Assisti A Quiet Passion (2016) de Terence Davies no Arte 1. Eu vi que era um filme de época e coloquei pra gravar. É uma coprodução entre Inglaterra, Bélgica, Estados Unidos e Canadá. Só depois que descobri que é a história da grande poeta Emily Dickinson. Que vida rica, repleta, em um microcosmo.
O filme começa com ela estudando em um colégio de freiras e se recusando a declarar a sua fé. Os pais e irmãos vão buscá-la. Sua família era muito religiosa, unida e acolhedora. Ela viveu praticamente na casa. Apesar de sua família ser tradicional e religiosa, eles tinham senso crítico. Ela e sua irmã tinham visões bastante avançadas para a época.
Em vida Emily Dickison só publicou 11 poemas, alguns anonimamente, como era costume na época. Mulheres nem sempre apareciam e eram duramente criticadas, principalmente suas obras. Não acho que tenha mudado muito.
O filme é de uma beleza estética avassaladora. Consegue passar a vida calma, mas rica, da poeta. Apesar dela viver em família e com pouco contato externo, conseguiu ter a profundidade para transformar em versos os dilemas do existir. A frente do seu tempo, olhava as relações de modo particular. Belíssimo filme! Lindíssima fotografia! Cynthia Nixon está incrível como a Dickinson. Na primeira fase a interpretação é de Emma Bell. Alguns outros do elenco são Keith Carradine, Duncan Duff, Joanna Bacon, Jennifer Ehle, Miles Richardson
Assisti a entrevista de Pelé, Aníbal Marques na série Protagonistas Invisíveis no Arte 1. Eu tenho acompanhado a criação desse programa pelas redes sociais. Eles vão entrevistar técnicos do teatro de várias áreas. Agora começam a ser disponibilizados no Arte 1, todo domingo, com reprises pela semana.
O primeiro episódio foi com o Pelé, Aníbal Marques, grande cenotécnico. A gravação foi realizada durante a montagem da ópera Rigoletto, no Theatro Municipal de São Paulo, que comentei aqui. Pelé contou que chegou ao Theatro Municipal pelo seu pai, ainda adolescente, e foi se inteirando de várias profissões mas que se identificou mesmo com o cenotécnico, que tudo acontece se essa área funcionar plenamente, é de vital importância para cada espetáculo. O apelido veio porque ele era muito jovem, ágil, e estava em todos os lugares. Como foi na montagem da ópera, o diretor cênico Jorge Takla falou de Pelé, elogiando-o. O cenotécnico destacou vários outros profissionais que foram importantes em sua trajetória como Antunes Filho e Cyro Del Nero. Ele contou que esteve em uma turnê com a Rita Lee, que os cenários eram enormes de madeira, que era uma dificuldade a montagem, desmontagem, a viagem, e que eles foram pra inúmeros lugares em todo o país.
Todo domingo um técnico estará nos Protagonistas Invisíveis.
Assisti Cenas de um Casamento (1973) de Ingmar Bergman no Arte 1. Esse filme é da série "todo mundo viu menos eu". Sempre quis ver, mas minha curiosidade maior era com as outras obras do autor. Antes de começar, há comentário no Arte 1 sobre o filme com Flavia Guerra que fala que foi uma série que popularizou o diretor. Que muita gente ligava dizendo que iria divorciar-se.
Começa com o casal dando uma entrevista. Eles comemoram 10 anos de casamento. Falam com carinho um do outro, das profissões dos dois. Ela é advogada, cuida de direito familiar, principalmente de divórcio. Depois segue para um jantar com um casal de amigos, para lerem a matéria. Esse casal de amigos está muito mal afetivamente. Se agridem verbalmente inúmeras vezes, constrangendo os amigos e estragando o jantar. Estão naquela fase pavorosa de o tempo todo desqualificar publicamente o outro. O casal o tempo todo está maltratando verbalmente o outro.
Em outro episódio o marido conta a esposa que se apaixonou por outra, uma jovenzinha. E que eles vão para Paris. São tristes demais as conversas, a dificuldade que eles tem de se desligar. É bonito como perdura o afeto. Eles tem algumas brigas pavorosas. Achei que nunca mais se veriam. Mas a união é tanta, que o laço perdura anos depois. Mas eles nunca voltam, uma pena. Os dois são interpretados magistralmente por Liv Ullmann e Erland Josephson. Como ela é linda. São praticamente os dois. Outros aparecem muito pouco. A maior parte do tempo e das cenas só os dois. Gostei como os figurinos vão mudando. Não só pela passagem do tempo, mas como ela vai se desvencilhando e se libertando do papel de esposa. Os diálogos são incríveis, maduros em muitos momentos. Me assustou o machismo do marido em não ver as filhas. Ele diz que a atual esposa proíbe e ele passa anos sem vê-las. Como se não fossem mais dele. Como é atual essa questão. O filme todo é muito atual, os diálogos. Muito bom!
