Terminei de ler
Neve (2002) de
Orhan Pamuk pela
Companhia das Letras. Comprei esse livro há um tempo no site
Submarino. Não comprei quando a editora publicou no Brasil, esperei entrar em oferta um tempo depois e consegui um bom preço. É simplesmente surpreendente! Compreendo agora porque o autor ganhou o
Prêmio Nobel de Literatura em 2006. Fiquei tão chocada com o livro que não conseguia fazer mais nada depois que terminei a leitura. Também, desde que comecei a ler
Neve, não queria saber de fazer outra coisa a devorar suas páginas avidamente.
Obra
Yaghboya de
Fikret Otyam
Neve é muito complexo. Um ex-morador da cidade fictícia turca de Kars resolve voltar a cidade natal para fazer uma matérias sobre jovens suicidas e sobre as eleições. Pamuk utiliza um recurso muito comum na literatura, seu protagonista não é claro em suas convicções, em todas as entrevistas de todas as vertentes religiosas, ele se confunde. Se dizia ateu, mas evoca Deus. Com essa confusão de pensamentos e sentimentos ele entra a fundo em cada teoria religiosa e política da Turquia. Fica claro que aquele país não aceita o ateu, e que ele se declarar ateu poderá ser morto por grupos extremistas.
Obra de Turgut Atalay
As religiões são utilizadas como manobras políticas, não de fé. Então a população fica sujeita as imposições políticas de sua fé. As jovens suicidas ficam sem opção. Elas são proibidas de ir a escola com o rosto coberto, só poderão voltar a escola se descobrirem as suas cabeças. Elas escolhem então não ir mais a escola. Então decidem forçá-las a tirar o véu, ameaçando acabar com os negócios do pai, destruir a família financeiramente. E entre tirar o véu e se matar, elas escolhem o suicídio. Ou outra que é obrigada a casar com um ancião. Mas todos só tem preconceito com o crime do suicídio que elas cometem e falam que nada é verdade, elas que realmente não tinham fé. Não vêem com maldade as ações que fazem e culpam as jovens de seus atos. Uma sociedade muito machista, com pouco respeito as mulheres e suas crenças.
Obra de
Esti Saul
Neve também mostra a complexidade de credos e religiões. A agressividade que existe entre as facções, na maioria clandestinas, e o quanto colocam a culpa para manter o poder de ações terroristas. É um livro complexo, difícil. E nosso protagonista é irritante. Ele é egoísta, sem personalidade, não pensa no próximo, a não ser em seus interesses. É difícil aturá-lo até o fim do livro. Neve é absolutamente incrível, fiquei impressionada com o estilo de narrativa de Orhan Pamuk, com a ficção que permeia tanta realidade. Obra de arte!
Obra de İsmail Acar
Anotei alguns trechos de Neve de Orhan Pamuk para que tenham idéia da complexidade da obra e seus pensamentos:
“O silêncio da neve, pensou o homem que estava sentado logo atrás do motorista de ônibus. Se aquilo fosse o começo de um poema, poderia chamar o que sentia em seu íntimo de o silêncio da neve.”
“Era um poeta e, como ele próprio escrevera – num de seus primeiros poemas, ainda desconhecido dos turcos -, neva apenas uma vez em nossos sonhos.”
“Mas me parece que você não poderia ser de fato ateu, porque é uma pessoa boa.”
“Se Deus não existe, isso significa que o céu também não existe. E isso significa que os pobres do mundo, esses milhões que vivem na pobreza e na opressão, nunca irão para o céu. E se é assim, então como você explica todo o sofrimento dos pobres? Para que estamos aqui, e por que temos de suportar tanto sofrimento, se é tudo em vão?”
“Ele sentiu o mesmo tipo de culpa e vergonha que sentia quando jovem, ao sair de reuniões políticas. Aquelas reuniões políticas o perturbavam não apenas porque ele era um rapaz de alta classe média, mas também porque as discussões eram cheias de atitudes infantis e exageros.”
Todas as telas são de pintores turcos recentes como a obra do post. Tive uma grande dificuldade de localizar pintores turcos e suas obras.
Música do post: Gökhan Kırdar Yeni Ay Anlat Istanbul
Beijos,
Pedrita