sexta-feira, 27 de junho de 2025

Homem com H

Assisti Homem com H (2025) de Esmir Filho na Netflix. Fiquei muito feliz que entrou no streaming, eu até vi horários nos cinemas, mas acabei não indo. Surgiu o debate que o filme entrou no streaming enquanto ainda rendia muitos milhões nas bilheterias. Eu não tenho uma opinião formada sobre isso. Na Netflix o mundo inteiro poderá conhecer as músicas e as histórias desse gênio, não sei se há tempo certo pra isso acontecer. Inclusive aumentaram expressivamente a busca por Ney Matogrosso no Google desde que o filme estreou na Netflix e o filme está como o mais visto do streaming brasileiro. O filme é baseado na biografia de Julio Maria e Ney Matogrosso participou de várias gravações. Minha mãe era muito, mas muito fã de Ney Matogrosso, não perdia um show quando ele vinha pra São Paulo. Estranhamente eu só vi um show em Manaus quando estive a trabalho por lá. Tenho uma memória afetiva muito forte dessa data, tanto pelo belíssimo show que vi como pelos que estavam comigo. As músicas que o Ney Matogrosso interpretava eram maravilhosas. Gostei que o filme intercalou as mais icônicas com outras pouco conhecidas.

Eu conhecia muito pouco da vida pessoal de Ney Matogrosso. Na infância ele foi espancado e maltratado sistematicamente pelo pai militar e pavoroso. Até não suportar mais e sair de casa. Também não conhecia a paixão de Ney pela mata. Uma graça o garoto que faz Ney criança, Davi Malizia.
O elenco todo é muito bom, não só pelas caracterizações, mas por serem grandes atores, independente de serem muito conhecidos ou não. Os pais são Hermila Guedes e Rômulo Braga. O pai militar era muito violento com Ney desde criança até que ele sai de casa. Me surpreendi quando pai conta ao filho que abandonou a carreira militar porque não concordava com tudo vinha acontecendo. Possivelmente foi aí que Ney começou a perdoar o pai.

Jesuíta Barbosa está maravilhoso, que ator! Ele emagreceu 12 kgs para interpretar Ney, também fortaleceu o corpo e músculos. Assim que Ney sai de casa, para sobreviver, ele se alista no exército. Não tinha ideia que Ney tinha seguido tantos caminhos até ser o artista que conhecemos. Ele sai do exército, vai trabalhar em um hospital em Brasília, cursa teatro e participa de um coral. É lá que o maestro elogia a belíssima voz de Ney. No exército ele fica amigo do personagem de Augusto Trainotti, adoro esse ator. Interessante o caminho dos dois. Ney luta pela arte e para se colocar na arte e pela liberdade, o amigo já se conforma ao destino, se casa e tem filhos que diz amar muito.
Ney falava muito em ser ator. Enquanto estudava fazia joias, figurinos para os espetáculos, adereços. É quando começa a criar os seus próprios personagens que viriam a ser sua marca. Foram amigos que apresentaram os artistas do Secos e Molhados. Eles escolhiam repertório, lindíssimas canções e poesias por sinal, e buscavam formar uma banda. É Ney que vai insistindo na maquiagem e caracterizações.
O filme recria a imortal capa do LP dos Secos e Molhados que explodiram. A banda lotou o Maracanã, foi um sucesso retumbante. O pai de um deles cria um contrato pavoroso, onde só ele se beneficia, mesmo Ney vivendo ainda precariamente, mesmo a banda estando no auge, Ney se recusa a assinar. É quando começa a sua carreira solo. Apesar do seub pai ser bastante conservador, ele ia ver os shows do filho.
É a década de 80, tempo de amor livre. Quando Ney conhece Cazuza, ele já estava perto dos 30 anos, Cazuza perto dos 20. Como Ney aos 20, ele vivia muito livre, muitos amores, casais, homens, mulheres, muita liberdade. Ney continuava livre, mas já não mais tão impulsivo. É quando Ney apaixona-se pelo médico Marco de Maria, lindo, Cazuza também se interessa. Ney conta pro médico e diz que eles são livres. E entendemos que eles também se relacionam. Adoro Bruno Montaleone, que ator. Cazuza é interpretado por Jullio Reis

