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sábado, 9 de novembro de 2024

Em Busca de Mim de Viola Davis

Terminei de ler Em Busca de Mim (2022) de Viola Davis da BestSeller. Eu gosto demais dessa atriz, queria muito ler essa biografia. Essa capa é linda, como ela é linda! Vocês conseguem saber os filmes que vi com ela na #violadavis Depois de ler a biografia tenho procurado filmes e séries com ela. É difícil achar nos streamings filmes dos anos 2000, praticamente desapareceram. Os mais recentes, inclusive séries, eu já vi a maioria.

Nenhuma criança devia passar o que Viola e suas irmãs passaram, fome, miséria, violência. Pai alcoólatra, ele era repetidamente violento com a mãe. Pela miséria elas viviam em um apartamento repleto de ratos. Sem água quente, tinham que lavar as roupas dentro de casa no inverno e vesti-las molhadas para ir a escola, onde eram hostilizadas pela falta de higiene, mas como Viola diz, como tomar banho frio no inverno? Ninguém queria saber da dificuldade delas. Como acontece muito em famílias pobres, os filhos são separados. Uns irmãos ficavam com a avó. A mãe percebe que não estava sendo bom pra eles e os trás, mesmo com tanta dificuldade. A irmã mais velha vem e passa a mostrar as irmãs que se elas querem ter um destino menos miserável que os dos pais, a saída é estudar. Ela passa a ajudar as irmãs na escola. E é um divisor de águas pra Viola que começa a se dedicar profundamente aos estudos.

Logo de pequena Viola já começa a despontar no teatro. Em atividades na escola, em concursos. Nos Estados Unidos tem um projeto de pré vestibular para pessoas desfavorecidas. Jovens vulneráveis não tem as mesmas oportunidades dos que vivem mais confortável e sem fome. Tem acesso a cursos complementares de idioma, esportes, intercâmbio. Esses cursos tentam diminuir essas diferenças. Na Julliard, Viola passa a cursar teatro. Viola faz muitos, mas muitos testes, mas tem uma dificuldade grande de conseguir personagens. É considerada muito retinta e sem sexy apple. Não consigo imaginar que alguém possa não achar linda a Viola. Ela consegue muitos pequenos papéis e começa a ter uma vida com menos privações e ajudar um pouco sua família.

Viola é casada e tem uma filha adotiva. Família linda. Ela e o marido fundaram uma produtora para que ela possa protagonizar filmes, ser heroína, a bela esposa, sem precisar ser recusada em papéis de destaque. 
O livro fala de filmes que amo como Dúvida, Solaris e Histórias Cruzadas.



O livro termina com o protagonismo em Fences, no Brasil como Um Limite de Nós, quando Viola Davis ganhou o seu primeiro Oscar. Tem um vídeo da Viola viralizando onde ela diz que tem o mesmo talento que atrizes brancas como ela, com a mesma quantidade de filmes, mas que ela não tem os mesmos prêmios, muito menos os mesmos cachês.


Beijos,
Pedrita

terça-feira, 30 de abril de 2024

Mudança de Mo Yan

Terminei de ler Mudança (2009) de Mo Yan da Cosac Naif. Tenho amigas que recebem livros para doar, elas me passam as listas e eu escolho alguns. Esse foi um desses e eu não tinha ideia do que se tratava. Assim que comecei a postar a imagem da capa e avisar que estava lendo, vários conhecidos disseram já ter lido obras dele e adorado.

Marcador de livros magnético.

Mo Yan é um autor chinês, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. É uma belíssima edição da Cosac Naif. O livro é curtinho, com 8 capítulos, 7 sobre a história do autor. Ele conta que sugeriram que ele escrevesse sua história. Ele não escreveu. Até que a mesma pessoa disse que ele escrevesse o que viesse a cabeça. E ele escreveu então esses capítulos.


 

Obra de Wong Wai Win

Começa com o protagonista na escola, ele é expulso por uma questão banal. Por querer muito estudar, ele volte e meia entra na escola e assiste as aulas. Ele sabia que as oportunidades de trabalho seriam melhores concluindo os estudos.

Obra de Qiu Zhijie

Como isso não acontece, ele resolve entrar para o exército só que em uma unidade quase abandonada. Então ele almeja ser motorista de caminhão. Ele acaba participando de algumas seleções, estudando por conta própria e vira professor. Ele acaba conseguindo escrever para um jornal e a escrita passa a ser sua profissão. Até que consegue ser promissor e renomado na área de literatura. 

