Assisti Jovem e Bela (2014) de François Ozon no Max. Eu gosto muito desse diretor e coloquei para gravar. Inicialmente estava com pré-conceito. Uma jovem de 17 anos tem a sua primeira vez em uma viagem de verão. Fria, ela quer resolver logo a questão. Quando volta com a mãe, o padrasto e o irmão para a cidade que vive, passa a se prostituir. Ela mente a idade e diz a idade que a atriz tinha quando fez o filme, 23 anos, e é interpretada pela jovem e bela Marine Vacth.
Essa jovem garota parece fria. Meu pré-conceito foi o contexto, achava estranho que uma jovem de uma família em harmonia tivesse esse comportamento agressivo. Mas esse diretor é tão incrível que acabamos nos rendendo ao filme, o roteiro é muito bem realizado. Ela parece se prostituir como o jovem que anda com o carro em alta velocidade, como o que experimenta drogas, como o que bebe além do limite, para transgredir, arriscar. Gostei que a profissão não foi glamourizada, nem sempre ela se dá bem, mas mesmo assim ela não pára, e não parece gostar. Sempre fria.
Vou falar detalhes do filme: A família descobre por um mero acaso. Um dos clientes da filha morre durante o ato. Claro, ela foge, mas a polícia descobre. A mãe fica irada, briga muito. Eu até entendo que em um primeiro momento deve ser revoltante. Uma mãe não imagina que uma filha menor de idade esteja se prostituindo. A polícia exige que a menina faça terapia. A mãe proíbe computador e celular por um tempo. A família não era altamente conservadora, não era disfuncional, tinham bastante diálogo. É estranho a mãe continuar revoltada depois que a raiva passa. A incompreensão da mãe incomoda. Ozon coloca muito bem o preconceito a prostituição. A mãe e a amiga da mãe começam a recear que a garota venha assediar seus maridos, como se a garota não pudesse fazer antes. Incrível como o autor coloca o preconceito nessa profissão tão milenar e estranho que eu tenha visto agora quando a França endurece severamente com a prostituição que é legalizada na França. No Brasil muitos pais são condescendentes com o álcool na adolescência, mas imagino que seriam muito ferozes se fosse prostituição. Como se um comportamento fosse pior que o outro.
Somente um cliente essa jovem parece ter alguma ternura, algum afeto, exatamente o que morre. Só quando ela desabafa com o psicólogo é que conseguimos entender um pouco os sentimentos que a moveram a prostituição. Ela gostava da adrenalina do marcar o encontro. Receber a ligação no celular, cobrar, escolher o hotel, dos riscos de ir até onde foi marcado. Durante o ato ela não ligava mais.
Incrível como a única pessoa que parece realmente compreendê-la é a esposa desse homem que aparece no final. Parece ser a única que realmente entende o que a jovem fazia. Essa mulher diz que no começo se incomodou com o fato do marido ter encontros com outras mulheres, mas que viu que ele era assim e passou a aceitar. É a única pessoa no filme que não culpa a jovem e não responsabiliza a jovem pelo interesse dos homens. São lindos os momentos finais. Esse diretor adora lacunas, adora deixar ao público as interpretações, mesmo assim são várias. Antes do filme começar há uma breve entrevista com François Ozon e ele diz isso, que conversando com quem viu o filme, percebe que cada um teve uma interpretação, essa é a grande mágica do filme. Inicialmente percebemos que a morte a traumatizou e ela não vai mais se prostituir, mas passado um tempo, ficamos na dúvida, ela reativa o número do celular dos encontros e vemos ela se animar com o excesso de chamadas. São poucos momentos que essa jovem ri, gosta do que faz, e esse é um desses poucos momentos. Fiquei na dúvida se ela iria conseguir abandonar essa sensação de prazer, já que parece não ter prazer com quase nada. O filme também mostra a discrepância do que ela ganhava com o que poderia ganhar em outra profissão. Ela ganhava 300 euros, depois 500 euros. Quando ela vai trabalhar de babá, por uma noite inteira, ganha 50 euros, ela até brinca com isso. Claro que ela só ganhava muito por ser muito jovem, com o tempo e com a idade a mulher vai se desvalorizando. Esse cliente mais fixo é interpretado por Johan Leysen. A esposa dele é interpretada pela belíssima Charlotte Rampling. É incrível a semelhança dela com a jovem. Parece que o marido buscava a imagem da esposa que conheceu na juventude na garota. A mãe é interpretada pela Geraldine Pailhas. O padrasto por Frédéric Pierrot. O irmão da jovem por Fatin Ravat.