Ney sempre foi muito reservado, então eu e boa parte do público sabia pouco sobre desse grande amor. Eles viveram juntos por 12 anos. É na década de 80 que a Aids vem devassar o amor e matar tanta gente. A escolha de como contar no filme é cuidadosa e não sensacionalista. Enquanto eles dormem a TV está ligada e lá um jornalista fala da doença que chega no Brasil. Não sabia que Ney tinha dirigido, é ele que dirige o show famoso de Cazuza quando ele está com a bandana e quando já estava no fim da vida, sofrendo as consequências dessa doença impiedosa. Era a época que não tinha tratamento algum, as pessoas definhavam muito rápido. Cuidadosa a cena do casal conversando com o exame na mão na cama. Ney sente culpa por ter sido poupado, vai se saber o motivo, sorte, genética, mas seu companheiro não. Ney diz que fez o mesmo que todos os outros, que não entende. O médico sugere que eles se separem porque a degradação dele virá, mas Ney diz que não. Poucos sabem, mas Ney cuidou do médico com uma dedicação que emocionou. São poucas cenas, Bruno Montaleone precisou emagrecer muito para essas cenas. Os banhos juntos, se escorando em Ney. Ney preparando com a enfermeira a UTI no quarto do apartamento. A morte também foi feita de modo poético. Já ouvimos os sons dos aparelhos da UTI, principalmente aquele que acompanha o coração. A cena segue para um show de Ney, ele canta a belíssima Poema de Rio de Lucina e Luli, do primeiro LP solo de Ney e o som do aparelho do coração para.

O filme corta com Jesuíta na mata, vendo a propriedade que sempre admirou. Quando ele olha para o rio, lá está Ney Matogrosso hoje de costas. O filme segue então para o show de Ney, lotado, em 2024. Que filme bem realizado, bem editado, tudo escolhido milimetricamente. Que obra! 

Tem instagram do filme com vários vídeos de bastidores, entrevistas.

Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Mickey 17

Assisti Mickey 17 (2025) de Bong Joon Ho no Max. Eu queria muito ver esse filme, adoro esse diretor sul-coreano. Ver seus filmes nunca é uma tarefa fácil porque ele é muito ácido.
 

Mickey quer se inscrever para uma viagem espacial. Robert Pattinson está impressionante! Cada vez mais gosto desse ator! Por ele não ter qualificação nenhuma e descobrir que não seria escolhido, ele acha a única categoria que se encaixa, no Descartável. Todos os selecionadores ficam espantados, perguntam se ele leu todas as entrelinhas, se ele tem certeza, e ele continua insistindo. Ele quer ou precisa ir de qualquer jeito e sabe que só assim conseguiria.
O líder que criou essa maluquice é um coaching, amado por todos. Daqueles que falam uma montoeira de baboseiras de autoajuda, liderança, como se amasse todo mundo, mas só olha mesmo para o próprio umbigo e de sua esposa. Óbvio que ele é de ultradireita e pra completar ele esconde que tudo é uma seita. Mark Ruffalo está genial! Que ator! Como odiamos o personagem. Tony Collette não está diferente. Que ódio que temos do casal.
E o que é o Descartável? Mais um experimento. Ele faz tudo o que é perigoso. Respira o ar de onde vão ficar. Se morre, é impresso outro. E sim chega ao 17. Ele morre e é reimpresso 16 vezes. Eles guardam a memória e é passado a cada nova reimpressão. É muito perverso! A euforia do líder em encontrar quem aceitasse ser o Descartável é nojenta, bom, tudo é nojento. O diretor é um grande crítico social. Como o rapaz é o Descartável, o mais baixo da pirâmide, ele é desprezado pela maioria, todos acham que podem maltratá-lo, desprezá-lo porque é considerado inferior, um ser humano inferior. E como é linda a par romântico dele, Naomi Ackie.
Sofri com os animais locais. Eu sofro demais com filmes que tem animais, pelo jeito com os extraterrestres também. Parei e voltei várias vezes porque não aguentava o sofrimento que causavam no filhote.
O elenco é ótimo, deve ser uma disputa pra trabalhar com esse diretor renomado: Steve Yeun, Patsy Ferran, Anamaria Vartolomei e Cameron Britto. Fizeram uma coleção de cartazes, um mais legal que o outro.
Beijos,
Pedrita

