Obra de Wu Guang Zhong
A avó teve continuamente os ossos dos pés quebrados e amarrados como manda a tradição porque pés pequenos é que eram bonitos. Como concubina ela teria que morar com a esposa e as outras concubinas. A favorita sempre era perseguida, ou até mesmo envenenada, e as mulheres muitas vezes faziam isso pra se proteger porque a favorita sofria menos. Essa avó percebeu que viver com essas mulheres iria desprotegê-la e alegando que sua mãe precisava dela, continuou morando na casa do "casamento". Quando o marido estava pra morrer e ela já estava com as outras mulheres, percebeu que ia sofrer muito se ele morresse o que parecia certo. Ela seria separada da filha e enviada para uma espécie de prostíbulo. A filha era da família do esposo, não dela, como concubina não tinha esse direito. Se essa mulher não tivesse a coragem de fugir, e nem o perdão da esposa desse homem, não teríamos talvez esse livro.
Obra de Luxuriant Pines (1960) de Xie Zhiliu
A mãe de Jung Chang já viveu em outro período. Ela se tornou comunista, se apaixonou por um importante homem do governo de Mao. Nessa época acreditavam que tudo deveriam ao partido e esse marido não é gentil com sua esposa que sofre atrocidades. Ele acredita muito em servir ao partido, que amor é um sentimento burguês. O mais estranho é que tudo era muito avaliado em critérios estranhos e em um deles ele fala que se fosse feito daquela forma, ia parecer que o governo de Mao queria separar as famílias e que isso não era verdade. Mas só o que vemos nesse governo é violência e separação. Mesmo o casal tendo se dedicado uma vida ao partido, com sacrifícios monstruosos, eles são presos e torturados. Eu fiquei pensado como devia ser difícil sobreviver nesses tempos difíceis. Novamente pensei que não parecia humano sobreviver e que se eles tivessem sucumbido novamente não teríamos essa obra. Novamente também vemos a avó e a mãe de Jung lutando para todos serem menos massacrados. O pai se acorvadava mais, achava errado, mas as duas nunca desistiam de tentar caminhos melhores pros filhos não morrerem.
Jung Chang foi criada alienada, não podia conhecer nada do seu passado, acreditava no partido, tanto que na adolescência participou da Guarda Vermelha. Demorou pra ela deixar de acreditar em Mao, inicialmente ela achava que algumas barbaridades ou eram de abuso de autoridade ou mandos da esposa do Mao sem o conhecimento dele. Só quando foi ao campo, para aprender com os camponeses atos não burgueses, é que ela começou a conhecer um pouco da história do seu país, sobre o período de muitas mortes e fome, e de muitas atrocidades. Jung Chang consegue autorização para ir estudar na Inglaterra, muito por interferência da mãe que procura muitas pessoas que assinem em favor da filha, os dois irmãos também saem do país. Como ela saiu com autorização pode voltar regularmente ao país, mesmo que seus livros sejam proibidos lá. Foi essa facilidade que permitiu muitas idas e entrevistas sobre Mao e ela pode escrever a biografia dele que quero muito ler. Esse livro é encontrado atualmente na coleção livraria de bolso da Companhia das Letras em valores bem acessíveis. É também encontrado nos sebos do Estante Virtual.
Obra de Zhang Xiaogang
Anotei muitos trechos de Cisnes Selvagens de Jung Chang. Vou selecionar alguns:
“Aos quinze anos, minha avó tornou-se concubina de um general-caudilho, o chefe de polícia de um precário governo nacional da China.”
“Eu sempre sonhara em ser escritora. Mas na China, na época em que cresci, a ideia de escrever para publicação parecia fora de questão. O país estava sob a tirania de Mao, a maioria dos escritores sofria de maneira terrível incessantes perseguições políticas. Muitos foram denunciados, alguns foram para campos de trabalhos forçados e outros foram impelidos ao suicídio. Em 1966-7, no Grande Expurgo de Mao, erroneamente chamado de Revolução Cultural, a maioria dos livros que as pessoas tinham em casa foi queimada.”