Assisti o Hagen Quartet com o Zürcher Ballet (2012) de Heinz Spoerli no Arte 1. Enquanto o quarteto toca, o balé se apresenta. Que beleza!
O Hagen Quartet é formado por Lukas Hagen e Rainer Schmidt nos violinos, Veronika Hagen, na viola e Clemens Hagen no violoncelo. O quarteto toca no fosso e os músicos dançam no palco. Foram três obras para quartetos com três balés. O concerto foi gravado no famoso Festival de Salzburg.
As músicas eram lindas e de compositores que adoro. Leoš Janáček: String Quartet No. 2, “Intimate Letters” e Antonín Dvořák: String Quartet in F major, Op. 96, “American”. Dvořák está entre os meus compositores favoritos.
O grupo terminou com a Morte a Donzela de Schubert: Franz Schubert: String Quartet in D minor, D. 810, “Death and the Maiden”. Eu sou fascinada por essa obra e a coreografia era lindíssima. Me surpreendo sempre com a leveza dos bailarinos. parecem que flutuam, que nem fazem esforço para dançar, o que é só uma grande ilusão. Esse concerto que vi tem em DVD pra comprar.
Hoje a Lulu do blog Lulu on the Sky publicou uma entrevista que fez comigo. Nós somos amigas de blog há muitos anos. Muito obrigada Lulu pelo convite.
Assisti Os Primos (1959) de Claude Chabrol no Arte 1. Eu adoro esse diretor, mas nunca tinha visto um filme bem antigo dele, só os mais recentes. Os diálogos são de Paul Gegaúff. Os Primos é bem indigesto. Um primo vai a Paris, o outro é um bon vivant. Os dois vão prestar concurso para Sourbonne.
Em vez do primo levar o outro para conhecer lindos lugares em Paris, ele leva em um muquifo, cheirando a muito cigarro, jogos e mulheres. A forma como o filme e os homens tratam as mulheres é insuportável. Elas são objetos nas mãos deles. Na época do sexo livre, elas se relacionam com vários homens, mas são maltratadas por isso. E não era porque eram mulheres desse época, afinal Virgínia Woolf e Simone de Beauvoir já tinha lançado vários livros e não eram submissas.
Uma engravida, o bon vivant e outro homem, dão dinheiro a mulher para ela resolver o problema e ainda a humilham dizendo que ela sai com vários homens. O mais estranho é que as mulheres do filme são submissas. O estudioso está apaixonado por uma moça, esses mesmos homens horrorosos convencem ela que o melhor é ficar com o bon vivant. O primo bon vivant é invejoso, quer tudo do estudioso.
O desfecho é muito dramático. Filme indigesto. Os Primos são interpretados por Gérard Blain e Jean-Claude Brialy. Alguns outros do elenco são: Juliette Manyel, Claude Cerval, Françoise Vatel, Michèle Méritz, Guy Decomble, Geneviève Cluny e Stephane Audran.
Assisti Natimorto (2009) de Paulo Machline no Arte 1. Eu vi que esse filme estava na programação, coloquei pra gravar. Gosto dos textos metafóricos do Lourenço Mutarelli que também atua no filme. Foi elogiadíssimo pela crítica, ansiava por ver. Gostei!
Eu adoro a Simone Spoladore, entre minhas atrizes preferidas. Um homem vai buscá-la na rodoviária e a leva para um hotel. Ele diz que não quer voltar pra casa e pede para ficar. Eles passam então a conviver nesse quarto. Eles fumam um maço de cigarros por dia. Ele olha aquelas fotos de advertências dos maços e faz paralelos com cartas de tarô. Qual é a carta dele do dia, qual a carta dela.
O quarto vira um microcosmo de uma relação. O encantamento inicial, tudo é lindo do outro, engraçado. Depois as desavenças, a luta pela liberdade. Eles lembram o primeiro encontro e a esposa desse homem (Bettty Goffman).
Assisti Lucien Lacombe (1974) de Louis Malle no Arte 1. Louis Malle está entre meus diretores preferidos. Coloquei pra gravar e vi. Infelizmente eu vi o texto antes do filme, agora sei que não posso ver antes, porque contou o filme todo. Não é um filme fácil, nosso protagonista se aproxima ou de fato é um psicopata. Amoral, ele começa matando animais com a maior facilidade, chega a ser insuportável.