Assisti o Big Brother Brasil 16 na TV Globo. Como eu gosto de BBB. Sou fã de carteirinha e esse foi inesquecível. A vencedora foi a Ana Paula que infelizmente foi expulsa. Pode ter se excedido, mas será realmente? Dois participantes combinaram que iam forçar a participante a perder a cabeça para que ela encostasse as mãos neles. Ana Paula, bêbada, bateu no rosto de Renan. Ok, não deveria, inclusive pediu desculpas. Nunca negou o que fez. Ana Paula foi no programa a justa, a companheira, a protetora. Eu nem gostava dela no começo. Ela dizia claramente que vivia do dinheiro que a mãe deixou para ela. Que não era feminista. Mas um ou dois dias depois mostrou o quanto é feminista protegendo mas meninas mais novas da casa. Ok novamente, meninas maiores de idade, com 19 anos, e Ana Paula as protegeu do comportamento inadequado de Laércio. Equivocadamente ela o chamou de pedófilo, eu fui procurar explicações do tema e realmente pedófilo ele não é. Pedofilia é com meninas menores de 12 anos. Mas que ele assediou a Munik de forma grosseira, assediou. Só quando o programa acabou é que vi a Harumi dizer que não gostou do gesto que ele fez para as meninas. Perguntei as minhas amigas que disseram que é um triângulo com as mãos. Achei então uma foto onde ele colocava a língua dentro do triângulo e fazendo isso para Munik em uma festa que talvez como eu não sabia o que esse gesto significava, não entendeu. Ana Paula brigou muito com ele que dormia de cueca. Ana Paula saiu do quarto e Laercio debochou se fazia diferença de cueca ou bermuda. Pelo conflito ele foi convidado a dormir no quarto do líder e lá dormiu inteiro vestido. Com homens ele dorme todo vestido, com mulheres de cueca. A Paula também ouviu o Laércio contar que tinha uma namorada aqui fora e que uma amiga da namorada se juntava a eles na hora do sexo e essa menina tinha 16 anos. Aqui fora as pessoas acharam a página dele no facebook que foi deletada uns dias depois da matéria onde ele usava o nome que diz de um homem que gosta de menores de idade. E também curtia várias comunidades de armas, por ser fã de armas. Ana Paula não foi assediada por Laércio, mas defendeu as mulheres da casa dos assédios dele em uma linda atitude feminista. Ana Paula teve muitas atitudes lindas.
Ana Paula ganhou do público o direito de ficar em um quarto com todo o luxo e poder ver tudo o que acontecia na casa. Elogiou tudo como sempre fez na casa, elogiando as roupas, as festas. Agradeceu muito a produção as lindas roupas, o que arrumaram, o jantar. E voltou com o bordão dessa edição: "Olha Elaaaaaa". Fiquei muito triste com a saída da Ana Paula e praticamente não vi mais. Só voltava para votar nas pessoas que fizeram mal a ela. Inclusive Ana Paula dizia que não fazia nada, não trabalhava, mas era como o Alan, graduou-se e fez duas pós-graduações, como ela mesmo contou em um momento no programa.
Adélia foi a grande vilã desse BBB16. Não só por todo o mal que fez na casa, por suas intrigas e fofocas, mas por duas de suas revelações que repercutiram muito mal aqui fora. Primeiro ela revelou em um grupo, dia dia, logo no começo, que apoiava a Elisa Matsunaga, que cortaria o membro de um homem se ele a traísse. Matheus estava no grupo e comentou que o membro poderia ser costurado. Na hora então ela disse que ia picar muito para isso não ser possível. Após essa revelação foi chamada ao confessionário e nunca mais ninguém falou no assunto. O Uol noticiou e vimos os vídeos. O BBB16 e a Globo.com abafaram. Quase no final, um pouco antes da Adélia sair ela estava no quarto do líder, novamente Matheus estava lá e todos riam falando de cachorros inconvenientes. Adélia rindo muito, gargalhando, disse que batia muito nos cachorros quando era criança. Uns dias depois a irmã da Adélia declarou em uma entrevista que a mãe da Adélia batia muito na filha porque a Adelia machucava cachorros na infância. Na casa Adélia disse que não suportava mais a Ana, que ia dar na cara dela e socar muito a cara da Ana. Com a Cacau que a Adelia dizia gostar, vivia intrigando Cacau com Matheus, colocando ciúmes onde não existia. A Ana Paula avisou a Cacau várias vezes para não ir na conversa da Adélia e da Juliana que eram muito ciumentas, mas Cacau preferiu acreditar na Adélia.
