segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Uma canta, a outra não

Assisti Uma canta, a outra não (1977) de Agnes Varda no Telecine Cult. Desde que essa grande diretora faleceu começaram a programar os filmes dela. Uma pena que não tenham programado antes, queria muito ter conhecido a obra dela enquanto ela era viva. Tem muito filme e diretor que quero ver, espero que programem mais. Que diretora! Que filme!

Uma jovem de 17 anos se encanta com o trabalho de um fotógrafo, com isso conhece a companheira dele. Ele não se divorciou porque não tem condições financeiras. Ela tem 22 anos, dois filhos e conta para a jovem que está grávida de mais um. A adolescente resolve ajudar, mente ao pai para conseguir um dinheiro e orienta a jovem a ir para a Suíça, lá o aborto é permitido e se ela contar sua história, poderá conseguir gratuitamente. Seu pai fica possesso com a mentira da filha. Ele adora dar tapas na cara da menina por qualquer motivo, um verdadeiro monstro. Eu teria orgulho de uma filha que abrisse mão de um dinheiro para ajudar uma amiga. Se eu não concordasse com o motivo, conversaria com ela. As duas estão excelentes: Valérie Mairesse e Thérèse Liotard.

O fotógrafo se suicida. Um horror no enterro. Todos ignoram aquela jovem e seus dois filhos, mesmo sabendo que o filho era do fotógrafo e portanto parente deles. Desamparada, ela vai morar no interior com os pais dela. A adolescente já tinha saído de casa e vive de teatro e música. E a amizade das duas continua. 

O filme debate temas muito profundos. Com o tempo a que canta também precisa abortar. Em uma sala, com várias mulheres que aguardam o triste momento. O filme mostra a tristeza de todas elas, não desespero, mas tristeza. A jovem faz inclusive compõe uma canção para falar sobre o aborto. Quanta profundidade e clareza na letra. Ela agenda para o grupo um passeio de um barco, mas elas não estão felizes. É lá que a jovem conhece quem vai amar, um iraniano (Ali Rafie), ele é igualmente iraniano, diretor e ator de filmes. Ela acaba seguindo com ele para o Irã, mas não se acostuma, já que lá não pode cantar, nem trabalhar com arte, torna-se dona de casa. A outra amiga passa a trabalhar em um centro de acolhimento de mulheres. Elas orientam as mulheres a tomar pílulas e se irrita com uma que, mesmo sabendo de tudo o que tem que ser feito, mesmo ganhando as pílulas, não as toma. Uma outra profissional do lugar orienta a jovem a não julgar as dificuldades dos outros. Que filme profundo.
O filme também fala muito sobre maternidade. A que canta volta para o seu país e lá tem o seu filho. O marido quer muito o filho  e ir com ele de volta ao Irã, então ela combina que ele fique mais um pouco e faça outro filho nela. Assim ele leva um, e ela fica com o outro. Fiquei muito surpresa com o avanço do filme na abordagem dos temas. Fico pensando onde nos perdemos nas narrativas.


Beijos,
Pedrita

18 comentários:

  1. Acredito que seja um filme fascinante de assistir.
    .
    Inicie a semana em Paz e Amor
    Abraço

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  2. Parece ser um filme interessante! ;))
    -
    Quão cinzenta é a vida ...

    -
    Beijos, e uma excelente semana.

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    1. cidália, sim e com temática muito atual infelizmente.

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  3. Pedrita, deve ser um filme bem impactante. Um dia assistirei. Confesso que ando fugindo de coisas muito fortes, a pandemia já me deixa exausta demais e preocupada demais. Beijos

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    1. patry, o filme não tem tom melodramático. realmente os temas são fortes.

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  4. Olá, tudo bem? Realmente é um filme antigo. De 1977. Fico tenso quando alguém fala que um filme de 1995 é antigo kkkkkk Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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    1. fabio, eu ainda não acho. como acostumei a ver música antiga lá atrás, acho 1977 muito novo. acabo achando filmes antigos o do início do cinema.

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  5. Boa noite Pedrita. Triste que as homenagens só ocorram quando as pessoas partem. Parabéns pela homenagem e dica maravilhosa. Assim que tiver a vacinação, já combinei com um amigo de fazer um especial sobre São Paulo. Uma excelente segunda-feira.

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    1. luiz, eu fico bem irritada desse mal costume brasileiro. ou só qd ganham prêmios. tinham que passar bons filmes sempre. eu ainda nem sei o q vou fazer após a vacina. mas acho q só de trabalhar já vai ser maravilhoso.

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  6. Nossa deve ser um filme bem importante e reflexivo.
    O tema é por si só bastante controverso, mas deve ficar ainda mais impactante com as decisões tomadas pelas protagonistas e a maneira como são tratadas
    Levo a indicação

    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, o q gostei é q mesmo os temas sendo muito fortes, o filme não é melodramático. é a vida como ela é.

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  7. Pois é, há meio que uma má vontade na divulgação de alguns artistas, que depois de mortos passam a 'interessar' mais, por razões comerciais.
    Entre as coisas horríveis produzidas pelo patriarcalismo esteve em voga - por muito tempo - a ideia de que as mulheres (especialmente as filhas) tinham que ser 'educadas'. Daí que muito pai sádico ou simplesmente frustrado, 'baixava a mão' nas coitadas. Nenhum se sentia abusivo por isso, pelo contrário.
    O filme parece bom.

    Beijo

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    1. marly, exatamente, ele ficou possesso com a mentira e nem reparou que a mentira era pra ajudar uma amiga. e que ela não mentiu quando confrontada. concordo plenamente sobre o sadismo. um certo prazer de ter poder sobre o outro.

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