segunda-feira, 1 de agosto de 2016

12 Anos de Escravidão de Solomon Northup

Terminei de ler 12 Anos de Escravidão (1853) de Solomon Northup da Companhia das Letras. Eu tinha ficado impressionada com o filme que comentei aqui e queria ler o livro já que é o próprio negro que conta a sua história. Também queria mais detalhes dessa triste história. A escravidão é medonha, mas o fato do Solomon ser um homem livre, sequestrado e vendido como escravo, fez com que o seu relato fosse muito detalhado. O livro ressalta essa questão nos textos finais. Solomon tocava violino, sabia escrever bem, tinha noções de marcenaria, carpintaria. Com pensamento lógico, ele consegue visualizar e guardar com muitos detalhes tudo o que acontece. O quanto a informação e o conhecimento é importante para a sobrevivência. Eu comprei exatamente essa edição da foto, que é uma edição mais econômica. Tem essa capa que é o pôster do filme e outra capa belíssima que vou colocar aqui.

Solomon Northup vivia em Nova York com a mulher e filhos. Sempre tinham trabalho. Ela por ser excelente na cozinha trabalhava em vários hotéis. Ele alternava os seus trabalhos como violinista, marceneiro, em plantações. Viviam com um certo conforto e tinham 3 filhos. Dois homens oferecem a Solomon um trabalho de violinista e ele começa a ser enredado a ir cada vez mais longe de onde o conheciam. Em Washington é dopado e sequestrado, mudam seu nome, e é vendido no sul como escravo. É insuportável pensar que um homem vive como escravo 12 anos privado do convívio de sua família, sem acompanhar o crescimento de seus filhos. A escravidão já é horrível, mas o sequestro também.

Essa imagem é o único registro que tem em sua biografia. Na edição que li não há essa imagem. Solomon Northup é muito detalhista no modo como foi sequestrado, quase um relatório. Nos textos finais falam da importância desses detalhes já que tinham poucos detalhes na época sobre os horrores da escravidão. Solomon mostra a diferença entre os patrões. O primeiro era mais respeitoso. O último adorava espancar diariamente algum escravo pelo prazer que tinha na violência física. Esse patrão era tão ignorante que nem percebia que isso fazia a produtividade cair tal a exaustão dos escravos, tal os maus tratos. Solomon consegue provar que é livre trazendo seu ex-patrão, papeladas, ordens judiciais para libertá-lo. Quando começa o caminho de volta faz questão de passar por Washington para na polícia delatar seus sequestradores. Nada acontece além do julgamento, mas imagino como historicamente esse fato seja importante. A altivez desse homem é impressionante. No final do filme vem números prováveis de negros livres do norte sequestrados e vendidos com outros nomes como escravos no sul, insuportável. Havia inclusive uma lei que permitia que o homem livre sequestrado como escravo conseguisse obter a sua liberdade de volta, mas não era um caminho fácil e precisavam de brancos para auxiliarem nesse processo porque um depoimento de um negro nada valia no tribunal, só de brancos ilustres. Solomon relata muito como os escravos trabalhavam, detalhes de como viviam. Nos Estados Unidos os escravos ganhavam salvo conduto nas festas natalinas, podiam viajar perto com autorização prévia, podiam casar. E nesse período podiam fazer pequenos trabalhos remunerados. Solomon Northup relata também em detalhes como as cartas enviadas 12 anos depois chegaram no Norte e como se mobilizaram para conseguir documentos que o resgatassem. Fala inclusive que se alguns caminhos fossem diferentes, ele não teria alcançado a liberdade novamente e continuaria esquecido na escravidão.

Obra Dança dos Haymakers de Asher Brown Duran

Nos textos finais falam que foi um dos primeiros relatos detalhados sobre a escravidão nos Estados Unidos. Olhando as pinturas da época, realmente a maioria são paisagens, nem de plantações localizei. No Brasil, pela colonização, foram enviados pintores que retrataram os escravos, como os quadros de Debret. Também há livros como A Escrava Isaura de Bernardo Guimarães publicado em 1875. Esse livro brasileiro inclusive foi transformado em novela e vendida para o mundo todo. O livro 12 Anos de Escravidão vendeu 17 mil exemplares na época.

O marcador escolhido para essa leitura foi de origami feito pela Paula do Origirl.

