Os Maias é um livro extenso que passa em duas gerações pelo menos. Atráves de dois personagens, pai e filho, o autor mostra as diferenças das educações e suas correntes ideológicas. Pedro é criado dentro de todo o atraso da religião, com todo o seu fervor católico e seu atraso intelectual. Carlos Eduardo já é criado pelo avô, dentro da corrente do liberalismo, onde a ciência, a filosofia e a formação intelectual é a base de sua formação. Há ainda uma terceira personagem, Maria Eduarda, que é criada em meio a vida noturna de Paris, muitos amigos, sua mãe tinha muitos amantes e muitos clientes. E por último, Ega, que é filho de uma mãe carola e apesar de renegar todas as suas origens do catolicismo ferrenho, é do dinheiro dela e do seu amigo Carlos que ele vive, porque boêmio confesso, espalha suas ideias e suas transgressões em discursos na vida noturna, mas não transforma nada do que pensa e idealiza em fonte de renda, não escreve artigos, nunca concluiu um livro e está envolvido em confusões. Carlos Eduardo também não precisa trabalhar. Se forma médico, escreve alguns artigos, mas como o próprio Ega diz, com dinheiro aos poucos tudo é possível se esquecer. Com dinheiro é possível viajar, se mudar, conhecer outras pessoas. O dinheiro atenua as tragédias da vida.
Conversei bastante com minha irmã sobre a adaptação para a minissérie que é belíssima, mas traz algumas pequenas modificações com o objetivo de ficar mais dramático, denso com um pouco de exagero no melodramático. Marília Pêra interpreta Maria Monforte nos últimos capítulos da minissérie, quando Maria Monforte já não existia mais e tinha morrido do coração, não de tuberculose. Maria Monforte morreu quando vivia com a filha em Paris. A filha inclusive viveu muito com a mãe, não ficou tanto no convento. Ficou lá só o tempo suficiente dos estudos e sua mãe a visitava com regularidade. A personagem da Eva Wilma aparece muito pouco no livro, é mencionada muito rapidamente, umas três vezes. O próprio avô do Carlos Eduardo aparece pouco e ele não é contra o Carlos Eduardo comprar a casa dos Olivais, não interfere no relacionamento do neto, fica inclusive bem distante dos fatos. O Ega pede ao Vilaça que conte ao Carlos sobre a sua irmã, e o Vilaça acha um horror aparecer naquele momento mais um herdeiro para dividir a herança. Pouco se incomoda com a revelação do parentesco dos dois e repete umas três vezes que é uma maçada a herança ser desmembrada. Tanto que Maria Eduarda recebe pouco do que lhe cabe. Ela não quer a herança, mas mesmo assim, o Vilaça só passa uma boa quantia, mas muito aquém do que ela realmente tinha direito. A espanhola teve alguns momentos com o Carlos Eduardo no período da faculdade, muito rapidamente. Não aparece depois e nem tampouco lê a mão de Carlos e fala da mulher que não era casada. Eusébiozinho e sua irmã aparecem muito pouco, ela menos ainda. Ele ainda aparece um pouco, mas não tanto quanto na minissérie. As festas de Maria Monforte são somente mencionadas muito rapidamente. E Carlos não vai se despedir da irmã quando ela vai partir na estação de trem. Assim que toda a história trágica aconteceu, Carlos Eduardo viajou com o Ega para a América do Norte e depois passaram por uns dez anos viajando pelo mundo. É quando voltam para Lisboa, para o Ramalhete e então que acontecem aquelas cenas iniciais da minissérie. Mas não parece pela caracterização dos dois que dez anos haviam se passado. A sensação é que a minissérie carregou um pouco a mão no melodrama. Apesar das diferenças, a minissérie é impecável e belíssima!
Anotei alguns trechos de Os Maias de Eça de Queirós:
“A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete.”
“Assim acontece com as estrelas de acaso! Elas não são duma essência diferente, nem contêm mais luz que as outras: mas, por isso mesmo que passam fugitivamente e se esvaem, parecem despedir um fulgor mais divino, e o deslumbramento que deixam nos olhos é mais perturbador e mais longo...”