Ele é um rapaz com pouco estudo, vive com a mãe em uma casa no campo no interior da França. Estamos na Segunda Guerra Mundial. Lucien Lacombe tenta entrar para os resistentes, não é aceito. Ele não quer voltar ao trabalho no hospital. Ele limpa os quartos, em um hospital de freiras. A mãe insiste, no caminho ele é envolvido, vai parar em um hotel, se encanta com a fartura daquela vida e não pensa duas vezes em delatar o homem que recusou ele nos resistentes. Estava bêbado, poderia se arrepender depois, mas não. Acho normal ver o homem preso e sendo torturado. Sempre indiferente, nem os gritos do conhecido o incomodam.
Acho que ele passa a colaborar com os alemães pela vida confortável que pode ter, carros, mulheres, champagne, ternos. Tanto que quando ele se encanta por uma moça, ele leva champagne para ela. Ele a viu em uma fila aguardando os racionamentos de alimentos, em vez de levar compotas, ele leva garrafas de champagne e acha que está arrasando. Antes do filme contam que ele se apaixona por uma judia. Não sei, não me pareceu. Acho que ele também queria possuir aquela família. A moça era loira de olhos claros, culta, dava status a ele tê-la. O pai era um importante alfaiate, bem vestido, acho que ele queria pertencer a aquela família para ter status. Para continuar galgando socialmente como vinha fazendo. E ele é tão desinformado, que ser informante alemão não combinava pertencer a uma família judia. Mas como um informante admirava o alfaiate, ele queria aquela família para si. Tanto que ele abusa do poder que acha que tem.
O rapaz está incrível, sempre frio, indiferente ao sofrimento alheio. Ele foi interpretado por Pierre Baile que atuou em poucos filmes, morreu logo depois em um acidente de carro. A jovem judia é interpretada por Aurore Clément, o pai dela por Holger Löwenadler. Esse filme custou muito caro a Louis Malle já que mostrava jovens franceses trabalhando para os alemães, como traidores. O diretor foi muito criticado por mostrar traidores. Mas é um filme complexo, me lembrei o tempo todo da teoria a banalidade do mal da Hannah Arendt. Lucien Lacombe ganhou muitos prêmios: Melhor Filme na Academia Britânica de Cinema, no Sindicato Francês de Críticos de Cinema e Bafta.
Assisti Bando à Parte (1964) de Jean-Luc Godard no Arte 1. Via esse nome na programação, resolvi gravar. Antes de começar o crítico de cinema Sérgio Rizzo falou da cena antológica de dança e um pouco do filme. Bando à Parte é da nouvelle vague. O roteiro é de Dolores Hitchens.
São três atores centrais. Uma jovem, sem saber o que quer da vida, com uma família ausente, não percebe a aproximação interessada de dois bandidos. Ela passa a andar com eles, finalmente parece ter o que fazer e passa a participar do roubo que eles organizam em sua casa. Ela também fica dividida entre os dois. Há cenas antológicas como essa da dança. Cenas de quebra de narrativa, os grandes trunfos do filme.
Os atores são interpretados por Anna Karine, Sami Frey e Claude Brasseur. Ah, e segundo um ator do filme há leões no Brasil. Realmente, há leões em circos e zoológicos.
Assisti Ascensor para o Cadafalso (1958) de Louis Malle no Arte 1. Eu coloquei esse filme para gravar, amo esse diretor. Antes de começar um crítico fala um pouco do filme. Que é baseado no livro de um búlgaro, Noël Calef, que agora quero ler. É o primeiro filme dirigido por Louis Malle que tinha somente 25 anos. Como pode já ser tão talentoso? E o elenco? Jeanne Moreau encabeça a trama.
É absolutamente impressionante! Os desdobramentos do filme são incríveis! Começa com os dois amantes falando ao telefone e marcam um encontro. O mais incrível é que é esse casal que de uma certa forma movimenta toda a trama, mas eles nunca se encontram no filme. Ele é interpretado por Maurice Ronet.
Há outro casal que impulsiona um monte de confusão também. É um filme muito angustiante! Esse casal é interpretado por Yori Bertin e Georges Poujouly. São vários atores e tramas: Gérard Darrieu, Lino Ventura, Jacqueline Staup, Jean Wall, Elga Andersen, Sylviane Aiseinsten, Micheline Bona. A trilha sonora é maravilhosa também, é de Miles Davis.