Manas é um filme maravilhoso. Ganhou mais de 20 prêmios pelo mundo. Conta a história da vulnerabilidade de meninas na Ilha do Marajó, o que não acontece só lá. O filme conta a história de Marcielle, de 13 anos, que vive com uma família isolada, à beira do rio. É uma família numerosa, a mãe está grávida e vários irmãos. Uma irmã foi embora e a mãe conta que um homem bom a levou, um homem que a encheu de presentes. Infelizmente muitas famílias acham que um homem que dá presentes é bom e que pode levar um filho embora, mas muitas vezes eles são só aliciadores de menores para prostituição ou tráfico de mulheres. Nós só temos essa informação, que a adolescente foi embora com esse homem.
Jamilli Correa está maravilhosa! Que atriz! Ela tem somente 13 anos como a personagem. Vi uma entrevista com a diretora que disse ter sido procurada por uma mulher que contou a história das meninas da Ilha do Marajó. A diretora especialista em documentários foi ao local e começou a entrevistar as meninas, mas percebeu que isso iria vulnerabiliza-las demais, mais ainda, se colocasse elas pra contar a história no documentário. Apesar de não ter experiência com direção de atores, ela escolheu fazer um filme de ficção inspirada nessas histórias. O filme é muito delicado em contar o abuso que a jovem passa com o pai, tudo é subentendido, as meninas não tiveram acesso ao roteiro. Tudo é muito cuidadoso, mas está tudo ali pra nós. A rede que ela dormia estraga, falam pra ela dormir na cama com o pai que aparece de conchinha com a filha de manhã. Depois ele leva ela pra caçar e fica respirando atrás dela e ela toma banho depois. Tudo é sutil! Ela tenta consertar a rede, ele diz que está errado e a impede. Ele é Rômulo Braga.Com poucas palavras, ela pede ajuda a mãe, para que volte a dormir na rede, mas a mãe diz que tem coisas que são assim. Ela tem uma amiga que já tem filho e vai a balsa vender alimentos e se prostituir.
De tempos em tempos um posto de atendimento é montado. As meninas podem fazer identidade, seus documentos, tem o posto de saúde. E é a policial de Dira Paes que tenta ajudar a jovem, mas tudo é muito precário. Marcielle vai para um lar temporário, daquela amiga que vai na balsa, a mãe da menina que fica responsável, mas o pai vai buscá-la e a família não tem como impedir pela violência dele. O filme é cuidadoso, silencioso, sem música de fundo, só com os sons ambientes, poucas falas, há pouco diálogo nessas famílias e com uma temática dilacerante. Vai ser difícil Manas sair da minha pele.
Pedrita









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