sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

A mais recôndita memória dos homens de Mohamed Mbougar Sarr

Terminei de ler A mais recôndita memória dos homens (2021) de Mohamed Mbougar Sarr da Fósforo. Esse livro estava na lista de melhores do ano de muitos amigos nas redes sociais. E pessoas completamente diferentes, desde críticos a amantes de literatura. Lázaro Ramos também virou fã e passou a indicar para os amigos. Volte e meia algum ator falava que estava lendo porque o Lázaro indicou. Comprei na Festa da USP do ano passado. Que livro maravilhoso! Daqueles que realmente queremos que todos leiam!

Obra Marché Hebdomadaire (2022) de Babacar Niang

Praticamente uma saga! O livro começa falando de literatura. Um aspirante a escritor descobre um livro desaparecido. Elimane é um autor de um livro só, igualmente desaparecido. Quanto mais o futuro escritor pesquisa sobre Elimane e sua obras, menos ele sente impulsos para escrever e sente capaz de fazê-lo. O que só piora quando um exemplar O Labirinto do Inumano chega em suas mãos. Tudo no livro é meio mágico, fantástico.
Obra de Sewa Situ-Prince Agbodjan

Depois o livro passa a contar a história de Elimane. Nada é muito claro. Um tio fica responsável pelos cuidados dos sobrinhos gêmeos. Ele decide que um ficaria na aldeia, absorvendo e trocando conhecimentos da sua cultura milenar. E o outro iria estudar na escola francesa. O que fica na aldeia sente um alívio, já que os irmãos eram rivais. Os desacertos voltam quando os dois se apaixonam pela mesma mulher. Um dos dois é pai de Elimane. 

Obra de Daou

O tempo todo o livro fala sutilmente de colonizador e colonizado, que texto brilhante. Elimane vai estudar com um padre que o acha muito inteligente e o encaminha para uma escola francesa. Lá ele bebe da cultura europeia, começou devorando a biblioteca do padre, depois as que teve acesso, até escrever seu livro que é acusado de plágio. Elimane costura trechos de textos clássicos em seu texto. O livro passa a debater sobre plágio, fusão de culturas, e inúmeros temas. Há muitas questões mágicas também. Os críticos que falaram mal do livro, que acusaram Elimane, começam a se suicidar. Elimane tinha esse poder vindo de seu povo? Era coincidência? 
Obra Os Pássaros da Felicidade (2008) de Ibra Ndiaye

O livro termina com o retorno a aldeia. Elimane também tinha feito o mesmo caminho de volta mas já tinha falecido. Que livro! Absurdamente impactada!


 

Beijos,
Pedrita

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Apocalipse nos Trópicos

Assisti Apocalipse nos Trópicos (2024) de Petra Costa na Netflix. Eu queria muito ver esse documentário que vem ganhando muitos prêmios nos festivais, principalmente internacionais. Petra Costa é uma das grandes cineastas brasileiras. Entre os prêmios de Apocalipse nos Trópicos estão International Documentary Association (IDA) de Melhor Produção e Melhor Roteiro. Dividem o roteiro Alessandra Orofino e David Barker.
 

Apocalipse nos Trópicos fala da ascensão evangélica no Congresso. Um parlamentar conta todo eufórico que a participação evangélica era pequena no Congresso e que agora somam-se mais de 100 parlamentares. Me assusta profundamente que a religião paute a política como acontecia no feudalismo. É um grande retrocesso.

Pastores que decidem em quem os fiéis irão votar. Quase como uma guerra santa. Sem questionar, fiéis votam cegamente como se fosse uma luta do bem contra o mal. Sem analisar os candidatos, simplesmente porque alguém que se acha superior aos outros define quem deve ser votado.
Muito interessante quando Petra Costa fala do apocalipse na bíblia. As imagens são de obras sacras no MASP. A documentarista fala que no apocalipse jesus descia a terra para a guerra santa e que antes do juízo final há muita dor e sofrimento. Petra Costa mostra como a interpretação do apocalipse mudou com o tempo. No capítulo Guerra Santa, ela fala que no século 19, jesus só desceria a terra depois de 1000 anos de paz. Quanto mais se trabalhasse pela paz na terra, mais rápida sua volta. Em 1800 essa visão foi completamente invertida. E agora quanto mais horrível o mundo estiver, mais perto do fim estamos. Apocalipse nos Trópicos é muito bem fundamentado, editado, inteligente. Que venham mais prêmios! Que esse obscurantismo desapareça por mais utópico seja esse desejo. Que diminua já seria um começo.
Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Uma Vida Honesta

Assisti Uma Vida Honesta (2025) de Mikael Marcimain na Netflix. Eu procurava por filmes suecos e apareceu esse. É mais ou menos, mas gostei de algumas discussões.


