terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Memórias de Marta de Júlia Lopes de Almeida

Terminei de ler Memórias de Marta (1888) de Júlia Lopes de Almeida da Livraria Francesa e Estrangeira Trucht-Leroy. Essa autora eu descobri na novela Lado a Lado, uma personagem falava muito de suas obras. Até agora ainda não achei o livro que falaram e ainda quero ler, A Intrusa. Li A Falência que comentei aqui. Memórias de Marta foi o primeiro da autora. É uma edição de pesquisa. Júlia Lopes de Almeida nasceu com uma saúde frágil. Não frequentou escolas convencionais. Seu pai era dono de um colégio. Primeiro estudou com sua irmã e sua mãe. A família vai viver em Portugal. Lá escreve sua primeira crônica estimulada por seu pai. Depois a família vem ao Rio de Janeiro.

Obra Porta da Policlínica (1930) de Firmino Monteiro

No Rio de Janeiro, Júlia Lopes de Almeida começa a estudar o cortiço. Há relatos que ela conheceu Raul Pompéia e que trocaram correspondências. O livro de Júlia Lopes de Almeida saiu antes, embora é o livro do Raul Pompéia que sai como primeiro livro sobre os cortiços. É incrível a obra. Marta é uma menina muito, mas muito pobre, dessa época onde as crianças pobres mal tinham o que vestir e muitas vezes passavam fome. A mãe engomava o dia todo para sustentá-la. A mãe leva a menina quando vai a uma freguesa que insiste que a menina tem que ir para a escola. Era uma época que poucas crianças iam as escolas, ainda mais as meninas. Hoje a maioria das crianças vão as escolas, mas a evasão escolar é enorme.

Obra Hora do Pão (1889) de Abigail de Andrade

É incrível como a autora coloca essa visita a freguesa da mãe de Marta. A obra é narrada pela menina. É nessa visita que pela primeira vez a menina descobre a inveja. Ela vai a um espelho com a filha da freguesa e percebe nitidamente a diferença entre as duas. Não somente na roupa, mas no rosto marcado e em outros aspectos. A mãe que não mede esforços de ajudar a filha a matricula no colégio. E é quando Marta vê perspectivas diferentes da sua mãe. Júlia Lopes de Almeida mostra em 1888 a importância do estudo ainda mais para mulheres. A menina percebe que poderá se dedicar para chegar a ser professora. 

Obra Mercado (1908) de Eugênio Latour

Marta tem uma desilusão amorosa com um bon vivant e não quer mais casar. Ela passa em um concurso para ser professora e quer viver do seu trabalho e não depender de mais ninguém. Mas ela percebe a tristeza da mãe que arranja um bom casamento para ela, com um homem mais velho, um dos fregueses da mãe, bem mais velho, estabelecido. Pobre também, mas não miserável. Ela aceita casar sem amor. É quando nasce a filha que ela recobra a felicidade e uma razão para viver.

Obra Natureza Morta (1889) de Estevão Silva

Júlia Lopes de Almeida enviou Memórias de Marta para ser publicada em capítulos nos jornais. Muitas de suas obras eram publicadas em jornais. Vivia de suas obras. Foi casada, teve filhos. Acompanhou com a família uma filha vivendo em Paris. Depois foi buscar um filho que tinha ficado doente na África, pega malária, enfraquece muito, tem problemas nos rins e vem a falecer no Rio de Janeiro. Tem várias obras publicadas e vive em um grande ostracismo nos dias de hoje. Vergonhoso! Há várias escolas de nome Júlia Lopes de Almeida. Fico pensando se os alunos sabem que ela foi uma grande escritora. Essa edição de Memórias de Marta tem textos sobre sua história, sua cronologia. É um livro resultado de pesquisa. Mas é uma edição esquisita. A capa mesmo é estranha com uma obra de James McNeill Whisler. Seria bem mais lógico algum pintor brasileiro ter uma obra ilustrando o livro.
Beijos,
Pedrita

10 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar desta escritora, todavia vários escritores sobreviveram escrevendo obras para jornais e ainda sou do tempo que o jornal principal da minha ilha tinha sempre uma tira dedicada à publicação de um romance que assim se lia aos poucos quando chegava a casa.

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    1. carlos, é inacreditável como relegam ao ostracismo escritores tão importantes.

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  2. É sempre bom conhecer novos escritos, gostei da resenha do livro, uma bela obra!
    Eu não assisti a novela Lado a Lado, ando meio por fora das novelas.
    Beijinhos ♥

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    1. andréa, era uma autora que devia ser muito conhecida. inclusive indicada para pré vestibulandos.

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  3. Oláááááá Pedrita!
    Nossa amei sua resenha <3
    Não conhecia a autora, assisti a novela Lado a Lado, na minha opinião, uma das melhores novelas que já teve, sem falar que ganhou o Emmy!
    Que interessante a relação que vc faz com a quase impossibilidade de estudo, especialmente para as mulheres, no século 19, e a evasão escolar nos dias atuais.
    Curioso como sempre existem laços de "pertencimento", a autora escrevia suas obras em capítulos nos jornais, quase como hoje, existe o Wattpad, onde os novos autores, publicam capítulos de suas obras na internet.
    Fiquei pensando no que vc diz, que muitos alunos não sabem quem foi a pessoa, a personalidade, a história de vida por trás do nome das escolas que frequentam.
    É uma triste constatação :/
    Quero muito ler e já foi para a lista dos desejados.
    Bjssss Luli

    aaaaaahhhhhh amei que vc é uma pessoa de cores vibrantes!
    Eu tenho um macaquinho e um vestido laranja que amoooo <3 Acho laranja tão cheio de boa energia :)

    Café com Leitura na Rede

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    1. luli, muito triste não conhecermos essa autora. tão importante. lado a lado foi maravilhosa. é, antes não colocavam as crianças na escola hj a maioria vai, mas raramente fica. eram muito comuns escritores escreverem em jornais os capítulos. josé de alencar também escrevia e muitos outros. vc vai gostar.

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  4. Não conheço a autora. Mas a história de vida dela é perecida com a de muitos outros.
    Uma pena não assistir mais e mais novelas da Globo.

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    1. liliane, muito triste não conhecermos. essa novela faz um tempinho.

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Cultura é vida!