Beijos,
Pedrita

16 comentários:

  1. Ouvi falar do filme, mas não vi, aliás já há muito tempo que não vou ao cinema nem vejo um filme. Sabia que se baseara num caso real, só não sabia que era uma autobiografia de alguém que fora livre nos EUA e raptado para escravo nos estados do sul.

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    1. carlos, o filme eu vi nos cinemas. eu vou algumas vezes no ano. a maioria vejo na tv a cabo em casa. sim, o próprio sequestrado consegue voltar e escrever a sua história. a primeira na época mais detalhada sobre escravidão nos estados unidos.

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  2. A prática de sequestrar e vender as pessoas é uma coisa milenar. Em seu livro Aponte das turquesas, a escritora/arqueologa Fernanda de Camargo-Moro descreve como eles faziam isso desde o norte da africa ate os balcãs. O império Otomano usou nos seus haréns mulheres vindas de toda a região da Europa central, dos balcãs como falei e das regiões da Asia (mongóis e uzbeques) , e quanto mais jovens mais valores tinham. Também sequestravam meninos negros para transforma-los em eunucos.
    Eu vi "12 anos de escravidão" no cinema e pela historia senti que faltava algo no filme.Não gostei da interpretação do ator. SER ESCRAVO SEGUIDO DE MAL TRATOS FÍSICOS É CERTAMENTE UMA DAS COISAS MAIS DEGRADANTES QUE UM SER HUMANO PODE FAZER COM OUTRO SEU SEMELHANTE.
    Seu post como sempre está arrasando!

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    1. fatima, eu adorei a interpretação do autor. os sequestradores se valiam dos silêncios dos proprietários de escravos no sul. no norte eram mais livres, tinham mais livres, mas levavam escondidos no sul e lá tudo ficava escondido.

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  3. Já ouvi falar do filme, que levou Oscar de melhor filme. O livro deve ser muito melhor.
    Big Beijos,
    Lulu
    www.luluonthesky.com

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    1. lulu, os dois são excelentes. não tinha como o livro trazer os relatórios do solomon. achei os dois complementares e incríveis. sem falar na interpretação do protagonista, na fotografia, no elenco. maravilhoso. o livro triste, mas fundamental.

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  4. Eu vi o filme e não poderia ler o livro no momento, pois passo por uma fase de grande intolerância com relação às coisas referentes a crueldade, ignorância e que tais semelhantes.
    Cheguei ao filme já sabendo muito sobre o horror da escravidão. Mas ele me fez refletir - novamente - sobre as questões relativas à subjugação de pessoas por questões raciais. Eu ainda fico muito intrigada quando penso na aparente tranquilidade daquela sociedade que explorava o trabalho escravo. Aquelas pessoas se tinham como superiores, aristocratas, amantes do luxo e do status quo, mas tratavam outros seres humanos de forma absurda. Não é estranho que as pessoas não percebessem a contradição absoluta entre todas as coisas que faziam e viviam? Para o bem e para o mal esse mundo é incrível!

    Beijoca

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    1. marly, o filme e o livro são fundamentais agora exatamente por essa intolerância. mas não são fáceis de ler e ver. tb me surpreendo como alguém pode viver confortável, ou até mesmo religioso, escravizando outra pessoa.

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  5. O filme é ao mesmo tempo cruel e sensacional.

    Ele transmite todo o sofrimento do personagem principal e a crueldade de vários personagens que cruzaram seu caminho.

    Bjos

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  6. Olá Pedrita
    Assisti o filme, mas não li o livro.
    Gostei muito do filme, achei incrível a fotografia, a direção e os atores escalados deram um show de interpretação.
    Um filme que fica com a gente por um bom tempo como reflexão, como pessoas são capazes de tamanha crueldade? Curioso como são "desumanos" os homens denominados seres racionais!
    A força, a coragem, a postura, a esperança e a história de Solomon são realmente dignos de registro.
    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, exatamente, foi o tempo de reflexão posterior q me fez comprar o livro pra pensar mais no assunto. no livro solomon desanima bem mais. é menos corajoso.

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  7. Enquanto assistia, lembrei muito de A Escrava Isaura. Gostei do filme, apesar de ser difícil de assistir.

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    1. bruxa, difícil de ler tb. tb pensei em escrava isaura q foi escrita praticamente na mesma época.

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  8. Oi Pedrita. Eu assisti esse filme alguns dias atrás, é muito forte e angustiante, mas um bom filme.

    Beijos,
    Pri
    www.vintagepri.com.br

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