Começa mostrando a vida de um casal católico (Mevil Poupaud e Aurélia Petit) e seus cinco filhos. A narração lê a carta que o homem escreve para a igreja. Ele descobre que um padre (Bernard Verley e Yves-Marie Bastien) que achava afastado está em Lyon, como os filhos vão a igreja, estudam pra crisma, ele não quer o padre perto dos filhos dele já que ele foi abusado aos 11 anos mais de uma vez por esse padre. Ele escreve para a igreja, para um padre que diz que é contrário a pedofilia na igreja. Mas o que esse homem acaba vendo é que a igreja só quer uma conversa com os dois, o homem que foi abusado na infância e o padre pedófilo. O pedófilo nem pede perdão, diz que é assim mesmo, assume que fez, que é pedófilo. O homem continua pedindo uma posição da igreja até que vai a uma missa com a família e lá está o padre pedófilo rezando aquela missa com várias crianças de coroinhas. Revoltado esse homem leva a denúncia a polícia, mesmo que o crime já tenha prescrevido. Eu acho admirável pessoas que mesmo após horrores praticados por uma religião continuem naquela fé. Irmã Dulce é outra que admirei ou me revoltei que não abandonou a igreja após os absurdos que fizeram com ela por não concordarem a forma como ela queria efetivamente ajudar os pobres. Hoje em dia igreja católica enche o peito vangloriando-se da Irmã Dulce, mas queriam a todo custo afastá-la enquanto era viva. Quanta hipocrisia!
Eu fiquei me perguntando porque o filme teria tanto tempo de duração, mas a resposta acontece logo. Com a denúncia daquele homem, o caso é novamente aberto. Como sempre surgiam denúncias, o caso estava arquivado. Como abriu o caso novamente, outros que denunciaram voltaram a ser procurados. O primeiro é um ateu (Denis Ménochet). Ele, no primeiro momento, acha que o assunto está encerrado, não quer reabrir o caso. Está casado, passou muito tempo. Mas com a esposa (Julie Duclos), ele descobre pela internet, que o padre não só continua atuando, mas com crianças. Há várias fotos na internet dele mais velho com crianças. Revoltado, ele começa a procurar outros que denunciaram e formam uma associação. Além da investigação policial, ele vai a imprensa mesmo advogados e delegados insistirem que atrapalharia o caso. Ele acha que não, que todos devem saber, que é uma questão de informação, concordo completamente com ele. O silêncio em casos de abusos é devastador. Inclusive acabo de ler que o padre denunciado nesse filme tentou adiar a estreia, monstro.
É com a denúncia de um homem (Swann Arlaud) que aparece que tudo ganha completamente outros contornos, o que era abominável com todos os outros, consegue ficar insuportavelmente pior. Ele foi abusado pelo padre por anos. A forma como o padre o masturbava deformou o pênis dele. Pelo vício, crianças se viciam em comportamentos sexuais antes da hora, ele se masturbava da mesma forma. Na vida adulta, mesmo após inúmeros tratamentos, terapia, e todo o tipo de acompanhamento, ele nunca conseguiu se aprumar. Usava drogas, não tinha trabalho, tinha um casamento abusivo, problemas sexuais pela curvatura enorme no pênis. É a hora que a compreensão da gravidade fica mais clara para quem ainda estivesse cego e achando que já tinha passado, que eles tinham refeito suas vidas, vários estão bem de vida, casados, com filhos. Alguns perguntavam, principalmente familiares, para que remexer em algo tão antigo. A questão é que o padre continuava rodeados de crianças e a igreja não fazia nada. Essa associação passa a culpar a omissão da igreja. Além das denúncias na polícia, muitos como o primeiro que aparece contaram em detalhes para padres que cuidavam da questão da pedofilia na igreja. Inclusive a igreja tenta mudar o nome desses abusos para minimizar a gravidade. Com as matérias na imprensa, a investigação, esse padre foi finalmente afastado, mas nunca julgado e nunca foi preso. Absurdo. Essa associação é L´Enfant Bleu Lyon e está nesse site.
Beijos,
Pedrita