terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Miss Sloane

Assisti Miss Sloane (2016) de John Maden no Telecine Play. No Brasil está como Armas na Mesa. Inacreditável a incapacidade do brasileiro em não manter o nome original e dar juízo de valor tendencioso ao título.

Embora seja um filme específico sobre o sistema de votação e lobby americano, cabe em qualquer lugar já que fala muito de persuasão, independente se a opinião que você muda no outro é para uma boa causa ou para algo que você acredita. A protagonista é uma grande lobista, ela conseguiu melhorar a opinião pública a favor das armas após o atentado de Columbine. Mostra que quando você manipula pode-se ter um bom resultado mesmo por aquilo que seja monstruoso. Claro, se ela concordasse, mas o filme mostra que não importa o que você concorda, que importa é o faturamento de grandes empresas, mesmo que isso coloque em risco a vida das pessoas. Começa com ela sendo julgada por políticos por suas atitudes e o filme vai mesclando momentos de sua carreira antes com um grupo a favor de armas e depois com outro contra. Ela não pensa duas vezes em mudar de lado só pelo desafio de vencer. Nos dá a impressão que para essa lobista tanto faz, desde que ela vença, não importa que lado que ela está defendendo, que não importam suas convicções e sim o poder de persuasão e chegar aos resultados para que foi contratada.
Mesmo que o final seja bastante catártico, bem ao estilo americano, gostei muito do filme por debater muitos temas, inclusive o poder da oratória. Com o desemprego no Brasil, proliferaram coachings de tudo quanto é assunto falando em fórmulas mágicas, basta como você fala ou se coloca na sociedade que alcançará sucesso. E o filme mostra a fragilidade desse discurso reducionista. Jessica Chastain está ótima, mas todo o elenco é muito bom. Duas assistentes da personagem se destacam: Gugu Mbatha-Raw e Alison Pill. Os textos são incríveis e de difícil execução. Ágeis, o tempo todo os personagens tem embates com temas complexos, com marketing agressivo. O roteiro é de Jonatan Perera.

O elenco tem muitos atores consagrados: Mark Strong, David Wilson Barnes, John Lithgow, Michael Stuhlbargh, Douglas Smith, Sam Waterson, Raoul Bhaneja e Jack Lace.

Beijos,
Pedrita

domingo, 15 de dezembro de 2019

O Castelo de Vidro de Jeannette Walls

Terminei de ler O Castelo de Vidro (2005) de Jeannette Walls da Coleção Folha Mulheres na Literatura. Não sabia do que se tratava o livro, a Liliane do Paulamar comentou que viu o filme que quero ver agora. Jeannette Walls é uma jornalista americana que resolveu contar nesse livro a sua história.

O livro começa com Jeannette aos 3 anos. Ela está no fogão cozinhando uma salsicha pra comer. Seu vestido pega fogo. A mãe achava que os filhos tinham que se virar. Ela é artista e não largava o que fazia pra cuidar dos filhos, cuidar não era uma palavra usada por esses pais. Pai alcoólatra, os filhos passavam todo o tipo de privações, fome, abandono, falta de asseio. Como o pai vivia em confusões, eles mudavam-se direto fugindo de algo. Faziam escola aos picadinhos. Mas os pais eram informados, incentivaram a leitura,  ensinaram algumas lições, do jeito torto deles amavam os filhos. O nome do livro, Castelo de Vidro, era mais um dos sonhos do seu pai, ele o tempo todo dizia que ia construir um Castelo de Vidro pra eles morar. Nem comida à mesa punha e ainda roubava dinheiro da família para os seus projetos e bebida. Às vezes acho que os filhos conseguiram superar essa infância turbulenta pela união entre os irmãos que se ajudavam muito. Aos treze anos Jeannette percebeu que tinha que sair dali. Primeiro ajudou Lori que foi com 17 anos para Nova York, depois ela seguiu para a cidade, e seus outros dois irmãos depois.

Inacreditavelmente os seus pais foram depois. Com o tempo, acabaram indo morar nas ruas. Muito interessante quando a autora conta sobre os pais irem morar em uma ocupação. Lá eles encontram pessoas como eles, que viviam de modo precário e que se sentiram parte de um grupo. Interessante também que apesar de todo o abandono que os pais proporcionaram aos filhos eles não guardaram rancor e se reconciliaram com o seu passado. Muito bom também que apesar de toda a desestruturação que viveram eles conseguiram se aprumar e ter uma vida digna, rompendo com aquele modelo de gerações de violência, abusos, abandono e vícios. Parece que uma irmã somente não conseguiu se aprumar, a mais nova, mas o livro deixa em aberto. Ela muda-se para a Califórnia e a autora não tem mais notícia dela, talvez agora já tenha. Estou tentando achar se em algum lugar fala do destino da irmã que ficou parecida com os pais.
 
Beijos,
Pedrita

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Los Silêncios

Assisti Los Silencios (2018) de Beatriz Seigner no Canal Brasil. Eu vinha lendo matérias e muitos elogios sobre esse filme. Assim que vi que ia passar no canal, coloquei pra gravar. O filme vai passar na retrospectiva do ano no Cine Sesc. É uma co-produção entre Brasil, Colômbia e França. Que filme triste!