 

O debate que me interessou talvez não seja o mais esperado. Eu gostei do filme falar daquele período complexo do jovem que precisa decidir qual ensino superior escolher. Eu não sei se continua tão ruim como era, mas ainda se priorizam as profissões padrões, com poucas variações, negligenciando outras e colocando inúmeras sob holofotes preconceituosos em profissões diferentes. Pouco auxiliam jovens em uma análise mais abrangente de opções. O protagonista, Simon Löof, queria ser escritor, mas acha que não tem nada relevante a dizer, bom, mas uma faculdade de literatura ajudaria, até mesmo em repertório, mas ele resolve racionalizar a sua escolha. Vai para profissões óbvias, escolhe direito e tenta performar logo. Acho que esse é o maior problema e pode ser uma questão atual, resultado rápido como acontece na internet. Ele sonha ter um cargo na ONU, engraçado que é o segundo filme que fala de um aluno universitário escolher uma profissão focando na ONU. Ele é de classe média, mas faz um esforço descomunal para alugar um quarto em um apartamento de ricos. Quer se aproximar de estudantes ricos de direito para facilitar o acesso futuro. Tudo é calculado racionalmente. Os colegas ricos só o exploram. As festas no ap são caríssimas, como ele não tem recursos, reduzem o valor se ele ficar de garçom, limpar o ap. Tem livros na estante, mas não podem ser manuseados, são pra vender. Tudo é comércio. Na faculdade ele fica próximo de um casal que parece amar a escolha pelo direito, enquanto o protagonista fica só entediado. Esse foi o debate que mais me interessou.
Entediado, ele vira alvo fácil de um grupo anarquista. Ele se encanta com o modo de vida deles. O dono da casa é um ex-professor defensor do anarquismo, a casa é repleta de livros que podem ser lidos. É uma mansão antiga. O professor é anarquista, mas como os jovens, gosta de ter o dinheiro dos ricos para viver no conforto. Boas bebidas, comidas, luxos, joias. Eles não querem ajudar ninguém, querem o dinheiro só pra si. Além da aventura, o rapaz ainda se apaixona pela linda personagem de Nora Rios. E sim, ele pegou os relógios porque quis, poderia não ter agido ao comando. E mesmo que tivesse feito em um impulso, poderia não querer mais depois e se afastar. Claro que é difícil porque estava apaixonado, mas poderia se recusar a participar dos crimes. Ele escolheu, teve livre arbítrio. Sim, o grupo era manipulador, mas isso não o inocenta. O final é bem ruim. Ele resolve finalmente se afastar, depois que descobre que foi usado até mesmo pela jovem. Ela diz o que há de pior no filme, que agora ele tem o que escrever. Ninguém precisa de algo sensacionalista para escrever. Dá pra escrever mesmo tendo-se uma vida morna. 

Beijos,
Pedrita

domingo, 7 de dezembro de 2025

Amores Materialistas

Assisti Amores Materialistas (2025) de Celine Song na HBOMax. Na verdade eu insisti pra ver esse filme, larguei várias vezes. Esse filme tem inúmeros problemas, principalmente de roteiro. É um equívoco só!

