quarta-feira, 24 de abril de 2024

Água de Barrela de Eliana Alves Cruz

Terminei de ler Água de Barrela (2016) de Eliana Alves Cruz da Malê. Esse livro fez muito sucesso, ganhou prêmios, elogiosas resenhas, queria muito ler. Águas de Barrela é seu primeiro livro. Na última Festa do Livro da USP adquiri com 50% de desconto. Essa capa de Bruno Pimentel Francisco é muito linda. O livro está na 7ª Edição. Que bela obra!

O marcador de livros é de uma obra de Lucia Buccini, da Livraria Cultura

O quadrinho é em porcelana com moldura de madeira, pintado por Peggy-Lou.

Obra de Rubem Valentim (1989)

A autora conta a história de sua família desde quando foram sequestrados no Continente Africano e escravizados no Brasil. Quando sua família veio no navio negreiro, já era proibida a comercialização de escravizados, mas continuou mesmo assim. Se tivessem respeitado a lei, Eliana não seria brasileira e sua família teria uma história menos triste. Toda a história de sua família foi passada pela oralidade.

Obra de Madalena dos Santos Reinbolt

Água de Barrela é aquela mistura que colocam em panos pra quarar. Boa parte das famílias de Eliana trabalharam lavando roupas. Primeiro seus parentes foram escravizados, mulheres violentadas, filhos misturados e muita, mas muita revolta. As fazendas que trabalhavam eram em Cachoeira na Bahia, cidade que quero muito conhecer. Com a libertação dos escravizados, alguns parentes foram tentar a vida em Salvador. Incrível a garra de Martha que era uma grande comerciante. Sabia perceber as necessidades e vender o que se precisava. Conseguiu juntar dinheiro e investir em joias de crioula para usar nos estudos dos seus descendentes.

Na edição há algumas fotos como de Damiana, a história demora a chegar nela. Damiana estudou em colégio religioso pago. Apesar de pagar como as outras alunas, passa a maior parte do curso lavando, passando e cuidando das roupas das outras internas brancas. Sua mãe fez de tudo para ela estudar. Seu pai roubou as joias de crioula da avó e desapareceu, mesmo assim elas não desistiram de manter a filha e neta na escola. Tanto Damiana quanto sua filha fizeram maus casamentos. Relações tumultuadas, homens irresponsáveis, machistas. Damiana estudou muito e fazia muito questão do estudo nos seus descendentes. Levava seus netos ao teatro, bibliotecas, era incansável. E deu certo, um de seus netos se formou advogado no Rio de Janeiro. A família passou por inúmeros momentos históricos como o fim da escravidão, com os negros abandonados à própria sorte, a crise de 1929, as guerras. Com as dificuldades financeiras, infelizmente tão comum no Brasil, principalmente para os mais pobres, uma parte da família vem tentar a vida no Rio de Janeiro, onde Eliana nasce.

Eliana Alves Cruz conseguiu os dados para o livro com Nunu que tinha dado muito trabalho para a família por sofrer de esquizofrenia, e que sofreu o diabo em clínicas psiquiátricas monstruosas com seus eletrochoques e violências. Uma parente que conhecia ervas que ajudava muito mais ao equilíbrio de Nunu, que os doutores. Com uma mente inacreditável, Nunu lembrava de muitos detalhes de sua família. Eliana, jornalista, checava muitos dados históricos, que batiam corretamente com os relatos de Nunu. Gostei demais obra e de contar histórias de famílias brasileiras.
Beijos,
Pedrita

10 comentários:

  1. Li, por alto, alguma coisa a respeito desse livro e ele já tinha me despertado o interesse. Agora já o incluí na minha lista de "a ler".
    Acho que a gente tem que se inteirar de estórias desse tipo. Especialmente nesses tempos tenebrosos de revisionismo histórico, em que pessoas, sem ética, têm se esforçado para apagar a história real, a fim de ocultar a subjugação e a exploração cometidas no passado, por ancestrais delas.

    Beijo

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    1. marly, é muito bom. sim, e ver a história por outro ângulo. conhecemos em geral as histórias desse período contada por brancos.

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  2. Boa noite de quarta-feira minha querida amiga Pedrita. Obrigado pela dica interessante.

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  3. Pois uma obra que deve em parte contar a história da família como do Brasil nessa zona, costumo gostar de obras assim, uma das sagas que envolve açorianos é a de Érico Veríssimo do tempo e o vento que só li um volume.

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    1. carlos, sim, amo as histórias do érico. essa é sob outro ângulo, dos escravizados. e é real.

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  4. nao conheço mas deve ser um grande livro pelo que li obrigada por partilhar tambem obrigada pelo seu carinho la no meu cantinho desejo tudo de bom feliz fim de semana com muita saude bjs

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  5. Não conhecia e fiquei encantada com sua resenha ❤
    Acho magnífico narrativas sobre histórias familiares contextualizadas na história social e que transmitem tanto aprendizado com afeto.
    Já levo a indicação.
    Desde já ansiosa pra conhecer Martha e Nanu.
    Linda demais essa capa.

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    1. luli, exato, é o olhar do escravizado, conhecemos mais histórias escritas por brancos. vc vai gostar. sim, amei a capa tb.

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