domingo, 1 de novembro de 2020

Os Bebês de Auschwitz

Terminei de ler Os Bebês de Auschwitz (2015) de Wendy Holden da série Mulheres na Literatura da Coleção Folha. Demorei pra começar a ler porque sabia que não seria uma leitura fácil, mas achei que tinha que conhecer mais esse assunto. Como o livro diz o tempo todo e a autora me lembrou no Instagram, conhecer para não esquecer. Que esses horrores nunca sejam esquecidos para que não aconteçam novamente.

Quando fui escolher o marcador de livros, vi as borboletas e achei que bebês que sobrevivessem àquela adversidade seriam como borboletas. O livro faz uma analogia parecida no final, fiquei mais tocada ainda.

O livro conta a história de três mulheres judias Priska, Rachel e Anka, que estavam grávidas quando chegaram em Auschwitz no fim da guerra. Todas foram revistadas pelo médico monstro Mengele. O livro lembrou o horror de saber que esse monstro, após a guerra, se escondeu no Brasil, que vergonha. As três, por uma presença de espírito, mentiram ao médico e disseram que não estavam grávidas. O que fez essas três mulheres a resistirem a tanta fome, sede, frio e maus tratos, ainda terem os bebês e eles sobreviverem é algo que nem elas mesmas sabem explicar. Estranhamente elas não se conheceram, mesmo tendo estado nos mesmos lugares de horrores. Primeiro no campo de concentração, na mesma época, dias de diferença. 

Por serem fortes foram enviadas para uma fábrica de peças, inclusive de aviões e depois passaram por uma viagem interminável, prestes a dar a luz, até o campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Uma mãe e filha foram pra câmara de gás, nuas, com inúmeras outras, ficaram muito tempo, mas não tinham mais insumos pra matar, e a máquina tinha quebrado e foram soltas novamente, olha que horror! Extremamente debilitadas, morrendo de fome e sede, duas deram a luz nos vagões nessa viagem interminável. Anka começou a ter as contrações assim que desceu do trem e teve seu filho de pé, em uma carroça lotada. Como elas e seus bebês sobreviveram? Sorte talvez, dizem. Pode ser, porque parecia impossível elas e seus bebês de meio quilo resistissem a tanta fome, sede, piolhos e larvas. Um pouco depois do nascimento dos bebês, Hitler e sua esposa se suicidaram. Os policiais nazistas da SS começaram a matar a todos e queimar documentos. Novamente elas se salvaram por muito pouco. Os americanos oficiais ficaram atônitos quando viram inúmeras pessoas nuas ou com pedaços de roupas, de pé no pátio. Acostumados a contagem diária, já sem qualquer traço de humanidade, eles ficaram do lado de fora, no frio, totalmente fora de si. Na hora que viram que iam ser salvos, muitos gritaram, riram, choraram, pularam e morreram logo ali, caindo uns sobre os outros, não suportando tanta emoção. Com tanta subnutrição, o corpo não aguentou a carga emotiva da libertação.

Em geral tinha muita hostilidade com os judeus. Assim que eles foram obrigados a abandonar as suas casas e seguir para os guetos, tomaram suas casas, objetos, e não aceitavam devolver depois da guerra. Outros tinham medo de represálias. Uns foram mortos pelos soldados nazistas porque ajudaram judeus, ou mandado para campos de concentração. Então em geral eles ignoravam o sofrimento que viam, ou tentavam não ver. No máximo punham comida escondida em lugares que eles passavam, mas sem saber quem eram. A cidade de Horní Bříza na República Tcheca foi uma exceção. Quero muito conhecer essa cidade. Pouco viram da guerra, não viram vagões lotados de judeus, foi a primeira ve,z quando a guerra estava acabando que o trem fez uma rota diferente. Antonín Pavlíček cuidava da estação e quando viu os prisioneiros mortos de fome, negociou, negociou e negociou com os soldados nazistas para que a cidade levasse comida. A cidade inteira se mobilizou cozinhando. Os judeus avisaram que se não fosse direto nas mãos deles nunca veriam os alimentos. Então Pavlíček e outro homem foram levar as comidas. Eram mulheres famintas demais, os soldados se prontificaram a ajudar, então teve vagão que continuou sem água e sem comida porque eles desviaram os alimentos, mas muitas, muitas mesmo receberam alimentos, cobertores. Quando um viu o bebê e a mãe, correu para a mulher, relatou o ocorrido e ela mandou algumas roupas do bebê que esperava. Um médico viu uma grávida, era Anka, inerte já sem forças, e, mesmo correndo riscos, conseguiu ir até ela com um copo de leite que pode tê-la salvo e ao bebê. São relatos tão doloridos e emocionantes. Quanta tristeza dessa desumanidade. Sou muito descrente na humanidade. Uma dessas mães também não consegue acreditar na existência de um deus que poderia ter permitido todos esses horrores.
Os bebês Eva, Mark e Hana só souberam que outros bebês tinham nascido naquela viagem anos depois. Quando foram se encontrar em um evento do Holocausto, acharam que não tinham nada em comum e não iam se ver de novo. Logo que se encontraram viram que tinham na verdade muitas semelhanças. Hoje se consideram como irmãos.
No final do livro há uma extensa biografia que Wendy Holden usou para escrever o livro. Sem falar nas inúmeras viagens, entrevistas. É um trabalho impecável e admirável. Não sei se eu aguentaria passar tanto tempo em cima de um assunto tão difícil. Já foi um sofrimento a leitura do livro. 

