domingo, 18 de janeiro de 2009

1919

Terminei de ler 1919 (1932) de John dos Passos. Comprei esse livro em um sebo porque é daquela coleção caramelo da Editora Abril, Clássicos Modernos. Só depois que vi que integra uma trilogia U.S.A.. Esse é o livro do meio, fiquei curiosa de ler os outros. Eu gostei muito do estilo de narrativa, muito diferente. É período de guerra, sempre há capítulos com trechos de jornais, músicas e poemas da época, sempre com trechos mordazes e depreciativos. E depois personagens que se alternam, voltam ou não, se encontram ou não. Em 1919 todos estão entre 20 e 30 anos.

Obra The Fleet´s In (1934) de Paul Cadmus
Cada um tem um poder aquisitivo diferente e vivem situações diferentes. Mesmo alguns terem participado da guerra, eles trabalham pra Cruz Vermelha. Mostra a visão diferente de comportamentos, é a época que há uma liberação sexual, citam literatura que fala do despreendimento, de não casamento, de viver em liberdade, mas para a mulher não é bem assim, porque não há muito como se prevenir, então logo elas ficam envoltas com seus problemas de maternidade. Os homens ficam com pena delas, dos fardos que elas terão que carregar, como se eles não tivessem responsabilidade sobre os filhos, como se fosse um problema delas, nem imaginam aquela gravidez como algo que eles devam assumir. O máximo que fazem é se matarem pra conseguir dinheiro para dar a elas para que elas achem médicos que façam aborto. Nos seus pensamentos sempre eles acham que não é a hora, mesmo já tendo acontecido. Também é um período de muitas doenças venéreas. Esse livro é fácil de achar em sebos, vou tentar descobrir agora se consigo achar os outros.


Obra The Bathing Place de Edward Cucuel
1919 fala de política, guerra, filosofia, sexualidade sem discursos inflamados. Não se coloca claramente em posições. É um estilo de texto muito diferente de tudo o que já li, gostei muito. Gostaria muito de encontrar alguém que tenha lido ou estudado algo sobre ele.
Na biografia do autor nessa edição colocaram uma frase de John dos Passos que me impressionou muito e dá uma ideia de como é a obra dele:
“U.S.A. é a fatia de um continente. U.S.A. é um holding companies, alguns sindicatos, um sistema de leis encadernadas em couro, uma rede radiofônica, uma cadeia de cinemas, uma coluna de cotações da Bolsa apagadas e reescritas num quadro negro pelo contínuo da Western Union, uma biblioteca pública cheia de jornais velhos e livros de história amarrotados, com protestos escritos a lápis nas margens...U.S.A. é uma coleção de funcionários gabolas com demasiadas contas bancárias. U.S.A. é uma quantidade de gente enterrada em suas fardas no cemitério de Arlington. U.S.A. é as letras no fim de um endereço, quando se está no exterior. Mas U.S.A. é principalmente o falar do povo.”
Anotei alguns trechos de 1919 de John dos Passos:
“Oh a infantaria a infantaria
Com porcaria atrás das orelhas”

“Ir para a França a bordo do Chicago, nos princípios de junho, foi como ser de repente obrigado a abandonar a meio um livro que estivera a ler e que não chegaria a acabar. Ned e a mãe e Mr. Cooper e a escritora consideravelmente mais velha do que ele com quem dormira várias vezes, assaz inconfortavelmente no duplex que a dama possuía no Central Park South, os seus poemas, os seus amigos pacifistas e as luzes da esplanada refletindo-se tremulamente nas águas do Charles, desapareciam da mente de Dick como parágrafos de uma novela posta de lado antes do fim.”
Todos os pintores como o compositor são americanos e as obras são próximas ao lançamento do livro.

Música do post: Diverse - Soundtrack - West side story (Leonard Bernstein) - 01 - Prologue




Beijos,

Pedrita

6 comentários:

  1. Olá Pedrita
    A obra de John dos Passos é tão importante na literatura americana como a de John Steinbeck, embora este seja mais conhecido na Europa. Dos Passos foi sempre um escritor empenhado nas quesões sociais e nunca escondeu a suas simpatias políticas, fazendo sempre nos seus livros um retrato da America dessa época em que viveu de uma forma avassaladora,que deixa preso o leitor da primeira à última página. "Manhattan Transfer"e "Fadado Para Vencer" são duas obras que lemos dele e recomendamos vivamente.
    Beijinhos
    Paula e Rui Lima

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  2. oi pedrita, não li nada de John dos Passos, vou procurar me informar mais; no momento estou me deliciando com V.Woolf e não quero abandoná-la. Em tempo, Leonard Bernstein caiu como uma luva. bjs

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  3. Olá Pedrita

    Juntamente com outros escritores estadudinenses, John Dos Passos pertenceu a uma geração de conflito e inquieta que nunca se adaptou à Europa e nos Estados Unidos não encontrou um lugar. "The Lost Generation", Hemingway, Faulkner, Scott Fitzgerald, foram a geração desenraízada e, no entanto, fecunda.

    Beijinho
    Isabel

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  4. fiquei feliz de visitantes do meu blog conhecerem esse autor e dividirem comigo o que sabem sobre ele. muito obrigada

    paula e rui, a descrença dele na vida me surpreendeu.

    marcos, vc vai gostar.

    isabel, os personagens trazem essa inquietação. de não se sentirem satisfeitos em nenhum lugar, com nenhum trabalho.

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  5. Pedrita tb nao o conhecia. Como sempre vc descobrindo tesouros.

    Bjus

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  6. Olá Pedrita!
    Tenho andado em pulgas por nao entrar nos comentários. Sou uma grande admiradora do John dos Passos - escritor de descendencia portuguesa - Ele e o Steinbeck foram longo tempo os meus escritores preferidos. Agora estao vários escritores alemaes em primeiro plano.

    Até breve!

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