Influências


Charles Ives
- Ich grolle nicht  (Heinrich Heine)

Alberto Nepomuceno


- Der wunde Ritter (Heinrich Heine)
- Sehnsucht nach Vergessen (Nicolaus Lenau)
As fotos são de João Pires.
A sala estava lotada, foi uma espetáculo maravilhoso e gratuito.





From Mata Hari e 007
Beijos,









Pedrita

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Despertar da Primavera

No último domingo (18/07), graças a um presente da Moeller Botelho, para os fãs blogueiros da peça "O Despertar da Primavera", fui contemplado com um par de ingressos, para rever a peça. Mais do que depressa, chamei a Mata Hari (Pedrita) para me acompanhar. Gostaria de dizer que, sou um fã de carteirinha da peça, fui " fisgado"  já na primeira cena , na primeira vez em que fomos assistir e a Pedrita escreveu sobre o espetáculo aqui no blog. Desde esse dia, entrei para essa " legião"  de fãs da peça, legião essa, que só aumenta dia a dia ... Tudo isso, fruto de uma quimica perfeita, entre atores, musicos e plateia ...
Pois, não bastasse o maravilhoso desempenho de todos no palco, calcados no excelente texto e na belissima trilha sonora, (magnificamente executada ao vivo por  ótimos músicos), há ainda uma total interação por parte dos atores com o publico, ao final da peça ... Num clima muito gostoso de informalidade e confraternização, os artistas se encontram com os fãs no saguão do teatro... são todos muito gentis e atenciosos, atendem aos fãs com descontração, gerando uma " ligação" que não é muito comum de se ver no meio artistico ... Tudo isso acaba criando em nós, uma vontade muito grande de se rever a peça ... Acho que é bem como eu comentei com o Eduardo Semerjian ( um dos" adultos" da peça),a vontade de querer novamente assistir ao Despertar é como aquela sensação que temos, quando estamos indo encontrar nossos amigos queridos.

Como sou " suspeito"  para comentar a respeito da peça, direi apenas que fiquei muito feliz pela atuação do ator Bruno Sigrist, que assumiu o papel de Moritz, com a saida do Rodrigo Pandolfo. Não seria uma tarefa fácil, já que a atuação do Pandolfo era memorável. No entanto, Sigrist saiu-se a altura, criando o seu próprio Moritz e fazendo dele, um personagem inesquecivel também ...

Quanto aos outros, seria injusto dizer algo a respeito de alguém especificamente ... todos são maravilhosos, e tem atuações impressionantes, que, ao final, acabam nos deixando na boca, aquele gostinho de " quero mais"... e, claro, acho que nem preciso lhes dizer que certamente irei ver a peça novamente ... afinal, parafraseando uma das letras da peça:
"Despertar, meu vicio é você, e não vai passar ..."

P.S.: Para aqueles que não conhecem o  Despertar da Primavera, ou então querem rever, no dia  24/07 haverá, as 11 da manhã, um pocket show, com alguns atores da peça, cantando músicas da trilha. Isso na Livraria da Vila, Alameda Lorena 1731, jardim paulista. imperdível ... O Despertar da Primavera voltou em cartaz e está no Teatro Frei Caneca até 15 de agosto.


From Mata Hari e 007

Beijos,











007

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Guerra ao Terror

Assisti Guerra ao Terror (2008) de Kathryn Bigelow no Telecine Premium. Eu não tinha vontade de ver esse filme, mas achava que deveria dar uma olhada. É bem realizado, mas parece uma propaganda moderna de alistamento como foi feita na época do Tio Sam. Uma exacerbação a violência, uma vitimização dos soldados americanos, insuportável. No elenco estão: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty e Guy Pearce. Ralph Fiennes faz uma mínima participação.



From Mata Hari e 007
Beijos,









Pedrita

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Cisnes Selvagens

Terminei de ler Cisnes Selvagens (1992) de Jung Chang da Companhia das Letras. Minha irmã que me emprestou esse livro que tem o subtítulo Três Filhas da China. Jung Chang é chinesa e relata nessa obra a história de sua avó, mãe e dela própria, todas chinesas. As três viveram em períodos políticos muito diferentes, mas todas as três sofreram, parece que a cultura chinesa ou a destruição dela traz como normalidade a violência física, parece cultural as pessoas imporem sua vontade ou adequarem outras pela violência. A avó viveu no período do concubinato. Como a família dela não tinha muitas posses, buscaram um casamento em concubinato com alguém que melhorasse a situação de todos. O que mais me surpreendeu na história dessas mulheres, é que apesar do seu destino trágico, elas sempre tentavam burlar e fugir das regras, mesmo que educadamente ou mentindo, melhorando suas condições.

Obra de Wu Guang Zhong

A avó teve continuamente os ossos dos pés quebrados e amarrados como manda a tradição porque pés pequenos é que eram bonitos. Como concubina ela teria que morar com a esposa e as outras concubinas. A favorita sempre era perseguida, ou até mesmo envenenada, e as mulheres muitas vezes faziam isso pra se proteger porque a favorita sofria menos. Essa avó percebeu que viver com essas mulheres iria desprotegê-la e alegando que sua mãe precisava dela, continuou morando na casa do "casamento". Quando o marido estava pra morrer e ela já estava com as outras mulheres, percebeu que ia sofrer muito se ele morresse o que parecia certo. Ela seria separada da filha e enviada para uma espécie de prostíbulo. A filha era da família do esposo, não dela, como concubina não tinha esse direito. Se essa mulher não tivesse a coragem de fugir, e nem o perdão da esposa desse homem, não teríamos talvez esse livro.