Obra de Zeng Fanzhi

O estilo dele é incrível. Econômico, conta só um viés do que vai se lembrando, e naquelas poucas palavras, vamos compreendendo sua vida. É incrível e brilhante! Que texto!
Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Água de Barrela de Eliana Alves Cruz

Terminei de ler Água de Barrela (2016) de Eliana Alves Cruz da Malê. Esse livro fez muito sucesso, ganhou prêmios, elogiosas resenhas, queria muito ler. Águas de Barrela é seu primeiro livro. Na última Festa do Livro da USP adquiri com 50% de desconto. Essa capa de Bruno Pimentel Francisco é muito linda. O livro está na 7ª Edição. Que bela obra!

O marcador de livros é de uma obra de Lucia Buccini, da Livraria Cultura

O quadrinho é em porcelana com moldura de madeira, pintado por Peggy-Lou.

Obra de Rubem Valentim (1989)

A autora conta a história de sua família desde quando foram sequestrados no Continente Africano e escravizados no Brasil. Quando sua família veio no navio negreiro, já era proibida a comercialização de escravizados, mas continuou mesmo assim. Se tivessem respeitado a lei, Eliana não seria brasileira e sua família teria uma história menos triste. Toda a história de sua família foi passada pela oralidade.

Obra de Madalena dos Santos Reinbolt

Água de Barrela é aquela mistura que colocam em panos pra quarar. Boa parte das famílias de Eliana trabalharam lavando roupas. Primeiro seus parentes foram escravizados, mulheres violentadas, filhos misturados e muita, mas muita revolta. As fazendas que trabalhavam eram em Cachoeira na Bahia, cidade que quero muito conhecer. Com a libertação dos escravizados, alguns parentes foram tentar a vida em Salvador. Incrível a garra de Martha que era uma grande comerciante. Sabia perceber as necessidades e vender o que se precisava. Conseguiu juntar dinheiro e investir em joias de crioula para usar nos estudos dos seus descendentes.

Na edição há algumas fotos como de Damiana, a história demora a chegar nela. Damiana estudou em colégio religioso pago. Apesar de pagar como as outras alunas, passa a maior parte do curso lavando, passando e cuidando das roupas das outras internas brancas. Sua mãe fez de tudo para ela estudar. Seu pai roubou as joias de crioula da avó e desapareceu, mesmo assim elas não desistiram de manter a filha e neta na escola. Tanto Damiana quanto sua filha fizeram maus casamentos. Relações tumultuadas, homens irresponsáveis, machistas. Damiana estudou muito e fazia muito questão do estudo nos seus descendentes. Levava seus netos ao teatro, bibliotecas, era incansável. E deu certo, um de seus netos se formou advogado no Rio de Janeiro. A família passou por inúmeros momentos históricos como o fim da escravidão, com os negros abandonados à própria sorte, a crise de 1929, as guerras. Com as dificuldades financeiras, infelizmente tão comum no Brasil, principalmente para os mais pobres, uma parte da família vem tentar a vida no Rio de Janeiro, onde Eliana nasce.

Eliana Alves Cruz conseguiu os dados para o livro com Nunu que tinha dado muito trabalho para a família por sofrer de esquizofrenia, e que sofreu o diabo em clínicas psiquiátricas monstruosas com seus eletrochoques e violências. Uma parente que conhecia ervas que ajudava muito mais ao equilíbrio de Nunu, que os doutores. Com uma mente inacreditável, Nunu lembrava de muitos detalhes de sua família. Eliana, jornalista, checava muitos dados históricos, que batiam corretamente com os relatos de Nunu. Gostei demais obra e de contar histórias de famílias brasileiras.
Beijos,
Pedrita

sábado, 30 de dezembro de 2023

Memórias de uma Moça bem Comportada de Simone de Beauvoir

Terminei de ler Memórias de uma Moça bem Comportada (1958) de Simone de Beauvoir da Editora Nova Fronteira. Tem um tempo que comprei em um sebo A Força das Coisas e quando fui ler vi que é de uma série autobiográfica. Um tempo depois comprei o primeiro na Feira do Livro da USP.

Marcador de Livros de Paris, presente de uma amiga.