Dois participantes tiveram pouca personalidade, Cacau e Renan, dá pra incluir Matheus também. Cacau gostava da Ana Paula, mas como estava no quarto amarelo que não gostava da Ana Paula, resolveu se afastar. Era a minha preferida ao prêmio no começo e passou a me incomodar muito. Cacau inclusive estragou a final. Agradeceu ene vezes ao público eu não sei porque já que nunca foi a um único paredão. Ela chorava falso sem lágrima, fazia joguinho para manipular o Matheus, mas ele só ficou sabendo quando saiu. E acho que ela acreditava nos personagens que inventava. Morria de ciúmes do Matheus, mas se atirou nos braços do ator que apareceu para confundir os participantes. Também vivia se insinuando para o Ronan e indo na cama dele no meio das festas. Vivia criticando a Munik que nunca deu em cima do Matheus, mas ficou de conchinha com Laham, mesmo o Laham estando de conchinha com a Munik, Cacau disse inclusive para Munik que era Laham que ia atrás dela e só como amigo, mas agarrou Laham na piscina. Cacau tinha roupas muito bacanas, tinha sutiãs coloridos como usam hoje aparecendo nas roupas. Bastou a Adelia dizer que era feio Cacau nunca mais usou. No final Ronan perguntou se ela só tinha aquele sutiã sem alça, ela disse que o que a Munik deu apertava. Bastou Ronan questionar ela voltou a usar sutiã de alças. Sem personalidade alguma. Renan não foi diferente. Pensava em ficar com a Munik, abraçava, cafungava no pescoço, mas fugia. Tamiel disse logo no começo que as mulheres aqui fora iam gostar de um homem que resistia por ter alguém aqui fora. E Renan seguiu a risca a ordem de um desconhecido, mesmo querendo ficar com Munik. Aí Juliana foi mais ousada, e ele ficou de conchinha, fez carinho nas coxas, cafungou no pescoço. Mas dizia pra todos que nunca ficou com ninguém que não traiu alguém aqui fora. Típico de homem machista, se não há beijo não há traição. No último dia mostraram os vários beijos em Munik. Renam mesmo contou ao Matheus que beijou Munik mas pediu pra não contar a ninguém Renan e Matheus sempre acharam que no quarto do líder ninguém ouvia, que durante o dia ninguém via. Inclusive Renam dizia direto que é modelo internacional e o público aqui fora não perdoou. Acharam catálogos da Avon com ele de modelo, encartes de lojas populares com ele de modelo e inclusive uma participação como modelo no programa do Rodrigo Faro há um tempinho. Qualquer trabalho é digno, mas ele nunca admitiu na casa que fazia trabalhos mais simples, mais populares, sempre era arrogante.
Várias artimanhas nos divertiram aqui fora. Logo no início quatro participantes foram nesse quarto superior, sem os outros saberem, para serem escolhidos. Todos desceram na casa, ficaram uns dias, mas foram escolhidos Geralda e Matheus. Adorei a Geralda, divertida, desbocada. Ficava quieta nas festas até as músicas que adorava. Reclamou que não ganhou nenhuma roupa da produção. Em geral a produção dá roupas aos participantes. Podiam dar a Geralda alguns vestidos que ela adorou das festas, e alguns sapatos também. Esse quarto que Ana Paula ficou, Renam foi levado uma fez, teve festas, presente do anjo. Gostei bastante desses cômodos mutáveis nesse BBB16.
Foi divertida também a entrada de Laham na casa. Ator, ele entrou como se fosse um participante do BBB do Líbano. Dava em cima de todos, inclusive Matheus, mas ficou mesmo com Munik. Espero que eles se conheçam melhor aqui fora, ele parece um bom rapaz.
Ana Paula foi a campeã, mas gostei que Munik ganhou. Já que não tinha jeito da Ana Paula ser a vencedora do 1,5 milhão que pelo menos fosse alguém que a Ana Paula gostava e alguém de personalidade, que não fazia média. Assumia seus erros, ria deles, minhas amigas gostavam porque Munik percebia as artimanhas, as falsidades, as armações. Foi inclusive Munik que no começo foi envolvida em um complô e contou tudo antes escancarando tudo e desmontando as armações da macholândia. Que Munik aproveite bem o que ganhou e que Ana Paula seja muito feliz. Inclusive gostei dela como repórter no VídeoShow, mas não gostei dela só entrevistar os barraqueiros. Inclusive Otaviano Costa sempre acreditou em tudo o que ouviu da Ana Paula sem assistir e julgou a menina. Eu prefiro bem mais a forma respeitosa como a Ana Maria e o Bial tratam todos os participantes, sem julgá-los, ainda mais quando o apresentador não assistiu nada. É fundamental assistir para avaliar melhor. E não só um dia ou outro na tv aberta, nas edições, é preciso ver o Pay Per View, ver os vídeos que dessa vez estavam todos disponíveis na internet, ler várias matérias, para avaliar melhor.