Obra de Luxuriant Pines (1960) de Xie Zhiliu

A mãe de Jung Chang já viveu em outro período. Ela se tornou comunista, se apaixonou por um importante homem do governo de Mao. Nessa época acreditavam que tudo deveriam ao partido e esse marido não é gentil com sua esposa que sofre atrocidades. Ele acredita muito em servir ao partido, que amor é um sentimento burguês. O mais estranho é que tudo era muito avaliado em critérios estranhos e em um deles ele fala que se fosse feito daquela forma, ia parecer que o governo de Mao queria separar as famílias e que isso não era verdade. Mas só o que vemos nesse governo é violência e separação. Mesmo o casal tendo se dedicado uma vida ao partido, com sacrifícios monstruosos, eles são presos e torturados. Eu fiquei pensado como devia ser difícil sobreviver nesses tempos difíceis. Novamente pensei que não parecia humano sobreviver e que se eles tivessem sucumbido novamente não teríamos essa obra. Novamente também vemos a avó e a mãe de Jung lutando para todos serem menos massacrados. O pai se acorvadava mais, achava errado, mas as duas nunca desistiam de tentar caminhos melhores pros filhos não morrerem.

 Jung Chang foi criada alienada, não podia conhecer nada do seu passado, acreditava no partido, tanto que na adolescência participou da Guarda Vermelha. Demorou pra ela deixar de acreditar em Mao, inicialmente ela achava que algumas barbaridades ou eram de abuso de autoridade ou mandos da esposa do Mao sem o conhecimento dele. Só quando foi ao campo, para aprender com os camponeses atos não burgueses, é que ela começou a conhecer um pouco da história do seu país, sobre o período de muitas mortes e fome, e de muitas atrocidades. Jung Chang consegue autorização para ir estudar na Inglaterra, muito por interferência da mãe que procura muitas pessoas que assinem em favor da filha, os dois irmãos também saem do país. Como ela saiu com autorização pode voltar regularmente ao país, mesmo que seus livros sejam proibidos lá. Foi essa facilidade que permitiu muitas idas e entrevistas sobre Mao e ela pode escrever a biografia dele que quero muito ler. Esse livro é encontrado atualmente na coleção livraria de bolso da Companhia das Letras em valores bem acessíveis. É também encontrado nos sebos do Estante Virtual.

Obra de Zhang Xiaogang

Anotei muitos trechos de Cisnes Selvagens de Jung Chang. Vou selecionar alguns:

“Aos quinze anos, minha avó tornou-se concubina de um general-caudilho, o chefe de polícia de um precário governo nacional da China.”

“Eu sempre sonhara em ser escritora. Mas na China, na época em que cresci, a ideia de escrever para publicação parecia fora de questão. O país estava sob a tirania de Mao, a maioria dos escritores sofria de maneira terrível incessantes perseguições políticas. Muitos foram denunciados, alguns foram para campos de trabalhos forçados e outros foram impelidos ao suicídio. Em 1966-7, no Grande Expurgo de Mao, erroneamente chamado de Revolução Cultural, a maioria dos livros que as pessoas tinham em casa foi queimada.”

“Em 1964, Mao tachara de “feudal” e “burguês” o cultivo das flores e grama, e ordenara: “livrem-se da maioria dos jardineiros”. Criança, tive de juntar-me a outros na remoção do gramado de nossa escola, e vi os vasos de flores desaparecerem dos prédios. Entristeci-me ao extremo, e não só lutava para esconder meus sentimentos mas também me culpava por ter instintos que contrariavam as instruções de Mao, uma reação que me fora incutida por lavagem cerebral, como a todas as outras crianças na China. Embora na época em que parti fosse possível expressar amor pelas flores sem ser condenado, a China ainda era um lugar desolador, onde praticamente não se viam plantas nas casas nem floristas nas ruas. A maioria dos parques eram desertos brutalizados.”

“Em 1964, Mao elaborou uma relação de trinta e nove pintores, escritores e intelectuais a serem denunciados. Rotulou-os de “autoridades burguesas revolucionárias”, uma nova categoria de inimigos de classe.”

“Essas e muitas outras perseguições semelhantes eram típicas dos métodos de Mao na Revolução Cultural. Em vez de assinar sentenças de morte, ele simplesmente indicava suas intenções, e algumas pessoas se ofereciam para aplicar o tormento e improvisar os hediondos detalhes. Os métodos incluíam pressão mental, brutalidade física e negação de cuidados médicos – ou mesmo o uso de remédios pra matar. A morte causada desse modo passou a ter um termo especial em chinês: po-hau zhi-si – “perseguido até a morte”. Mao tinha pleno conhecimento do que se passava, e estimulava os perpetuadores dando seu “consentimento tácito” (mo-xu). Isso possibilitava-lhe livrar-se de seus inimigos sem atrair vergonha.”



From Mata Hari e 007
Beijos,
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Pedrita