sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Vidas Partidas

Assisti Vidas Partidas (2016) de Marcos Schechtman no Canal Brasil. É um filme sobre violência doméstica com um roteiro de José Carvalho muito bem escrito e construído. O filme é muito bem realizado também. Domingos Montagner está impressionante como o marido violento. Naura Schneider está ótima. Gostei que o filme vai mostrando o casal em harmonia, com uma vida sexual intensa, duas filhas pequenas lindas. Gostei também que os protagonistas são universitários pós-graduados. Ele é um conceituado economista e ela uma cientista premiada. O filme é ambientado na década de 80.

Gostei que o filme vai mostrar os sinais de exageros do marido nas sutilezas. Exagerado com segurança da casa que tinha inúmeras chaves controladas por ele, compartimentos com chaves, cadeados que só ele tinha acesso. Vamos reparando os exageros nos olhares do marido aos colegas de trabalho da esposa, nas ruas. Linda, ela se veste bem, comportada, mas sensual. O marido não admitia que as filhas procurassem a mãe durante à noite, é bem violento com a criança que chora à noite. A mulher, sem o marido saber, que consegue um emprego pra ele. O conhecido que ajuda a esposa está preocupado se o marido vai se adaptar, já que vai ter um chefe, ele não sabe se o marido vai aceitar se subordinar a alguém. Outra característica desse marido e de vários possessivos é afastar a esposa de todos, inclusive da família dela. Ele fazia de tudo para rejeitar os eventos em família e claramente ficava contrariado com a alegria da esposa em família. Os sinais estavam ali, mas ela não queria ver. 
Ela recebe um tiro, o marido também. Muitos acham que não houve assalto, mas o marido reconhece os assaltantes. Nós vemos depois que ele paga com o dinheiro da venda do carro da mulher um policial corrupto interpretado por Milhem Cortaz.

A esposa após o assalto fica em cadeira de rodas e diz a irmã que o marido escreve diariamente para ela. Bem feito o filme mostrar a mulher cedendo as inúmeras cartas, pedidos de perdão e voltando para casa. E como é comum na época, o marido que fica com as filhas, já que tudo parecia um assalto. Porque o marido conseguiu tudo o que queria, as sutilezas desaparecem. A mulher também sem proteção, confronta o marido em vez de ir embora com as filhas. Na lei ela não poderia ir embora, perderia a guarda das filhas e seria muito prejudicada em um desquite litigioso. Outro fator feminino muito clássico dessa época e ainda recorrente é a moça que vive na casa com eles interpretada por Georgina Castro. Ela cuida da casa, dorme com as meninas, não tem vida própria. Vive da servidão aos patrões. Outra mulher subjugada a uma condição de inferioridade e submissão. Importante o filme ainda mostrar o poder do dinheiro e a cultura machista. Infelizmente no Brasil não nos surpreendemos com um policial corrupto que mal conhecia a família se beneficiar de uma tragédia. O que assusta é o guarda da rua, que conhecia todos, estava sempre próximo, aceitar encobrir o falso assalto, ajudar a esconder pistas por dinheiro. Foi inteligente o filme escolher um ator, o Fábio de Luca, com aspecto simpático, amigo da família. Seria mais fácil aceitarmos se fosse um homem rude e aparentemente violento. Essas sutilezas no filme que tanto me agradaram. Mostrar que nem tudo é o que parece ser. Ainda no elenco: Suzana Faini, Gabriela Munhoz, Juliana Schalch, Nelson Freitas, Ana Maria Orozco, Jonas Bloch, Augusto Madeira, Cacá Amaral, Jaime Leibovitch e Denise Weimberg. Lindas as meninas que fazem as filhas do casal Camila de Oliveira e Ana Paula Rimes.

Beijos,
Pedrita

12 comentários:

  1. Não consigo gostar de filmes nacionais.
    O Domingos era um feio charmoso.

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    1. liliane, acho o domingos lindo. muito triste que agora só no passado.

