sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Infiel

Terminei de ler Infiel de Ayaan Hirsi Ali. Eu comprei esse livro na Bienal do Livro no ano passado porque tinha lido várias matérias e queria muito ler. Essa edição é da Companhia das Letras. Logo no início eu já me surpreendi. Na década de 50 a avó de Ayaan vivia na Somália nos clãs, mudava sempre de lugar, viviam sempre embaixo de árvores. É muito recente para me deparar com pessoas que viviam em clãs. A mãe de Ayaan se casa como muitos no país, com casamento arranjado e surpreendemente, depois de ter um filho, pede o divórcio e vai viver na capital da Somália. Lá conhece o pai de Ayaan, se casa, tem duas filhas. O pai de Ayaan era um revolucionário e com as mudanças políticas no país vai preso. Como a mãe de Ayaan teme pela segurança de todos, resolve ir viver com a mãe, começam então o calvário de todos. Esse clãs que têm aqueles rituais monstruosos como a excisão do clítoris, fiquei mais horrorizada ainda que eles custaram as mulheres, deixando só o espaço para a urina. Isso acontece com Ayaan e a irmã, em uma festa, quando Ayaan tinha 5 anos. Sua mãe era contra, mas como a mãe viajava muito, a avó apronta essa monstrusidade como se estivesse fazendo o bem as crianças.

Depois a mãe e as filhas começam a viajar para viver com o pai. Moram na Arábia Saudita e no Quênia. A mãe começa a ficar
amarga e a espancar muito as filhas. É horrível como a mulher é tratada nesses países, a submissão já incomoda, mas se fosse só isso podíamos até suportar a cultura de um país, mas a violência física que sofrem é assustadora. Se uma mulher é estuprada pelo irmão, a culpa é da mulher. Homens podem espancar suas mulheres, se acharem que elas merecem. Ayaan é tão espancada por um professor do Alcorão e pela mãe que tem que ser hospitalizada com uma lesão séria no cérebro. Apesar de todos esses horrores, é a irmã dela que se rebela mais.
Ayaan na adolescência abraça o Islamismo, cobre seu corpo, mas com os ensinamentos começa a questionar as ordens e obediência às mulheres e começa a não entender porque os homens não devem obediência também. Ela tem um casamento arranjado com um marido no Canadá, mas a família não consegue visto que ela vá direto ao país. Seria mais fácil conseguir o visto para a Alemanha e depois por lá ir para o Canadá. Vai para a casa de uns parentes na Alemanha e lá
começa a planejar a sua fuga.


Começa a segunda parte do livro. Não deve ser fácil fugir. Além de serem amaldiçoadas pela sua fé, a família também e é preciso cortar os laços. Esse deve ser o motivo que muitas mulheres se submetem, porque não é fácil virar as costas para o seu passado, abandonar irmãos, pais, saber que eles sofrerão represálias em seu país. Não é uma decisão fácil. Ayaan se refugia na Holanda. A quantidade de imigrantes de outras nacionalidades no país na época é assustadora. Ela acaba trabalhando como intérprete e começamos a conhecer outros povos, outras situações complicadas. Aos poucos Ayaan começa a dizer o que pensa e é jurada de morte. Na Holanda ela foi classificada com QI baixo, mas insistiu em tentar se formar em política. Foi contra as determinações da imigração e conseguiu ingressar em uma universidade. Chegou ao Parlamento holandês. Hoje ela vive nos Estados Unidos. Infiel aborda várias questões, Islamismo, violência a mulher, imigração na Europa, política e o papel da imprensa que muitas vezes se aproveita de temas controversos pra fazer sensacionalismo. Ela escreveu um outro livro que agora quero ler e a Carla Martins comentou no blog dela, Leitura (mais que) Obrigatória.

Anotei vários trechos de Infiel de Ayaan Hirsi Ali, vou selecionar alguns:

“Nasci em um país dilacerado pela guerra e fui criada em um continente mais conhecido pelo que dá errado do que pelo que dá certo. Nos padrões da Somália e da África, sou privilegiada por ainda estar viva e sã, privilégio que não posso nem nunca vou poder considerar líquido e certo, pois sem a ajuda e o sacrifício de familiares, professores e amigos, nada me distinguiria das minhas semelhantes que apenas lutam pra sobreviver.”
“Há a mulher açoitada por ter cometido adultério; outra entregue ao matrimônio a um homem que ela detesta; outra espancada regularmente pelo marido; e outra que o pai repudiada ao saber que o irmão dela a estuprou. Os perpetradores justificam cada abuso em nome de Deus, citando os versículos do Alcorão agora escrito no corpo dessas mulheres. Elas representam centenas de milhares de muçulmanas em todo o mundo.”

“A desconfiança era recomendável, principalmente para as meninas. Pois elas podiam ser roubadas. Ou podiam ceder. E aquela que perdesse a virgindade manchava não só a própria honra como a do pai, dos tios, dos irmãos, dos primos. Não havia nada pior do que ser agente de semelhante catástrofe.”
"A mutilação dos órgãos genitais da mulher é anterior ao Islã. Nem todos os muçulmanos adotam essa prática, e alguns povos que a adotam não professam o islamismo. Mas, na Somália, o procedimento sempre se justifica em nome do Islã."


