segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Leonera

Assisti Leonera (2008) de Pablo Trapero na sessão Cone Sul do Canal Brasil. Eu andava vendo chamadas desse filme, programei pra gravar. Na chamada achei que era um filme de suspense, mas é um drama. Que triste filme! Em estado de choque nossa protagonista acorda toda machucada, no banho vemos nas costas grandes cortes, ela ainda tem marcas de estrangulamento e inúmeros outros machucados. Só quando ela volta do trabalho é que ela vê dois homens feridos no chão. Ela não lembra o que aconteceu. A protagonista é interpretada brilhantemente por Martina Gusman.

Aos poucos vamos entendendo pedaços do que aconteceu, um pouco do que pode ter acontecido. Essa mulher foi abusada muito tempo por um suposto namorado. Ela namorava um rapaz que pediu para ficar uma semana na casa dela. Ela concordou e ele não saiu mais, quanta violência, mas o abuso continuou, ele trouxe para dentro da casa dela o seu namorado interpretado por Rodrigo Santoro. Ela conta que quando chegou em casa do trabalho, os dois estavam brigando violentamente com faca. Pelo jeito os três passaram a brigar. Mesmo muito machucada ela ainda acordou e foi trabalhar. Ela não lembra o que aconteceu. O abusador, aquele que dizia ser namorado dela pra se aproveitar dela, morreu dos ferimentos. O namorado do abusador ficou muito ferido, mas ela também estava muito ferida. Os dois foram presos então e ela grávida. Ela diz nervosa o tempo todo que só queria que eles fossem embora da casa dela. Imagino as barbaridades que sofreu com esses dois abusadores na casa dela.
Como ela está grávida, ela vai a um pavilhão que as celas não são trancadas. É um lugar repleto de mulheres com filhos, muitas crianças, sua vizinha de cela tem três filhos com ela e diz que tem mais outros em sua cidade. Sua vizinha, diz que a situação da moça deverá ser diferente, já que ela tem dinheiro e pode ter um bom advogado. A mãe da moça grávida que contrata um péssimo advogado. Inclusive a mãe dela só aparece quando o neto nasce, ignora a filha. Pelo menos na cadeia ela finalmente aprende que há relações verdadeiras, pessoas que realmente são amigas. Sua vizinha de cela é quem ajuda, principalmente assim que o bebê nasce. Ela tem muita dificuldade de dar leite porque as presas gritam muito com o bebê chorando e é a vizinha que dá de mamar. A amizade delas é muito linda. Bonito ela descobrir que há pessoas que ajudam, que não querem só explorar o outro. 

As mães podem ficar com os filhos até eles completarem 4 anos, mas ela acredita que sairá após o julgamento antes disso. Só que com a umidade no presídio, chuvas constantes e frio, seu filho adoece. Ela pede então a avó, interpretada por Elli Medeiros que leve seu filho ao médico. A avó simplesmente desaparece com o neto. Quanta perversidade. Não atende os telefonemas da filha, não diz como o neto está, se sarou. A moça consegue obrigar que a avó venha vê-la e a avó mais uma vez não traz o neto. É só aí que a moça consegue um advogado realmente preocupado com seu sofrimento, quem ajuda é sua amiga vizinha de cela que agora já está fora do presídio.

Acontece então o julgamento e o machismo fica mais claro ainda. A moça é colocada frente a frente com o rapaz que se enfiou na casa dela pra ficar com o namorado. Outro abusador. Mas o machismo dos mediadores acreditam na palavra do homem, não da mulher, quanto absurdo. Acreditam na palavra de um homem que se enfiou na casa de uma mulher sem o consentimento dela, convidado por outro homem enfiado na casa dela. A palavra desse abusador é levada em conta, não a dela. Que horror! É no julgamento que ficamos sabendo que a mãe dela, aquela avó que desapareceu com o filho dela, abandonou-a quando era criança. Ela viveu com o pai. E entendemos que essa moça amava muito o pai, porque batizou o seu filho com o nome dele. Como diz a advogada, essa moça desde a infância sofreu contínuos abusos e continuou sofrendo quando esses homens invadiram sua casa e não mais saíam mais. Só ela é condenada então, quanta injustiça. 
Ela consegue um indulto para visitar o filho, poderia ficar 12 horas com ele. Ela não via mais seu filho. A avó não visitava a filha, nem levava o neto. Não dava informações, fico imaginando quanto sofrimento. Ela vai então passar as horas com o filho. Gostei do desfecho. Essa mãe nunca teria paz vivendo perto da avó que ia fazer de tudo para afastar a criança dela. O companheiro do namorado dela também parecia que nunca ia deixá-la em paz, vivia atrás dela com chantagens. Não concordo com atitudes fora da lei, mas confesso que foi difícil não se solidarizar com essa mãe constantemente violentada pelas pessoas próximas e pela justiça, se é que pode-se chamar de justiça.

Beijos,

Pedrita

10 comentários:

  1. Filme nacional, não tenho vontade de vê. Muito raramente me interesso por algum

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  2. É mais um filme que relata o inferno da prisão e o emaranhado que são as leis nos países da América Latina.

    Uma história dura e extremamente triste.

    Bjos

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    1. hugo, é um filme sobre a dura condição da mulher em países machistas principalmente latino-americanos.

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  3. Olá, Pedrita!
    Eu gosto desse tipo de filme, infelizmente é uma realidade que muitos passam na prisão.

    Beijinhos

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  4. Olá Pedrita
    Assisti o filme para um trabalho, faz tempo quando foi indicado pela Argentina ao Oscar de melhor filme estrangeiro na época, lembro que achei desumano e cruel.
    O que chamava a minha atenção era a co-produção com o Brasil e o investimento da Coreia do Sul, além do nome Leonera significar em espanhol lugar onde se mantém preso os leões, no caso, leoas.
    Hoje lendo sua resenha penso que é um bom filme, não é fácil e não oferece respostas, mas faz todo sentido dentro do contexto dos países latino americanos.
    A Martina é esposa do diretor Pablo Trapero e segurou bem o papel de protagonista.
    Bjs Luli

    Café com Leitura na Rede

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    1. luli, não sabia q a argentina tinha indicado ele ao oscar. confesso que não tem o perfil do oscar. é latino demais. tb me chamou a atenção as co-produções, mas na tag coreanos eu fui até olhar e realmente eles fazem várias co-produções bem improváveis. nao é um filme fácil, mas eu gostei bastante tb. não sabia q a martina é esposa do diretor. ela está surpreendente. qd ela se desequilibra, consegue mesmo se entregar a ira. até eu fiquei desconcertada.

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  5. Eu tinha visto também as chamadas para este filme, fiquei interessada e acabei me esquecendo, por causa da viagem e outras razões. Parece ser realmente impactante.

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