Simone de Beauvoir e sua amiga Zaza (1928)

Eu acho fascinante como Simone de Beauvoir escreve em profusão. É uma capacidade envolvente de palavras atrás de palavras. Como escreveu! É impressionante! Até estranhei o nome do livro já que Beauvoir foi longe de ser uma mulher bem comportada e não no mal sentido. Sempre lutou contra as convenções. Me surpreendi que ela era de uma família muito rica e católica e fiquei pasma que Simone foi muito católica até a adolescência. Até que começou a discordar do deus do padre, mas quando saía às ruas, na natureza, se reencontrava com deus, até perdê-lo de vez. Nesse foto está com a sua inseparável Zaza. Ela comenta que dada a escassez financeira, ela e as irmãs se vestiam muito mal. Ela com o tempo passou a gostar de chocar a família com seu desalinho não só na vestimenta, como em cabelos e falta de higiene. Deu pra entender porque ela tinha tanta erudição. Seus pais liam muito, mesmo que a leitura fosse aceita pela religião católica, Simone leu muito. Seu pai era um sonhador, ele que a levou ao teatro. Mas ele vai perdendo dinheiro então a família cada vez vai para apartamentos menores. Seu pai então avisa que o fato dela e das irmãs não terem dotes, elas teriam que trabalhar. Aos 13, Simone achava terrível a ideia de casamento, então aceitou de bom grado se enfiar nos estudos. Estudou para o magistrado, filosofia, trabalhou em biblioteca. Conheceu Simone Weil, mas não se identificaram. Nos exames Weil ficou em primeiro lugar, Beauvoir em segundo. Desde muito pequena sempre escreveu, depois sempre escrevia livros que nunca publicava. Nessa obra inclusive não publicou nenhum. Seu primeiro livro, A Convidada, foi publicado somente em 1943. Tem muitos anos que li esse livro. Simone de Beauvoir nasceu em Paris em 1908 e mesmo as famílias sendo mais conservadoras nessa época, é perceptível que eram bem mais evoluídas que as mulheres brasileiras do mesmo período. Elas frequentavam bares, cafés, estudavam, eram estimuladas a estudar. Mesmo em casa debatiam literatura, vertentes. Analisavam intelectualmente os pretendentes.
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre (1939)

Sartre só aparece no final do livro. Ele e dois amigos se preparavam como ela para os concursos. O trio era fechado e não interagia com os outros. Mas um amigo passou a se aproximar de Simone. Ficaram muito amigos e depois de um tempo ela se aproximou de Sartre. O amigo não passou no concurso, teve que mudar de cidade e a relação de Beauvoir e Sartre se consolidou. O livro termina com eles muito amigos.


Beijos,
Pedrita

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

She Said

Assisti She Said (2022) de Maria Schrader no TelecinePlay. Eu sabia que teria que ter coragem de ver esse filme. É sobre jornalismo investigativo realizado por duas jornalistas do New York Times, Jodi Kantor e Megan Twohey sobre os abusos cometidos por Harvey Weinstein, que atualmente está preso com pena de 23 anos.

O tempo de investigação foi muito longo. Começa com uma das jornalistas que tem duas filhas pequenas, a outra está grávida e cuidando de outras pautas. Até que elas são unidas pela direção do jornal. Quando elas passam a trabalhar juntas, a outra já teve o bebê. Harvey Weinstein era um grande produtor de filme americanoA grande dificuldade foi conseguir provas, elas localizam várias mulheres, algumas não queriam falar e elas descobrem que elas fizeram acordos antes mesmo da denúncia ir à polícia. Elas ganhavam dinheiro e assinavam um documento onde se comprometiam a nunca mais falar do assunto com quem quer que seja. Pra piorar, elas não ficavam com cópia do acordo. Era muito difícil provar já que parte dos crimes eram cometidos entre quatro paredes, a palavra de um famoso e poderoso, contra as atrizes e profissionais do segmento.
O filme foca na investigação, nas cenas no jornal, nas conversas com as entrevistadas. O filme só mostra objetos que simbolizam os locais dos abusos. Gostei da condução do roteiro. Em geral o produtor assediava mais jovens atrizes, que tinham mais o que perder se denunciassem. Mas ele era tão perverso que se alguma conseguia se livrar do assédio, ele entrava em contato com outras produtoras e ela não conseguia mais trabalho. Sempre comento que há pessoas perversas, mas que há uma teia enorme de quem se silencia ou acata absurdos. Ele era poderoso, mas outra produtora aceitar não contratar uma atriz porque ele interferiu, é assustador. É uma teia de violência, desproteção, abandono e vulnerabilidade à mulheres. Os diretores do jornal são Patricia Clarkson e Andre Braugher.
Carey Mulligan e Zoe Kazan estão ótimas. Gostei que o filme mostra a vida pessoal das jornalistas. Elas tinham maridos incríveis que seguravam a onda no período de investigações. São telefonemas de madrugada, muitas entrevistas, solicitações. Viviam fora. A que tem filhas maiores precisa viajar, seria impossível pra outra, mas não é fácil porque ela também tem filhas pequenas. Mostra o quanto é difícil conciliar trabalho e maternidade.
As jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey. A matéria que elas publicaram. Depois elas lançaram um livro She Said que quero ler e no Brasil foi lançado pela Companhia das Letras.

Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 24 de maio de 2023

O Último Trem Para A Zona Verde de Paul Theroux

Terminei de ler O Último Trem para a Zona Verde (2013) de Paul Theroux da Objetiva. Esse livro estava na minha lista, comprei, mas não lembrava mais do que se tratava e como chegou a minha lista. Gostei muito! É um road book!

O marcador de livros é da Livraria Cultura.
 

Paul Theroux é um viajante. Escreveu vários livros de viagens. Ele resolve retornar ao Continente Africano onde esteve aos 22 anos, 50 anos depois. Ele chega na Cidade do Cabo, fica em um hotel luxuoso e começa a visitar os lugares que passou antes. Eu gosto muito de ler livros de nativos dos lugares, mas foi uma experiência interessante também ver sob o olhar de um estrangeiro. A edição é belíssima e tem logo no começo um mapa que vai nos mostrando por onde Theroux vai passando.
Foto de Elizabeth Cecil
Obra sem título (2018) de Esther Mahlangu

Ele vai conversando com os companheiros de viagem e nos contando. Ele vai de ônibus, van, seguindo até a Namíbia e Angola. Na Cidade do Cabo ele segue para as favelas que conheceu, conversa com os moradores. Vê mudanças, alguns africanos preferem, mas a dificuldade de vida parece continuar. O autor lembra inclusive projetos no Brasil de moradias populares, sim, existiu aqui, principalmente em São Paulo, mas sempre insuficientes. E vê que na África do Sul não existem esses projetos.

Ele passa pelo Abu Camp em Botswana onde um amigo dirige o lugar. Interessante que ele fala acampamento, mas as acomodações são luxuosíssimas, a estadia é de 5 dias e é caríssima. Lá vê-se os animais caminhando. O gerente amigo dele trazia do mundo todo elefantes que sofriam em zoológicos, circos, sim, eles tinham vida melhor e mais livre em Abu Camp, mas não tanto assim. Theroux é sutil, mas percebemos as críticas em vários momentos.

Obra de Tamai

Theroux é muito cético em relação as ações humanitárias, principalmente com artistas famosos. No último capítulo ele explana melhor a visão dele que eu discordo bastante, já que ele acredita que a ajuda financeira do exterior mais atrapalha que ajuda. O fato de terem pessoas em alta vulnerabilidade e fome, demandam sim ajuda externa. Se uma parte da verba cai em corrupção, não é esse o motivo de secar a fonte. Mas ele acaba aceitando palestrar em um desses eventos em Tsumkwe, na Namíbia, uma região desolada. Ele vê crianças com baldes e é informado que elas irão andar quilômetros até conseguir água. Fiquei pensando se os organizadores desse evento não levaram água e alimentos para a população. Muito confortável palestrar sobre os problemas da região, com conforto, cafés, almoços, enquanto a população passava fome e sede.

Obra Sombra da Vida (2002) de Ndassunje Shikongeni

Ele acaba aceitando dar aulas de inglês em duas escolas. Ele procura ler livros de autores locais. Ele também menciona inúmeros livros de aventuras, ficção ou não. Muitos livros clássicos. Interessante como gosta do tema.