“Em 1964, Mao tachara de “feudal” e “burguês” o cultivo das flores e grama, e ordenara: “livrem-se da maioria dos jardineiros”. Criança, tive de juntar-me a outros na remoção do gramado de nossa escola, e vi os vasos de flores desaparecerem dos prédios. Entristeci-me ao extremo, e não só lutava para esconder meus sentimentos mas também me culpava por ter instintos que contrariavam as instruções de Mao, uma reação que me fora incutida por lavagem cerebral, como a todas as outras crianças na China. Embora na época em que parti fosse possível expressar amor pelas flores sem ser condenado, a China ainda era um lugar desolador, onde praticamente não se viam plantas nas casas nem floristas nas ruas. A maioria dos parques eram desertos brutalizados.”
“Em 1964, Mao elaborou uma relação de trinta e nove pintores, escritores e intelectuais a serem denunciados. Rotulou-os de “autoridades burguesas revolucionárias”, uma nova categoria de inimigos de classe.”
“Essas e muitas outras perseguições semelhantes eram típicas dos métodos de Mao na Revolução Cultural. Em vez de assinar sentenças de morte, ele simplesmente indicava suas intenções, e algumas pessoas se ofereciam para aplicar o tormento e improvisar os hediondos detalhes. Os métodos incluíam pressão mental, brutalidade física e negação de cuidados médicos – ou mesmo o uso de remédios pra matar. A morte causada desse modo passou a ter um termo especial em chinês: po-hau zhi-si – “perseguido até a morte”. Mao tinha pleno conhecimento do que se passava, e estimulava os perpetuadores dando seu “consentimento tácito” (mo-xu). Isso possibilitava-lhe livrar-se de seus inimigos sem atrair vergonha.”
From Mata Hari e 007 |
From Mata Hari e 007 |
Seu post está excelente e absolutamente completo!!
ResponderExcluirA China, apesar de todo o crescimento, tem histórias tristes para contar...
Bj
Que história impressionante! Esse livro parece ótimo e ao mesmo tempo, difícil de ler.
ResponderExcluirEu simplesmente adorei este livro. Primeiro, por ser uma biografia e segundo, por ser escrito e protagonizado por mulheres. O que mais me impressionou foi a aridez dos lugares com a proibição de plantas, árvores e flores! Acho que eu morreria...
ResponderExcluirDenise
Olá
ResponderExcluirFeliz dia do amigo, porque afinal de contas, mesmo que nossa amizade seja "virtual" ela é bem real em meu coração!!!
beijos
P.s: Querida as duas fotos são do visual novo, uma foto com flash e outra sem, porque em uma vemos as luzes melhor... kkk
Opa! Posso perguntar uma coisa? Sou muito curiosa mesmo rs...
ResponderExcluirVocê e o 007 são namorados? Super legal ter um blog com o namorado rs...
Pedrita quando li esse livro fiquei impressionada com a história dessas mulheres. É lindo, comovente, revoltante. Já leu As Boas Mulheres da China? Vale a pena amiga. E falando em amiga, Feliz Dia do Amigo!
ResponderExcluirBjs
la socière, crescimento para uma minoria e miséria e violência pra outra não serve.
ResponderExcluirana maria, dificílimo.
dê, eu me impressionei com queimarem os livros e proibirem a cultura, não sei se conseguiria viver em um lugar com tanta alienação cultural.
barbie girl, obrigada e igualmente.
paula, o 007 é meu amigo. eu achava q não ia dar conta de um blog sozinha e combinamos de escrever juntos. só q ele só postou mesmo uma vez há muito tempo. estou insistindo q o faço ao menos mais uma vez agora. ele nunca deixou q eu tirasse o nome dele e sempre dá palpites q escrevo.
roseli, depois de ler esse, comecei a pensar em ler esse outro.
Olá, gostaria que você conhecesse o novo lançamento da Balão Editorial: http://bit.ly/cMoX0e
ResponderExcluirobrigada flávia.
ExcluirAcabei de ler e ainda o estou a ressacar... é muito intenso, e faz-nos pensar como ditadores conseguem mesmo movimentar massas e massas de pessoas crentes, quando eles próprios não têm substancia para governar! Fez-me lembrar o governar pela tradição oral...
ResponderExcluirsim, o poder assusta.
ExcluirPara mim o papel do Dr. Xia e do pais de Jung Chang não é menos importante na narrativa e compreensão da história e mentalidade da China
ResponderExcluircarlos, exatamente, mostram o machismo q não é diferente em outros países, mas muito predominante.
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