“Ega declarou muito decididamente ao Sr. Sousa Neto que era pela escravatura. Os desconfortos da vida, segundo ele, tinham começado com a libertação dos negros. Só podia ser seriamente obedecido, quem era seriamente temido... Por isso ninguém agora lograva ter os seus sapatos bem envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua escada bem lavada, desde que não tinha criados pretos em que fosse lícito dar vergastadas... Só houvera duas civilizações em que o homem conseguira viver com razoável comodidade: a civilização romana, e a civilização especial dos plantadores da Nova Orleans. Por quê? Porque numa e noutra existia a escravatura a sério, com direito de morte!...”
As duas telas são de pintores portugueses e foram realizadas no período que o livro foi publicado.
From Mata Hari e 007 |
Beijos,
From Mata Hari e 007 |
Pedrita
Uma sugestão apenas:
ResponderExcluir"O Conde de Abranhos" de Eça.
Depois diga se gostou.
Oi,passei pra conhecer seu blog, bjs boa semana
ResponderExcluiraguardo sua visita :)
Pedrita,
ResponderExcluirbacana, o comentário.
Os Maias era o livro favorito de meu avô, que o relia pelo menos uma vez por ano.
Até hoje, quando releio Os Maias ou ouço falar do livro, penso nele e a leitura se torna ainda mais agradável.
Beijos,
Júlio
Olá Pedrita!
ResponderExcluirMaravilhosa esta crónica sobre "OS Maias". Em tempos que já lá vão, a nossa televisão transmitiu numa mini-série a adaptaçao ao pequeno écran deste livro fabuloso que estud´mos no liceu. Um dos actores da série era o Rubens de Falco, que na época ficou célebre aquando da transmissão da novela "Escrava Isaura".
Regressando ao Eça recomendamos o livro mais amado aqui da casa "A Cidade e as Serras".
Beijinhos
Paula e Rui Lima
e a biografia do diretor de Os Maias, Emilio Di Biasi, já está pronta... escrita por mim... hehehe... já está no forno da Imprensa Oficial... e deve ser lançada em breve... te aviso e faço questão da sua presença (e da do 007 também), heim? beijocas, Erika Riedel
ResponderExcluirConcordo com a Paula e o Rui: Cidades e as Serras é o meu Eça preferido (aliás, eu também tenho esse livro e posso te emprestar).
ResponderExcluirGostei da série mas achei o livro muito melhor. Para a série ficar beeemmmm comprida, eles tiveram que incrementar as histórias dos personagens secundários ( os Gouvarinhos, a espanhola, Maria da Cunha). Realmente, a série ficou muito melodramática (não aguentava mais a Ana Paula Arósio chorando nos últimos capítulos) e o livro é mais ácido do que melodramático.
Denise
Ainda não li... mas já esta anotado... estava com saudade desse espaço... fiquei muito afastada da blogosfera mas agora estou voltando...
ResponderExcluirUm clássico!!! Apesar de ter lido resumos e resenhas, não li a obra inteira ainda. :(
ResponderExcluirBeijos!
eça é o único escritor que eu tenho a obra completa, para relaxar prefiro "a cidade e as serras", mas confesso que os maias são o melhor retrato do portugal do sec XIX, embora o livro não necessitasse de ser tão longo, é mesmo um clássico. a escrita de eça é uma maravilha.
ResponderExcluirOlá Pedrita
ResponderExcluirDo Eça eu gosto de todos, mas os Maias eu nem sei quantas vezes o li, lembra-se do gato de D. Afonso da Maia? D. Bonifácio de Calatrava, o leal amigo que o acompanhava à mesa nas refeições.
Beijinhos
Isabel
nossa, esse post bombou!
ResponderExcluirquintela, esse eu não li.
júlio, olha só, é a minissérie preferida da minha mãe. ela me conta sempre quantas vezes viu esse ou aquele capítulo. diz q muitas vezes repete antes do ator a fala daquela cena.
paula, rui e dê, eu tenho e li a cidade e as serras, mas não é o meu preferido.
erika, que máximo, estarei lá.
ana, q bom q voltou.
carla, vc vai amar
geocrusoe, eu amo livros extensos. adoro pq se perdem neles mesmos e revelam muito.
isabel, o gato é fofo!
mENIA,
ResponderExcluirAINDA PRECISO LER ESTE LIVRO, EU GOSTO MUITO DO eÇA DE qUEIROZ, AINDA MEU ESCRITOR PORTUGUES PREFERIDO.