Obra A Cidade das Gruas (2022) de Benjamin Saddy

Quando ele chega em Angola vemos algumas semelhanças com o Brasil porque a colonização é a mesma que a nossa. Igual ao Brasil na corrupção, mas em Angola beira o insuportável,  na época que ele esteve no país; É bem mais insuportável que aqui, bem mais escancarada. Mas como aqui, os políticos lá só estão preocupados com os seus próprios interesses. A especulação imobiliária é como aqui, mas lá é realizada por chineses, que exploram profundamente os angolanos. Boa parte do país está desempregada, mais que aqui. As religiões promovem o obscurantismo que falta. O autor fala inclusive dos religiosos brasileiros que arrancam dinheiro dos fiéis. Lembro que alguns foram expulsos do país por essa prática. Theroux prefere as histórias do interior, onde ainda há alguns resquícios de tradições. Pelos relatos que ele fez do que viu e ouviu, não sei se concordo. Ele chega a pensar em seguir para Timbuktu que comentei aqui, exatamente no período que os fundamentalistas tomam o lugar como no filme, então desiste. É um livro desesperançoso que passa por muita fome, miséria, lixo e desolação.

Beijos,
Pedrita

sábado, 11 de março de 2023

Desenho o que não cabe em mim de Marcia de Moraes

Ganhei o livro Desenho que não cabe em mim (2023) de Marcia de Moraes na Galeria Leme. Eu que não estou cabendo em mim de tanto contentamento. Adoro essa artista, já falei de algumas exposições dela aqui e foi muita emoção ter o livro que tem 90 obras da autora, sejam fotos das obras ou de exposições. Lindo o projeto gráfico de Thalita Munekata.
 

Para o lançamento, excepcionalmente, a galeria expôs algumas obras da artista.


Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O Caminho da Fênix

Acompanhei as atividades do projeto O Caminho da Fênix da Cia Teatral Casa de Marias. Li o livro Enquanto não cicatriza - História de mulheres que sobreviveram de Celia R. Ramos Méris, Maria Vitória Siviero e Silvani Maria da Silva. O projeto realizou uma pesquisa em abrigos sigilosos de proteção a mulheres que sofreram violência. Pelas dinâmicas, o grupo definiu as linguagens que iriam relatar o que viram. O livro traz crônicas inspiradas nas vivências que tiveram com essas mulheres. São histórias de muita dor, de muito abandono. As violências estão, na maioria das vezes, em todos os momentos. O relacionamento abusivo que levou a mulher em fuga ao abrigo é só um dos inúmeros relatos de abandono, violência, muitas vezes desde a infância. E mulheres que se tornaram mães e tiveram seus filhos também espectadores daquelas vidas difíceis, com muita violência e pouco afeto.  
No lançamento do livro no Centro Cultural São Paulo teve um bate papo com Ester Francisco da Silva, assistente social, Mestre em Economia Política Mundial, especialista no Combate à Violência Doméstica e ativista de movimento de Mulheres Negras e Ricardo Estevam é psicólogo, especialista em políticas públicas para mulheres em situação de violência, mestrando pela faculdade de saúde da USP em violência contra mulheres. Estava lotado, foram tantas perguntas que nem todos puderam se manifestar pelo adiantado da hora. Ester falou que a questão toda é complexa e vem desde a infância, de como criamos os filhos. As meninas e meninos são criados de modo diferente, depois essas pessoas tem que se entender e se encontrar no futuro. Ricardo falou da dificuldade de falar do tema. Que a mulher morta ganha um tempo pequeno na televisão, mas depois outra toma o lugar e a notícia. Que nas poucas reuniões de família evitam falar de temas difíceis. Que sem o diálogo não temos como ajudar, acolher e resolver as questões, quando ainda há tempo. Ricardo lembrou da armadilha do papel do homem como provedor, que não pode expressar seus sentimentos, que tem que ser forte. Ester falou da quantidade de mulheres assassinadas em uma única semana, que a pandemia piorou a questão. Os dois lembraram como muitas religiões são machistas e falam da submissão da mulher. Ester comentou que em algumas cidades da grande ABC tem o projeto E Agora José? que ajuda homens a compreender o processo de violência.
A última ação do projeto foi o lançamento do documentário O Caminho da Fênix onde especialistas falaram da situação das mulheres, dos abrigos. Mulheres protegidas foram entrevistadas e contaram um pouco de suas histórias. Imagens ficcionais com atores mostravam a solidão das mulheres, os momentos difíceis até a decisão de partir. Lindos momentos na praia, onde elas livres poderiam se reconstruir. Foi um momento de esperança.

As entrevistadas falaram da solidão dessas mulheres nesse processo.





Beijos,
Pedrita