Nosso protagonista trabalha na Conservatória Geral do Registro Civil. É um funcionário exemplar dentro daquele ambiente burocrático e repetitivo. Lida eternamente com os nomes, faz os verbetes, tudo impessoal e distante. Ele é solitário e mora em um quartinho na própria Conservatória. Um dia fica curioso pela pessoa do verbete, quem será? Começa então uma peregrinação para saber o paradeiro daquele mulher, colocando em detrimento o seu honrado serviço, criando suspeitas. Toda essa busca e a Conservatória é muito surreal, mas tão próxima da burocracia dos dias de hoje, onde somos verbetes e números. O texto é complexo e incrível!
Obra de Eduardo Nery
Eu bebi cada gota do maravilhoso texto de José Saramago. Todos os Nomes é incrível em cada momento único. Me surpreendi com a reunião do supervisor da Conservatória sobre os vivos e os mortos. É muito surreal! Apesar dele falar da colocação dos verbetes dos vivos e dos mortos, é um texto magnífico e muito surreal sobre a morte. A cena no cemitério também é incrível. Absolutamente surpreendente os textos sobre vida e morte e toda a subjetividade e surrealidade.
Anotei alguns trechos de Todos os Nomes de José Saramago, mas é uma obra pra ser ler na totalidade, linha por linha, todos os seus raciocínios ou ausências deles:
“Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita, revestida de esmalte.”
“Além do seu nome próprio de José, o Sr. José também tem apelidos, dos mais correntes, sem extravagâncias onomásticas, um do lado do pai, outro do lado da mãe, segundo o normal, legitimamente transmitidos, como poderíamos comprovar no registro de nascimento existente na Conservatória se a substância do caso justificasse o interesse e o resultado da averiguação pagasse o trabalho de confirmar o que já se sabe.”
“Em primeiro lugar, é uma absurdidade do ponto de vista arquivístico, considerando que a maneira mais fácil de encontrar os mortos seria poder procurá-los onde se encontrassem os vivos, posto que a estes, por vivos serem, os temos permanentemente diante dos olhos, mas, em segundo lugar, é também uma absurdidade do ponto de vista memorístico, porque se os mortos não estiverem no meio dos vivos acabarão mais tarde ou mais cedo por ser esquecidos, e depois, com perdão da vulgaridade de expressão, é o cabo dos trabalhos para conseguir descobri-los quando precisamos deles, como também mais tarde ou mais cedo sempre vem acontecer.”
“Diga lá, Se for certo, como é minha convicção, que as pessoas se suicidam porque não querem ser encontradas, estas aqui, graças ao que chamou a malícia do pastor de ovelhas, ficaram definitivamente livres de importunações, na verdade, nem eu próprio, mesmo que o quisesse, seria capaz de lembrar-me dos sítios certos, a única coisa que sei é o que penso quando passo diante de um desses mármores com o nome completo e as competentes datas de nascimento e morte.”
Todas as telas são de pintores portugueses.
Música do post: Acordai de Fernando Lopes-Graça (É preciso apertar o play)
"Eu bebi cada gota do maravilhoso texto de José Saramago."
ResponderExcluirAchei linda essa frase!!! \o/
Ah, sobre esse widget das musiquinhas... Não seria melhor você colocar ele na parte do post no layout? Tem como fazer isso no blogspot, naquele editorzinho.
O negócio é grande demais pro espaço em que está. Dá pra botar abaixo dos posts. :P
Fikdik
Saramago é demais!!!!
ResponderExcluirDenise
Oi Pedrita.
ResponderExcluirAinda não li este livro. Fiquei muito curiosa e resolvi pegar na biblioteca para ler.
Seu blog está cada vez melhor ...
Bjs.
Elvira
obrigada tati, denise e elvira.
ResponderExcluirOlá, Pedrita,
ResponderExcluirLi muito pouco de Saramago, apenas "O evangelho...". Um dia comecei a ler Todos os Nomes, mas não era um bom momento e parei logo. Mas você me animou a começar de novo, assim que possível. Obrigada! Agora estou na empreitada Proust (Em busca do tempo perdido).
Também tenho um blog, que gostaria que conhecesse e opinasse, já que é boa leitora:
www.tecidodepalavras.blogspot.com
Abraços.
é de longe o maior escritor vivo. adoro.
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