 
Beijos,
Pedrita

14 comentários:

  1. Esse capítulo da história humana deve ser sempre lembrado em seus horrores e abusos. Um período de vergonha que deve ser eternamente repudiado.

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    1. marly, com tanta gente negando o ocorrido. com tanto fanatismo religioso. tem que ser lembrado sempre mesmo.

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  2. Eu cansei de livros do genocídio judaico, mesmo que considere que não se deve esquecer o assunto, mas todos os anos saem dezenas de obras sobre o tema em Portugal.
    Prefiro ler Amos Oz que apela muito mais aos judeus a serem justos hoje em vez de ficarmos presos ao papel de vítima do genocídio judaico por Hitler no passado.

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    1. carlos, nenhum livro será suficiente pra falar dos horrores do nazismo. eu mesma me deparei com relatos nunca ouvidos já que esse que li é a história real de três mulheres judias grávidas e torturadas.

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  3. OI Pedrita, realmente um livro que precisamos nos preparar para conseguir ler. Mas uma história que precisa ser repassada para ser lembrada e servir de lição para que não se repita. É muita força que essas pessoas tiveram.
    Muito obrigada pela dia. Aliás, assisti Estocolmo por indicação sua. Falei nesse post aqui http://inventandocomamamae.blogspot.com/2020/11/bc-semana-41-de-2020-trigesima-primeira.html
    Não fiz a resenha dela. Não tenho conseguido postar com frequência no blog. Mas de repente ainda faço.
    beijos
    Chris


    Inventando com a Mamãe / Instagram  / Facebook / Pinterest

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    1. chris, eu adiei bastante. eu não conseguia acreditar como sobreviveram. e obrigada por avisar da postagem e por mencionar o meu blog nela.

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  4. Sempre elogiam muito essa obra, Pedrita. Mas ainda nao li. bjs

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  5. Olá, querida Pedrita!
    Para esse tipo de leitura o nosso psicológico tem que estar muito bem preparado é muito triste, porém uma realidade.

    Beijinhos ♥

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    1. andréa, acho que nunca estamos preparadas pra ler sobre esses horrores. eu faço com esforço, mas acho necessário. mas entendo quem não consegue. é perturbador demais.

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  6. Concordo plenamente com você.
    Não importa quanto se fale ou quanto se tenha escrito/filmado sobre o Holocausto, nunca será o suficiente.
    Quando aconteceu a primeira guerra foi entre soldados nas trincheiras.
    A segunda guerra atingiu toda a humanidade pela crueldade, pelo inacreditável do quanto o homem é capaz de ser o carrasco do próprio homem.
    Esse livro deve ser muito difícil, mas necessário.

    Não podemos esquecer para que nunca mais volte a acontecer!

    Já levo a indicação.

    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, a gente pode até preferir não ver mais já q sofreu com alguns filmes e livros e acha que está bom. q doi demais. mas como esquecem ou negam, acho que tem que ter lançamento sempre. o ser humano é podre.

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  7. Pedrita,
    Infelizmente não tenho condições para ler, e acompanhar, atrocidades cometidas por pessoas contra seus semelhantes. Não se pode esquecer do acontecido, mas é difícil acompanhar os detalhes.

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    1. heloísa, é insuportável mesmo. eu me esforço pra conseguir, mas entendo quem não consiga.

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Cultura é vida!