Assisti a peça Fora do Mundo de Analy Alvarez no Teatro Sérgio Cardoso. É com a maravilhosa Miriam Mehler que está mais maravilhosa ainda como Dona Yayá no espetáculo. Eu já tinha ouvido falar da Dona Yayá, já que há a Casa da Dona Yayá onde tem vários espetáculos de música. Mas nunca fui. Achava que tinha sido uma grande e rica mulher de São Paulo.
Mas aí fiquei chocada. Sim, era uma riquíssima mulher da cidade de São Paulo, mas foi incapacitada aos 32 anos e encarcerada em um quarto com grandes e janelas para outro cômodo até os 74 anos. De nome D. Sebastiana de Mello Freire, mas só a chamavam de Yayá. Tudo indica que era esquizofrênica. E era na época que as pessoas internavam em manicômios. Primeiro ela foi internada, ela conta que no lugar pegou hepatite e problema nos rins. Levaram então a essa casa e lá a encarceram. Teve então tutores. Yayá perdeu seus pais na adolescência e seu irmão logo depois. Ficou sozinha. Não queria casar, achava e provavelmente com razão que só queria o dinheiro dela. Ouvia vozes, mas encarcerar alguém porque de vez em quando tinha crises é surreal demais. Muito cômodo não levá-la para passear, não receber visitas, mas desfrutar do dinheiro alheio. Muito triste. Yayá jovem é interpretada pela Mariana Blanski.
É um elenco grande já que a peça conta a história de Yayá, fragmentos, o que a autora conseguiu levantar. Vários atores fazem os personagens. Há a freira da adolescência, o irmão que morreu. Primos que queriam ser tutores. Yayá era madrinha de Rosa que cuidou dela até a morte, inclusive Rosa anulou a sua vida pessoal para cuidar da tia. Ela é interpretada por Mara Faustino e na juventude por Vivi Gonçalves. Albuquerque Lins acabou sendo um dos tutores de Yayá. Médico, desejava que seu filho casasse com Yayá antes dela apresentar os sintomas da doença. Albuquerque Lins foi interpretado por Wagner Vaz. Outros do elenco são: Antonio Natal, Fernanda Oliveira, Vinícius Calmari,Cibele Troyano e Rafael Mota. Fora do Mundo foi contemplado com o Prêmio Zé Renato. Recentemente tenho visto várias e ótimas peças contempladas por esse prêmio. Fora do Mundo fica em curta temporada até 24 de abril.
Assisti O Vendedor de Passados (2015) de Lula Buarque de Holanda no TelecinePlay. Impressionante! Maravilhoso! Amei! O filme é livremente inspirado no livro do angolano José Eduardo Agualusa que agora quero muito ler. Devem ter muitas características diferentes, quero ver as vertentes do escritor. Sensacional! Eu queria muito ter visto nos cinemas, cheguei até ver onde passava e sessões, mas não consegui. O personagem do Lázaro Ramos vende passados. Ele vive confortavelmente do seu trabalho.
Vou falar detalhes do filme, é bom descobrir assistindo: Ele tem muito trabalho e muitas solicitações. Logo no começo entendemos o trabalho porque o protagonista mostra a uma interessada um CD fake e parece muito interessante. Uma mulher pede um passado, uma infância como menina. Ela nasceu menino, mas quer lembranças de menina. Outro cliente era obeso, fez cirurgia de redução estômago, várias cirurgias, quer um passado como magro. Ele é interpretado por Anderson Müller. Esse já começa a mostrar as distorções do trabalho do protagonista e os exageros, as invenções do passado para enganar as pessoas. Surge então a personagem da Alinne Moraes. Ela não fala quem é, pede um passado. O protagonista insiste que para fazer um passado precisa de informações concretas, não dá pra criar do nada. Ela volta várias vezes, insiste e diz que ela terá que ter no passado cometido um assassinato. Ele diz que isso é muito incomum, as pessoas querem um passado sem crimes, apagar um crime, não o contrário. Instigado por essa mulher começa a preparar o passado dela. São muitas reviravoltas, é incrível.
