domingo, 17 de fevereiro de 2019

A Distância entre Nós de Thrity Umrigar

Terminei de ler A Distância entre Nós (2006) de Thrity Umrigar da Coleção Folha Mulheres na Literatura. Eu paguei R$ 19,90 na banca, mas não posso sugerir que comprem na Livraria da Folha porque ela não existe mais. O livro já foi publicado por outra editora, mas atualmente só é achado em sebo. Que livro difícil e triste, como foi duro continuar a ler diante de tanta infelicidade. 


A autora é indiana, a realidade das mulheres na Índia beira o insuportável, mas acho que o pior foi a semelhança com as violências às mulheres no Brasil. O livro conta duas histórias de mulheres, a patroa e a empregada, mas não pense você que a patroa tem só privilégios e a outra as durezas da vida. As duas tem vidas pavorosas repletas de violência física, emocional, financeira, com muito desrespeito, intolerância, manipulação e maldade.

Obra de Hema Upadhway

Nós já ouvimos falar da divisão de castas na Índia, hoje em dia não é tão acentuado como ouvimos, mas ainda é cultural. A empregada acha que é amiga da patroa, elas sentam juntas diariamente para tomar o chá e conversar, uma no chão com seus próprios pertences, não pode usar as louças do patrão porque é de outra casta e a outra na cadeira. Apesar dessa diferença, não é muito diverso do Brasil. No Brasil as pessoas que trabalham em serviços domésticos em residências ficam em pé, quanto os patrões ficam sentados. Os funcionários não podem sentar a mesa, no máximo em alguma mesa específica para funcionários. Sofá, cadeiras da sala, dos quartos, nem pensar. Só se estiver cuidando de algum idoso.

Obra de Mamata Banerjee

O livro me lembrou sempre uma frase muito usada também no Brasil: "como se fosse da família". Essa frase é na verdade uma grande armadilha, é como se fosse da família quando convém, quando obedece, quando faz o que queremos, mas basta uma única suspeita, deixa de ser da família para sempre, sem nunca ter sido efetivamente. Não é diferente com a obra. Achamos porque são da família até porque usam nossas roupas usadas, aquelas que íamos jogar fora ou dar para algum outro pobre. Dar presentes novos, ah, nem pensar, dar o que não quer mais e acha que isso é presente, é generosidade. Sim, por que não doar o que não quer mais? Mas achar que doar algo que não quer é o máximo que pode fazer a alguém em "como se fosse da família", essa pessoa não é da família. Familiares ganham presentes novos, não o que não queremos mais.

Obra de Godawari Dutta

O livro é todo entrecortado no tempo, com muitas idas e vindas e a história vai tragicamente e insuportavelmente se contando. A vida das duas mulheres é insuportável. O machismo as assolam, devoram, destroem corpos, dignidade. O livro começa com cada uma tendo uma grávida em casa. Uma é a neta que está esperando um filho e a outra a filha. Uma precisa abortar pra tentar retomar a faculdade e ter outro destino e a outra é casada. Aos poucos vamos conhecendo a história da avó e da esposa. Trágicas histórias repletas de violência doméstica, miséria e desrespeito. Livro dificílimo.
Beijos,
Pedrita

12 comentários:

  1. Li-o há ano e meio, falei dele aqui. Elegantemente bem escrito mas não achei grandes rasgos literários, ao contrário da estória que diz de forma delicada coisas muito duras da realidade social que separa estratos de castas na Índia.
    https://geocrusoe.blogspot.com/2017/08/bombaim-um-mundo-de-distancia-de-thrity.html

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    1. carlos, a tradução que li era muito boa, gostei muito da qualidade do texto e da construção entrecortada da trama, inteligente e pouco convencional. não achei nada delicado, achei um livro trágico sobre uma realidade insuportável, parecidíssima com o brasil.

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  2. Essa separação por castas é terrível de se entender e aceitar para nós ocidentais.
    Mas as comparações que vc faz com as serviçais daqui chega a ser cruel.
    E na minha opinião, não existem e nem acredito que aconteça.
    Nos meus muitos anos de vida nunca, nunca mesmo, vi isso.

    Estou toda enrolada com Versailles.
    Os personagens até me confundem.
    Mas quero vê.

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    1. liliane, na índia a divisão de castas é clara, no brasil é econômica e velada. já fui em muitas casas onde os funcionários não sentam, só em lugares específicos para serviçais. achei parecidíssimo com a índia. sim, em versailles tem alguns personagens muito parecidos. me confundia tb.

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  3. Olá, tudo bem? Neste sábado, assisti Vice. Olha... Eu fico incomodado com a constante representação de republicanos vilões e democratas bonzinhos. Isso é uma constante. Ñ curti esse filme. Vitimizaram o ditador iraquiano Saddam Hussein... Complicado...Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  4. Já tinha lido sobre este livro. Cheguei a pensar em comprá-lo. Porém, no momento estou meio que saturada dessas coisas, estou tomando um respiro. Mas devo chegar a ele, com certeza.
    Bom dia e boa semana!

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    1. marly, esse livro é muito diferente em várias questões, principalmente na trama. além de um belo estilo, mas nao é um livro fácil. talvez seja melhor aguardar pra adquiri-lo.

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  5. Esse tipo de obra não me atrai muito.
    big beijos
    www.luluonthesky.com

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  6. Talvez exatamente por não ser um livro fácil deve ser uma leitura interessante e necessária.
    Fiquei curiosa e já favoritei a indicação.
    Bjs Luli

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    1. luli, eu gosto muito de conhecer a cultura de outros países.

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Cultura é vida!