Eu não gosto de ler sinopses antes de ler livros, já que muitas revelam mais do que deveriam, então desconhecia sumariamente a estrutura do livro. Fiquei maravilhada no início que dizia que o livro permitia várias leituras. Eu segui a orientação inicial. Ler do início até o capítulo 56, que traz o Fim. Depois segui pela ordem sugerida pelo autor, como um Jogo de Amarelinha. Comecei pelo capítulo 73, e a cada final de capítulo lia o que o autor me enviava. Simplesmente genial.
Obra Conceito Espacial (1965) de Lucio Fontana
Nosso protagonista é muito perturbado. Ele tem uma relação doentia com a Maga. É difícil sabermos o que é delírio ou realidade. Fiquei chocada com a presença do bebê. É claro para mim que é filho dele, mas ele sempre se refere a criança, ele nunca assume a possibilidade que é seu filho. Parece que pelo fato dele ter sugerido o aborto, e ela teimosamente não ter aceito, ele está livre agora da responsabilidade sobre eo bebê, deixa de ser seu, mas também pode ser porque sempre acha que Maga o traiu e nunca sabemos o que é verdade ou delírio de sua mente confusa. Tudo em seu raciocínio é perverso, manipulador e cruel. Eles também vivem em pobreza quase miserável.
O Jogo da Amarelinha é um livro muito complexo, com sentimentos muito vastos, do ódio ao amor, posse ao desprezo. Fiquei absurdamente embebida naquela narrativa doentia. Também nada é claro, há inúmeras lacunas, e talvez seja o que faça de O Jogo da Amarelinha mais fascinante, a dúvida. A não certeza de nada. Como se uma mente perturbada nos levasse a diversos caminhos, mas não há certeza de que realmente aconteceram. Devorei avidamente a tortura de seus personagens e pensamentos confusos.
Seguem trechos da obra O Jogo da Amarelinha de Julio Cortázar, mas merece ser lido na íntegra, várias vezes e com várias construções de ordens dos capítulos:
“Acostumaram-se a comparar as colchas, as portas, os abajures, as cortinas; os quartos dos hotéis.”
“Por cima ou por baixo, Big Bill Broonzy começou a cantar See, see, rider; como sempre, tudo convergia de várias dimensões irreconciliáveis, um grotesco collage, que era preciso montar com vodca e categorias kantianas, esses tranqüilizantes contra qualquer coagulação demasiado brusca da realidade. Ou como quase sempre, fechar os olhos e voltar para trás, para o mundo, para o confortável mundo de qualquer noite, escolhida cuidadosamente entre o baralho aberto. See, see, rider, cantava Big Bill, outro morto, see what you have done.”
“Em Paris somos como cogumelos, crescemos nos corrimões das escadas, em quartos escuros onde cheira a gordura, onde a gente faz o amor todo o tempo e, depois frita ovos e põe discos de Vivaldi, acende cigarros... todos nós fazemos o amor e fritamos ovos e fumamos, ah!, nem pode imaginar tudo o que fumamos e o tanto que fazemos o amor, parados, deitados de joelhos, com as mãos, com as bocas, chorando ou cantando, e lá fora existe de tudo, as janelas dão para o ar e isso começa com um pardal ou uma goteira, aqui chove muitíssimo.”
Não tenho a menor dúvida: trata-se de um grande livro. E um viva para os sebos. E outro para você, uma leitora incansável. Beijos.
ResponderExcluirEsse livro me interessou muitíssimo mesmo. VaLeU a dica, Pê! Qunato ao comentário que você deixou no meu blog, eu diria que você está certa só em parte, uma parte bem pequena. Mas longe de mim querer começar um debate teológico por aqui hehehehe, até porque isso não é o meu forte hehehehe. Se você quiser, pode me mandar um e-mail, que eu respondo. Beijos, bom fim de semana!
ResponderExcluiraqueta-2.zip.net
Esse livro é realmente maravilhoso, uma leitura fascinante!
ResponderExcluirAs imagens do post são lindas, me fizeram lembrar das mostras que eu ia quando morei em Buenos Aires.
Pela música que eu estou ouvindo agora em seu blog, pelo visto a Maga tem um gosto musical excelente!
ResponderExcluirE quanto ao livro, deve ser um jogo de amarelinha mesmo! Só que, pelo o que eu li aí sobre o protagonista, parece que ele não vai chegar no "10", não é? Hehehe!
Passe lá no meu blog e deixe seu comentário!!!
Pedrita, uma vez eu vi um documentário sobre a vida de Julia Cortazar. Gostei muito. Mas nunca li um livro do autor. Gostei das imagens do post.
ResponderExcluirBeijos
obrigada moacy, eu gostaria e precisaria de ler mais, mas faço o que posso.
ResponderExcluiraqueta, esse livro é muito bom.
camila, que bom que gostou das telas.
sim, a maga tem um ótimo gosto musical.
Vou deixar um comentário mas não li o post, já que também não gosto de ler resenhas. É um livro que está na minha estante (com mais outros 8) para posterior leitura.
ResponderExcluirAgora, tenho que ler Neve, já que alguém me emprestou, sabe?
Denise
POIS É. Eu também, a anos quero ler e nunca o adquiro. Nas livrarias está os olhos da cara de tão absurdamente caro! Mas consegui num sebo aqui no Catete, RJ. Aliás esse sebo maravilhoso é tudo o que um acumulador de livros deseja! Fiz uma feira hoje! Bjs.
ResponderExcluirfatima, bacana. eu comprei em um sebo e nem foi muito barato pq é livro raro aqui infelizmente.
ExcluirNão associei a ideia da criança poder ser filha dele, mas tem lógica vendo o comportamento posterior de Maga.
ResponderExcluirEu segui mesmo o guia de Cortázar, me perdi uma vez e depois repus a ordem.
carlos, eu não me perdi mas não lembro se tinha tempo na época então li de uma tacada só.
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