terça-feira, 24 de junho de 2025

Eileen de Ottessa Moshfegh

Terminei de ler Eileen (2015) de Ottessa Moshfegh da Todavia. Eu fiquei interessada em ler esse livro depois que vi o filme homônimo. Fiquei muito curiosa em conhecer na escrita os detalhes da personagem tão complexa. No Brasil resolveram complementar o nome da obra, totalmente desnecessário! Que texto! Que capacidade de descrição dos acontecimentos! Gostei demais!

O marcador de livros ganhei de um amigo, vieram vários semelhantes em uma caixinha.

O livro é ambientado na década de 60. Eileen é uma jovem que não se encaixa na sociedade. Perdeu a mãe de câncer, mas não tinha uma relação muito boa com os pais. Ele é alcóolatra. Eileen acredita que precisa cuidar deles. Ela acaba indo trabalhar temporariamente em um presídio de menores infratores e acaba ficando. A autora sabe construir brilhantemente os sentimentos dos personagens. A vida disfuncional de muitas pessoas. Fala muito de submundo, de vidas que não queremos olhar, dos invisíveis. Rebecca é loira no filme e quando a vi aparecer achei perfeita, meio Marylin Monroe. No livro ela é ruiva de cabelos longos e logo que apareceu achei perfeita, não podia ser diferente. Como a arte pode nos convencer na construção de seus personagens. Fui completamente volátil em aceitar a caracterização em cada expressão artística.
Acho incrível como Ottessa constrói Eileen. Carente de tudo, revoltada, ela se ilude com muita facilidade. Todos desprezam Eileen, não tem empatia com ela e a culpam por tudo, como se ela que fosse a responsável pelo pai, pela casa e ainda ter que trabalhar. Todos os conflitos que o pai cria bêbado, os policiais alertam Eileen, como se ela que tivesse que controlar o pai. Nunca falam diretamente com ele. Gosto demais como a autora vai criando a tensão e as surpresas e mais ainda como ela finaliza a trama.

Ottessa Moshfegh é americana, filha de mãe croata e pai iraniano, talvez por isso compreenda tanto essa sensação de não pertencimento na sociedade.

Beijos,
Pedrita

domingo, 22 de junho de 2025

Noise

Assisti Noise (2023) de Steffen Geyppens na Netflix. Fui na busca procurar filmes belgas e me deparei com esse. Tinha um tempo que eu via esse lindo cartaz, mas nunca tinha parado para ver o filme. Achei que era de fantasminhas, mas é mais um filme para falar de saúde mental.

Um belíssimo casal e um bebê fofo se mudam para uma mansão belíssima em uma pequena cidade. A casa é da família dele. Os dois são lindos, Sallie Harmsen e Ward Kerremans. Nós já tínhamos visto imagens do passado quando uma mulher se afoga no lago e o marido vai tentar salvar. Com o tempo descobrimos que ela era a mãe do rapaz. O marido é influencer com milhares de seguidores, vive criando conteúdos. Ela faz comida pra vender. Eles chegam lindos, todos arrumados. Ele vai se desalinhando, fica suado, tenso, agoniado, perturbado, tem insônia e mesmo assim ela ainda deixa o bebê sozinho com ele, dá muita agonia.
O pai, Johan Leysen, vive em um asilo, mas aparece caminhando de vez em quando. Imagine, uma casa daquele tamanho e o avô no asilo. O filho passa a se interessar pela indústria química da família e começa a tentar entender o que aconteceu. Em algum momento pensamos que os delírios que ele começa a ter é da química da fábrica que tem inúmeros túneis, é um verdadeiro labirinto. O pai foi acusado de matar muitos trabalhadores em um acidente na fábrica. A cidade não trata bem a moça que vai ao comércio local. Ninguém gosta dos parentes da mansão.

A mansão é linda. A cidade é uma graça e bucólica. É um bom filme.


 

Beijos,
Pedrita