terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A Pele

Terminei de ler A Pele (1949) de Curzio Malaparte. Comprei em um sebo, daquela coleção da capa vermelha da Editora Abril, por somente R$ 2,00. Esse é o primeiro post do feriado dos eventos que curti nessa época, que tem sido intenso, tenho uma coleção de posts na fila. Vocês vão ficar um tempo acompanhando o meu feriado. Eu gostei de A Pele, mas é bem difícil e pior, me pegou totalmente de surpresa em um trecho. Quem gosta de animais deve passar longe de A Pele.


Tela La Vendetta (1943) de Giorgio De Chirico



Curzio Malaparte escreve sobre suas experiências na guerra, só que mistura com delírios de febre, imaginação, fatos históricos de outras épocas, sem ficar claro o que é realidade ou ficção. É a cruel Segunda Guerra. Fiquei assombrada no texto que ele fala sobre os pobres que não conseguirem enterrar os mortos porque não tem dinheiro e os mortos ficavam dias em suas casas e depois falarem da peste. A ambição desmedida do homem contra si mesmo. Assustador! O que mais me deixou mal foi a história do cachorro, não imaginava o desfecho e não parava de chorar. Foi difícil retornar a leitura. Gostei muito de A Pele, mas jamais teria coragem de relê-lo.



Tela Soldati al teatro Redini (1940) de Giuseppe Viviani

Trechos de A Pele de Curzio Malaparte


“Eram os dias da “peste” de Nápoles.”

“A miséria dos tempos, a desordem pública, a grande mortalidade, a avidez dos especuladores, a incúria das autoridades e a corrupção geral eram tais, que, sepultarem cristãmenente um morto se tornara coisa praticamente impossível, só permitida a poucos privilegiados. Levar um morto para Poggioreale, num carro puxado por um burro, custava dez mil, quinze mil liras. E como ainda se estava nos primeiros meses da ocupaçção aliada, e o povinho não tivera ainda tempo de ganhar algum dinheiro com os negócios ilícitos do mercado negro, a plebe não podia entregar-se ao luxo de dar aos seus mortos sepultura cristã, de que eram dignos, apesar da sua pobreza. Os cadáveres ficavam cinco, dez e mesmo quinze dias nas casas, à espera do carro do lixo. Decompunham-se lentamente sobre as camas, na quente e fumarenta luz das velas, ouvindo as vozes dos parentes, o ferver da água na cafeteira e da panela de feijão no fogareiro aceso no meio do quarto, os gritos dos meninos que, todos nus, brincavam no chão, e o gemido dos velhos sentados nos vasos, no cheiro quente e persistente dos excrementos, semelhante ao que desprendem os mortos já em plena decomposição.”


Todas as telas são de pintores italianos.


Música do post: Placido Domingo - Catari, Catari (Core 'ngrato)

Beijos,

Pedrita

5 comentários:

  1. É, eu vou passar longe desse livro!
    (hoje, finalmente, consegui ver "A grande ilusão". Realmente, muito bom. Uma dica de filme (Telecine Premium): "O violinista que veio do mar", com Maggie Smith).
    Denise

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  2. Obrigado pela visita, Pedrita. Fiquei honrado em saber que entre os seus blogs preferidos estão os dos amigos Merten e Zanin. Mais uma coisa: Malaparte é um dos meus preferidos. Esse escritor toscano viveu muito tempo na mesma cidade em que meu pai viveu, Forte dei Marmi. A Pele realmente é forte. Mas mais leve é Maledetti Toscani. Bjs

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  3. Eu estava pensando em ler.

    As telas do post estão maravilhosas!

    Vi que você assistiu "Desejo e Reparação", foi um dos meus preferidos dos últimos tempos.

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  4. Pedrita, devo confessar, esse post seu me deixou com uma curiosidade desmedida. Vou ter que ler esse livro...
    aqueta-2.zip.net

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  5. dê, eu adorei o violinista que veio do mar, a mãe tb viu e adorou tb. que bom que gostou da grande ilusão, agradece a dica ao 007.

    gianinni, eu que agradeço. eu nunca tinha lido algo do malaparte.

    camila, desejo e reparação está na fila pra ser postado.

    aqueta, acho que vai gostar.

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