Assisti O Conto dos Contos (2015) de Matteo Garrone no Telecine Cult. Eu vi em um jornal impresso sobre esse filme, mas tava vendo o jornal em um dia atrasado e já tinha ido ao ar. Fui na busca, agendei, passa ou passava uma vez por mês em horários estranhos e pouco vistos. No dia que agendei a gravação foi mudado de horário e não gravou nada. Procurei de novo e uns dias depois ia de verdade passar e finalmente gravei. Mas a gravação ficou quicando, pipocando. Procurei na busca, não aparecia de novo pra exibir, então resolvi ver assim mesmo.
É um filme italiano baseada na história de Giambattista Basile com várias histórias macabras de reis e rainhas pra lá de egoístas e voluntariosos. As tramas aparecem entrecortadas e misturadas. A primeira história a rainha quer porque quer um filho e não consegue. O marido segue orientações de um homem, morre para conseguir que a oferenda seja realizada. Só que nascem dois garotos idênticos, um pobre e outro filho da rainha que não se desgrudam para a ira da rainha. A rainha é interpretada pela Salma Hayek, o rei por John C. Reilly, os meninos pelos gêmeos Jonah e Christian Lees.
Na outra história o rei promíscuo se apaixona pelo canto de uma mulher. Elas são duas velhas e resolvem enganá-lo. Ele é interpretado por Vincent Cassel e elas por Hayley Carmichael, Shirley Henderson e Stace Martin.
Todas as histórias são pavorosas, revoltantes e incômodas. Repletas e violência e maldade. Em outra trama um rei fica obcecado por uma pulga e esquece da filha em idade pra casar. Ela é interpretada por Bebe Cave, o pai por Toby Jones e o ogro por Guillaume Delaunay.
Assisti Não Devore Meu Coração (2017) de Felipe Bragança no Canal Brasil. Cauã Reymond interpreta um motociclista. Ele vive com a mãe e o irmão na fronteira do Brasil com o Paraguai. Ninguém na cidade parece fazer nada pra sobreviver. Cauã vive em uma gangue de moto participando de competições com rivais paraguaios.
O irmão mais novo se apaixona por uma índia paraguaia muito linda Adeli Gonzales. O menino é interpretado por Eduardo Macedo. A mãe, Cláudia Assunção, parece que só dorme e toma remédios. Está assim desde que se separou do pai deles. O rio separa o Brasil do Paraguai. .
É apaixonada pelo irmão a bela Zahy Guajajara. O pai, Leopoldo Pacheco, é um fazendeiro rico que lida com os conflitos de terras à bala, por isso os dois jovens são hostilizados na pequena comunidade. O capataz que não protege ninguém é interpretado por Ney Matogrosso. Na trilha sonora tem a obra de Carlos Gomes.
Terminei de ler A Distância entre Nós (2006) de Thrity Umrigarda Coleção Folha Mulheres na Literatura. Eu paguei R$ 19,90 na banca, mas não posso sugerir que comprem na Livraria da Folha porque ela não existe mais. O livro já foi publicado por outra editora, mas atualmente só é achado em sebo. Que livro difícil e triste, como foi duro continuar a ler diante de tanta infelicidade.
A autora é indiana, a realidade das mulheres na Índia beira o insuportável, mas acho que o pior foi a semelhança com as violências às mulheres no Brasil. O livro conta duas histórias de mulheres, a patroa e a empregada, mas não pense você que a patroa tem só privilégios e a outra as durezas da vida. As duas tem vidas pavorosas repletas de violência física, emocional, financeira, com muito desrespeito, intolerância, manipulação e maldade.
Obra de Hema Upadhway
Nós já ouvimos falar da divisão de castas na Índia, hoje em dia não é tão acentuado como ouvimos, mas ainda é cultural. A empregada acha que é amiga da patroa, elas sentam juntas diariamente para tomar o chá e conversar, uma no chão com seus próprios pertences, não pode usar as louças do patrão porque é de outra casta e a outra na cadeira. Apesar dessa diferença, não é muito diverso do Brasil. No Brasil as pessoas que trabalham em serviços domésticos em residências ficam em pé, quanto os patrões ficam sentados. Os funcionários não podem sentar a mesa, no máximo em alguma mesa específica para funcionários. Sofá, cadeiras da sala, dos quartos, nem pensar. Só se estiver cuidando de algum idoso.
Obra de Mamata Banerjee
O livro me lembrou sempre uma frase muito usada também no Brasil: "como se fosse da família". Essa frase é na verdade uma grande armadilha, é como se fosse da família quando convém, quando obedece, quando faz o que queremos, mas basta uma única suspeita, deixa de ser da família para sempre, sem nunca ter sido efetivamente. Não é diferente com a obra. Achamos porque são da família até porque usam nossas roupas usadas, aquelas que íamos jogar fora ou dar para algum outro pobre. Dar presentes novos, ah, nem pensar, dar o que não quer mais e acha que isso é presente, é generosidade. Sim, por que não doar o que não quer mais? Mas achar que doar algo que não quer é o máximo que pode fazer a alguém em "como se fosse da família", essa pessoa não é da família. Familiares ganham presentes novos, não o que não queremos mais.
Obra de Godawari Dutta
O livro é todo entrecortado no tempo, com muitas idas e vindas e a história vai tragicamente e insuportavelmente se contando. A vida das duas mulheres é insuportável. O machismo as assolam, devoram, destroem corpos, dignidade. O livro começa com cada uma tendo uma grávida em casa. Uma é a neta que está esperando um filho e a outra a filha. Uma precisa abortar pra tentar retomar a faculdade e ter outro destino e a outra é casada. Aos poucos vamos conhecendo a história da avó e da esposa. Trágicas histórias repletas de violência doméstica, miséria e desrespeito. Livro dificílimo.