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  2. Olá, Pedrita!
    Eu assisti, infelizmente ainda existe esse tipo de marido.
    Uma pena que perdemos o Domingos Montagner, ele faz falta no mundo artístico.

    Beijinhos ♥

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    1. andréa, muito triste mesmo e que não percebam que estão desajustados. triste demais tb não existir mais o domingos.

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  3. Nossa, este parece ser dos bons, vou procurar vê-lo. Os assuntos abordados são 'atuais' e dignos de reflexão, num momento em que muita gente parece disposta a relativizar coisas como a violência contra a mulher, a corrupção em certas esferas, etc.

    Beijoca

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    1. marly, é muito bom sim. infelizmente os temas são atuais demais. verdade, muita gente minimiza essas temas.

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  4. Olá Pedrita
    Quero muito assistir esse filme, reflexivo, importante, necessário do ponto de vista cultural e como "utilidade pública"
    Eu acho que apesar de algumas coisas positivas relativas ao tema, ainda há muito o que se fazer, muito o que se debater e muitas transformações a serem colocadas em pauta.
    Acabei de comentar lá no blog da Liliane sobre violência e repito aqui, meu namorado é militar e ele conta cada coisa que fico chocada :(
    Também acredito que ninguém "se torna" violento (ah ficou desempregado, começou a beber e a bater na mulher, coitado!), é um desvio não de personalidade mas de caráter (ele repete o que vê em casa na infância? talvez. Tem quem teve infância com base na violência e nunca encostou um dedo na esposa) independente de qualquer coisa ele vai fazer e ele dá sinais siiiiiiiim!
    Infelizmente por estarem apaixonadas ou por relativizarem, muitas mulheres "não querem ver".
    E depois por medo ou vergonha não querem denunciar :/
    Como sempre arrasou no post!
    Bjs Luli

    Café com Leitura na Rede

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    1. luli, concordo muito com o q disse. terapeutas falam que quem sofreu violência pode escolher o modelo ou o anti-modelo. e na vida adulta a pessoa pode perceber que algo não está certo. há inclusive grupos para conversar com os agressores. mostrar q há outras formas de se relacionar. e vários nunca se endireitam. aprendi tb q o silêncio é a pior arma para a violência e em geral os agressores consciente ou inconscientemente buscam esse isolamento. fazem de tudo para o companheiro não ter amigos e se afastar dos familiares. por isso é tão importante conversar. e são sinais. sabe, eu só achei críticas de críticos de homens e eles falaram q era exagerado. eles não sabem o q dizem. é sutil no começo. só olhares, afastamento da família. alguns momentos sem violência física. qd a mulher o perdoa já de cadeira de rodas e volta, ele tem o aval de q estava certo, mesmo q inconscientemente e é qd fica literalmente monstro. é muito sério isso. e os críticos não perceberam. qd o marido começa a perceber q a esposa não vê mais ninguém, q se silencia, é qd ele começa a ficar mais violento. é como se ele passasse a ter mais permissão, claro q nao tem a permissão, mas são os fatos q vão mostrando a ele q ninguém vai ficar sabendo. se alguém para essa pessoa, conversa com ela, pode ajudar a vítima. em geral não serve muito alguém da família dela, mas alguém de confiança dele a ponto de levá-lo a algum tratamento.

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  5. Olá, tudo bem? Ontem tentei publicar o comentário aqui e não consegui. Tentei assistir ao filme no cinema, mas ficou pouquíssimo tempo em cartaz. Duas semanas, no máximo.. AcabEi de chegar da inauguração do Sesc 24 de maio. Publicarei um post no meu blog ainda hojE. Bjs, Fabio www.tvfabio.zip.net

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    1. fabio, que chato. em geral não tenho problema algum para comentar aqui e nos blogs amigos do blogger e blogspot. eu ia no evento do sesc. mas tive outro compromisso.

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