Quem circunda esse protagonista também não é muito ético. O médico vive indicando pacientes, o obeso foi ele inclusive, e ainda faz confissões para o protagonista de segredos de consultório. Ele é interpretado pelo Odilon Wagner. Ele vai casar com a personagem da linda Mayana Veiga.
Adorei a construção dos passados. O personagem vai em lojas de antiguidades, compra objetos para que sejam do passado de alguém. Fascinante a senhora que coleciona álbuns de fotografias antigos e foi interpretado pela maravilhosa Ruth de Souza, não achei nenhuma foto no filme para mostrar. O protagonista compra em uma loja de antiguidades cartas de amor entre um casal. Essa parte da garimpagem de objetos me fascinou demais. O protagonista passou a imaginar passados começando pelo seu. Ele foi adotado por um casal. O pai era repórter de TV, interpretado por Marcello Escorel, e fazia matérias sensacionalistas, o filho tem as fitas de VHS do tempo que o pai era vivo. Volte e meia o filho atribuía a essas matérias a sua história. O filho aborrece a mãe para contar a verdade e ela pega uma outra fita e diz que aquela é a história dele, mas ficamos na dúvida se não é mais uma mentira. A mãe é interpretada pela Débora Olivieri. Gostei muito também do filme nos confundir o tempo todo.
Assisti a participação da Comissão Nacional da Verdade no Café Filosófico na TV Cultura. O Café Filosófico é uma realização da CPFL Cultura. Sempre traz profissionais para debaterem sobre temas. Eu volte e meia vejo algum, trechos de outros, já vi um inclusive participando na plateia. Faz tempo que acompanho o trabalho da Comissão Nacional da Verdade que busca esclarecer fatos obscuros do período da Ditadura Militar.
Participaram Maria Rita Kehl e Pedro Dallari. Maria Rita é psicanalista. Pedro é advogado. Então uma falou do aspecto psicológico da ditadura e seus reflexos e o outro sobre os aspectos jurídicos. Maria Rita disse que após a ditadura, o sistema fazia de tudo para o familiar desistir da busca pelo desaparecido. E Maria Rita perguntou, como se diz a uma mãe para parar de procurar pelo seu filho? Eles lembraram do Araguaia. No Araguaia pessoas se uniam para a luta armada que nunca aconteceu. Quando os militares foram procurar essas pessoas, eles eram conhecidos por paulistas, porque eram muito brancos. E no Araguaia gostavam muito deles, porque eles ajudavam a comunidade. Os dois falaram dos riscos que existem em esconder os fatos desse período, porque isso pode permitir a volta de abusos.
Pedro mostrou a semelhança entre o caso do Rubens Paiva e o do Amarildo. Os dois foram levados para depor, torturados, assassinados e desaparecidos. Um pela ditadura e outro pela polícia. Pedro disse que até 1964 era a polícia que praticava a tortura. Que os militares só passaram a fazê-lo na Ditadura Militar. Que até hoje é altíssimo o número de policiais que praticam crimes em nome do estado no Brasil. Eles relataram um trabalho da comissão que era levar os torturados de volta aos locais do estado onde foram torturados. Os militares acompanhavam e ouviam os relatos. Pedro falou o quanto impressionou o fato dos torturados não terem raiva. Eles só relatavam. Maria Rita disse que talvez a raiva voltasse em casa depois, mas naquele momento os torturados queriam contar com a maior veracidade as suas histórias, pelo compromisso da história e que por isso focavam nos relatos, mesmo com os militares perto. Acho fundamental esse trabalho, eram idosos, de cabelos brancos, contando suas histórias para jovens militares, em uma tentativa de humanização e provocação de vergonha para que fatos como esse nunca mais ocorram. Pedro lembrou que esses atos de barbáries foram realizados em instituições de estado, com o dinheiro dos contribuintes. Quando o dever do estado é proteger o cidadão.
Uma amiga levantou os números mencionados no programa e são estarrecedores:
-
80 militantes no Araguaia, somente 2 corpos foram encontrados.
- cerca de 20.000 pessoas foram torturadas, sem contar com os camponeses e
índios;
- 379 mortos e desaparecidos.
Maria Rita Kehl falou muito dos índios que não foram contabilizados. Primeiro o Café Filosófico grava com os convidados e plateia, depois editam o programa para a TV Cultura. Então no programa mostraram trechos do filme Serras da Desordem que mostra parte do que aconteceu com os índios. A atriz Cássia Linhares também lê trechos e dá contextualizações históricas. Esse programa é excelente.