Youtube: Roda Viva - Ayaan Hirsi Ali




Beijos,

Pedrita

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Determinadas Pessoas – Weigel

Assisti a peça Determinadas Pessoas - Weigel na Sala B do Teatro Alfa. É um monólogo com a Esthér Góes, eu adoro essa atriz, não queria perder esse espetáculo. O texto é sobre uma grande atriz alemã que acabou conhecendo e se casando com Bertold Brecht. Como muitas mulheres da década de 20, ela era profundamente culta, revolucionária e determinada. Tanto que criou na Alemanha Oriental um importante grupo de teatro, o Berliner Ensemble. Judia, na Segunda Guerra Mundial. precisou ir com o marido inicialmente para a Dinamarca e posteriormente aos Estados Unidos, onde viveram por seis anos. Ela não admitia ser sustentada por um homem, mas nos Estados Unidos não conseguiu trabalho como atriz, não era no padrão de beleza estipulado pelos americanos, tinha sotaque alemão e ainda achavam que a atriz não tinha sexy-appeal. Parece que todo o conhecimento dela não valia muito por lá. Ela teve que se contentar com o papel de esposa.

Quando a guerra acabou, Weigel e o marido resolveram retornar a Alemanha, mas preferiram viver na Alemanha Oriental. Lá os textos de Brecht começaram a ser censurados, não queriam a montagem de alguns de seus textos e os textos que Weigel escolhia para encenar também. Depois da morte de Brecht, Weigel conseguiu passar para a Alemanha Ocidental toda a obra de Brecht para ser publicada na íntegra, sem a censura que a Alemanha Oriental desejava. Essa atriz encenou mais de 400 vezes o texto Mãe Coragem de Brecht, peça sobre uma mãe que perde um filho em uma viagem difícil, mas Weigel preferia não chorar, em cena pra mostrar toda a força e coragem dessa mulher.

Durante a peça Esthér Góes interpreta Weigel e mais alguns personagens das peças de Brecht, o espetáculo é simplesmente maravilhoso! E também passam em um telão cenas como se fossem de filme antigo, mas foram feitos pela Esthér Góes e alguns com a participação do Renato Borghi. Apesar da Esthér Góes usar cigarros em cena, ela nunca os acende. Esthér Góes gosta de escolher textos de mulheres que poderão ser esquecidas pelo tempo, mulheres determinadas e brilhantes como Weigel. O primeiro monólogo que vi no teatro com Esthér Góes foi Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? no Teatro Crowne Plaza e jamais esqueci. Determinadas Pessoas - Weigel está na reestréia e agora tem a direção cênica do filho da Esthér Góes, Ariel Borghi, que também faz alguns personagens. Esse espetáculo está incluído na promoção Vá ao Teatro e os ingressos por esse sistema custam somente R$ 5,00. Eu nunca comprei ingressos por esse projeto, mas sei que há vários postos de venda. Vou colocar o link para verem o site.



Beijos,

Pedrita

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Túmulo Sinistro


Assisti O Túmulo Sinistro (1964) de Roger Corman no Telecine Cult. Eu adoro os filmes com o Vincent Price. Volte e meia vejo algum. E o Telecine Cult resolveu fazer uma comemoração do Hallowen com filmes dele. Eu avisei minha mãe desse e ela, como eu, se divertiu bastante. Esse é baseado em uma história do Edgar Allan Poe, que também adoro. Sim, tem um gato preto e o coitado realmente leva a culpa. Mas eu vejo invertido. Vou falar detalhes do filme: O coitado do gato foi usado pela morta como veículo. Inclusive eu tinha dúvida se quem tinha recebido a alma dela tinha sido a outra mocinha do filme. Na verdade as duas são interpretadas pela mesma atriz Elizabeth Sheperd, que mulher linda.

Apesar da foto o filme é colorido. Começa o filme com nosso protagonista enterrando sua amada. Ele ficou viúvo. Uma mulher ativa, vizinha, acaba conhecendo-o e eles se apaixonam. Essa que achei que podia estar com a alma da outra. Ainda no elenco está John Westbrook.



Youtube: Tomb Of Ligeia - Original Trailer 1965




Beijos,

Pedrita

domingo, 1 de novembro de 2009

O Estado das Coisas

Assisti O Estado das Coisas (1982) de Wim Wenders no Telecine Cult. Eu gosto muito desse diretor e recentemente o canal resolveu passar um especial com filmes do início de sua carreira. Antes de começar, passou um vídeo do Marcelo Janot onde ele fala um pouco de todos esses filmes, fiquei com vontade de ver todos. Esse é o último da última sexta-feira de outubro, agora esses filmes devem se misturar na programação. Quem estuda ou trabalha com cinema vai ficar fascinado com esse. Começa antes dos letreiros, um filme de ficção, com coloração sépia. Chega na praia e fica pxb e mostra a equipe de filmagem. O dinheiro acabou antes do filme terminar. Eles estão gravando na belíssima Cintra em Portugal. Há várias críticas ao jeito americano de filmar e patrocinar. Gostei demais desse cartaz, mas parece que o primeiro que saiu sobre o filme é outro.

Os atores e a equipe começam a fica entediados em um belíssimo hotel na praia. E a equipe tenta localizar o financiador do filme que é americano. O Estado das Coisas é na época da máquina de escrever, que os telefones eram escassos. Há um no hotel e um orelhão na rua e eles têm dificuldade de falar com as outras pessoas, e as ligações são de qualidade ruim. Há muito surrealismo no filme. A fotografia é maravilhosa! Duas crianças estão no elenco e as conversas delas são sempre ótimas. No elenco estão: Isabelle Weingarten, Rebecca Pauly, Jeffrey Kime, Geoffrey Carey, Patrick Bauchau e Camila Mora-Scheihing. A trilha sonora também é excelente. O Estado das Coisas ganhou Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1982.
Youtube: Der Stand der Dinge (Deutschland/Portugal 1981/1982)




Beijos,

Pedrita