A sensação que tive é que o roteiro do filme foi pensado para personagens de uns 20 anos, mas como queriam os queridinhos da vez, Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans, mudaram para pessoas de mais de 30 anos. O trio merecia um roteiro melhor. E adaptaram muito mal. O roteiro é pueril. Dakota trabalha em uma agência de encontros para ricos e é muito bem sucedida na carreira. Há filmes pra promover cruzeiros, esse deve ser pra promover casamentos que são altamente rentáveis. Essa mania de gastar fortunas em casamentos tem no Brasil também, apostam fortunas em uma noite pra todo mundo falar mal depois e se separar um pouco depois também. A protagonista está esfuziante. Não só conseguiu um encontro com um bom partido para a cliente, como deu certo e eles vão casar. A agência deve ganhar uma grana pra promover os encontros e ainda mai8s nas comissões da festa de casamento. É um comércio muito rentável de sonhos de vento. As mulheres escolhem os homens como se fossem comprar algo na prateleira, branco, mais de 1,80, rico e uma infinidade de detalhes imbecis como cor do cabelo, olhos. A "sortuda", se é que casamentos são sorte, faz uma bela festa e o irmão do noivo se interessa pela casamenteira. Ela diz que o perfil dele é perfeito, que não vão faltar candidatas na agência porque ele é o unicórnio, mas ele insiste que quer ela. O filme tenta desconstruir o amor romântico, então nada é apaixonado, explosivo, tudo é calculado. Mas soa falso de qualquer jeito. Há um retrocesso em colocar a vida em casamentos em vez de suas carreiras e o Brasil copiou essa bobagem.
Chris Evans faz o triângulo amoroso. É o pior personagem do filme que tem comportamento adolescente. Ele vive em um ap com mais dois imbecis, bem adolescentes, camisinha suja no meio do caminho, mulheres, bebidas. Pra piorar a vida profissional dele é um monte de equívoco. Ele é ator de teatro, e sonha ter sucesso na área com 37 anos. Com essa idade ele já é um ator. Sim, viver de teatro é financeiramente difícil, vive-se com pouco, mas dá pra dividir um ap ou alugar uma quitinete. Nos Estados Unidos é muito comum quarto e banheiro particular. Em vez dele trabalhar em áreas afins, dar aulas, ter cursos. Ele é garçom em casamentos. Eventos avulsos pagam muito bem, daria pra ele viver confortável, sem luxo, em um pequeno ap. Mas quem faz bico de garçom tem menos de 30 anos e tá começando na carreira. Quem é ator com mais de 30 anos, já completa a renda com trabalhos na área. E não é miserável como vive no filme. O roteirista não tem ideia como ator de teatro vive. E ainda tem preconceito.
Pra desconstruir o amor romântico, tudo é sem graça. E é falso, porque o filme só fala de casamento. Na primeira noite no apartamento do milionário, ele já entrega a chave pra ela. Sim, ele sabia que ela trabalhava na agência já que casou o irmão, mas milionário é sempre muito cauteloso em qualquer negócio. O apartamento não tinha câmeras, empregados e ele não tinha segurança. Ele vivia no fantástico mundo de Oz onde não há violência. Que bom que a vida é muito mais do que viver para casamentos, que bom que o mundo evoluiu ou pelo menos deveria.
Beijos,
Pedrita

sábado, 6 de dezembro de 2025

O Filho de Mil Homens

Assisti O Filho de Mil Homens (2025) de Daniel Rezende na Netflix. Queria muito ver esse filme tão elogiado! É baseado no livro de Valter Hugo Mãe. Eu li um único livro desse autor, agora quero ler esse. Que filme, que poesia! Me emocionei demais! Tudo é lindo! É um filme meio fantasioso, mágico, com várias histórias que se entrelaçam de alguma forma. Poesia pura!

Rodrigo Santoro está majestoso. Ele é um pescador solitário que tinha o sonho de ter um filho. O filme se passa em um pequeno vilarejo e ele espalha bilhetinhos que quer ter um filho. Até que surge a personagem de Teka Romualdo dizendo que tem um garoto que ficou órfão interpretado pelo ótimo Miguel Martinez. O pescador tinha um boneco que o acompanhava em tudo quanto era lugar, que ele falava com ele, é muito lindo. O filme foi realizado em Búzios e as paisagens são lindas!

São muitas histórias como da Juliana Caldas que adoro. A casa dela é a coisa mais linda. Tudo é milimétrico. Cada casa e ambiente parece ter o sentimento do personagem. Que filme sensorial. Ela está grávida e a médica é a maravilhosa Tuna Dwek casada com o personagem de Marcello Escorel. Augusto Madeira também está no elenco. A narração é de Zezé Motta.

São muitas histórias. Duas tristes do jovem que gosta de olhar homens e sofre por isso. Jonnhy Massaro arrasa. A mãe de Inez Viana tenta resolver a situação com um casamento arranjado com uma moça que sofreu abuso do namorado, da ótima Rebeca Jamir, que atriz linda e talentosa. A relação de amor que vai se construindo com os personagens é emocionante! "Família pode ser feita de muitas coisas." O Filho de Mil Homens fala muito de amor, acolhimento e respeito tão urgente nesses tempos.
Beijos,
Pedrita