No escuro da noite, uma mãe (Marleyda Soto) e dois filhos chegam em um barquinho em um lugar. Uma parente espera com uma lanterna. Essa mãe conta que seu marido (Enrique Diaz) e sua filha  (Maria Paula Tabares Peña) estão desaparecidos. Ela começa a luta para conseguir sobreviver nesse lugarejo. Leva o filho (Adolfo Savinvino), documentos e histórico escolar para conseguir uma vaga na escola. O lugarejo tem recebido muitos refugiados, então não há merenda pra todos. São 600 merendas para 2500 crianças. O uniforme é muito caro e obrigatório, ela pega um modelo e faz as roupas. Uma hora vemos o marido nessa casa e como falam muito de fantasmas, que os desaparecidos tornam-se fantasmas, eu desconfiei que ele era um fantasma.

Ao final, o que eu não imaginei, é que a menininha era também uma fantasma. Que tristeza! No final a mãe recebe a carta com a confirmação das mortes do marido e da filha, que foram mortos abraçados. E o filme termina com a cerimônia de adeus aos mortos. Eu achava lindo que tudo o que a menina tem é fluorescente, achava que ela gostava. Só ao final vi que é o símbolo dos mortos.

Que dor ver que na verdade, é porque ela estava morta. Los Silencios ganhou Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival de Brasília, Melhor Direção no Festival de Estocolmo e vários outros prêmios.



Beijos,
Pedrita

domingo, 8 de dezembro de 2019

A Favorita

Assisti A Favorita (2018) de Yorgos Lanthimos no TelecinePlay. Eu ansiava profundamente em ver esse filme premiadíssimo e elogiadíssimo. O roteiro é de Deborah Davis e Tony McNamara. Eu amei O Lagosta do mesmo diretor, que é grego, e tinha alta expectativa por esse. Amei! É tudo ou mais que dizem!

É livremente inspirado em um período da vida da rainha Ana da Grã-Bretanha e a relação com duas mulheres que tornaram-se braço direito dela. É fato que a personagem da Rachel Weisz (Duquesa de Maulborough) decidia, com os conselheiros as questões políticas do reinado. E que a rainha e ela tinham uma relação muito próxima que gerava rumores.

Aparece então uma criada (Emma Stone), uma ex-nobre que passa a ganhar a simpatia da rainha. Tentando retornar a corte, ela vai se fazendo necessária. Ela percebe a brecha do desgaste da outra relação e vai conquistando a rainha.

A rainha tinha se acostumado que a duquesa decidisse tudo, mas a criada vai intrigando a rainha com as decisões da outra. Como a relação da duquesa com a rainha estava desgastada, a afetividade da criada vai destruindo essa relação. Olivia Colman está incrível como a rainha.

Beijos,

Pedrita

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

The Handmaid´s Tale - 3ª Temporada

Assisti a 3ª Temporada de The Handmaid´s Tale (2019) de Bruce Miller na Paramount Channel. Segundo vários relatos essa série maravilhosa e premiadíssima chega ao fim, mas no IMDB parece que já tem o episódio da quarta temporada, novamente quero saber como seguirá. Tive muito dificuldade de ver todos os episódios, é muito angustiante, mas profundamente necessários. Margareth Atwood escreveu o livro que li da primeira temporada, deu supervisão nas temporadas seguintes. Lançou recentemente O Testamento que conta o restante da história pela ótica dessa autora. Quero muito ler.

A série mostra o quanto o autoritarismo, quando não cortado pela raiz, vai ampliando e se tornando mais e mais perverso. Mesmo sendo uma série de ficção, acaba mostrando muito como regimes autoritários são assassinos e o quanto as mulheres são as mais atingidas.

June (Elisabeth Moss) agora está mais guerreira que nunca. No final da segunda temporada, ela não fugiu com a filha bebê para o Canadá para tentar resgatar sua outra filha sequestrada, Hannah. Entendam, a filha foi sequestrada para ser criada por outra família. Essa sociedade determina quem são as famílias de bem e quem são as peças para procriar, cuidar da casa, trabalhar de modo desumano em lugares contaminados.

June fica na casa de outro comandante (Bradley Whitford) e descobre que ele foi responsável por boa parte das regras monstruosas dessa sociedade. E pior, essas regras afetaram profundamente a saúde da sua esposa (Julie Dretzin). Ele a ama profundamente, mas é covarde o suficiente para não salvá-la daquela vida trágica. Nessa sociedade as mulheres não tem direitos, os partos são em casa, se dão algum problema, azar, mesmo que existam hospitais equipados. E essa mulher tem distúrbios mentais, precisaria de medicação constante para estabilizar o seu organismo, mas a sociedade não fornece a ela o que precisa e ela vive tendo surtos, é muito doloroso.
Mas as atrocidades com as mulheres são muitas. O sadismo é insuportável.

June resolve então fazer uma ação ousada, tentar tirar o máximo de crianças que consiga dessa sociedade para que no futuro não venham a ser estupradas, espancadas, enforcadas, escravizadas, mutiladas e sofrer todo o tipo de barbaridade. É muito emocionante quando ela pede as Marthas que enviem bolinhos se concordam pra saber quantas vão ajudar a tirar as crianças de lá. 52 mandam bolinhos. Porque tudo é silencioso, elas não podem conversar, se articular, tudo tem q ser muito cuidadoso. As mulheres, cansadas de tanta atrocidade e com o futuro das crianças, começam a se rebelar, mesmo q em silêncio, começam a destruir essa estrutura perversa. E a série não nos deixa confortável. A filha de June foi transferida pra longe, June não seguirá com o grupo. E Hannah não chega no Canadá. A série não traz alívio, sim, 52 crianças são libertadas, mas a heroína fica pra traz e sua filha também.
Beijos,
Pedrita