terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Todos os Nomes

Terminei de ler Todos os Nomes (1997) de José Saramago da Companhia das Letras. Peguei esse livro emprestado da minha irmã, eu adoro esse autor e gostei demais de Todos os Nomes. Me lembrou bastante O Processo e O Castelo de Kafka. Minha irmã igualmente se surpreendeu com a genialidade de José Saramago, de onde tiraria tanta imaginação e criatividade. O livro que li não é o dessa capa, é da primeira, cinza, e que gosto muito.

Obra de Abreu Pessegueiro

Nosso protagonista trabalha na Conservatória Geral do Registro Civil. É um funcionário exemplar dentro daquele ambiente burocrático e repetitivo. Lida eternamente com os nomes, faz os verbetes, tudo impessoal e distante. Ele é solitário e mora em um quartinho na própria Conservatória. Um dia fica curioso pela pessoa do verbete, quem será? Começa então uma peregrinação para saber o paradeiro daquele mulher, colocando em detrimento o seu honrado serviço, criando suspeitas. Toda essa busca e a Conservatória é muito surreal, mas tão próxima da burocracia dos dias de hoje, onde somos verbetes e números. O texto é complexo e incrível!

Obra de Eduardo Nery

Eu bebi cada gota do maravilhoso texto de José Saramago. Todos os Nomes é incrível em cada momento único. Me surpreendi com a reunião do supervisor da Conservatória sobre os vivos e os mortos. É muito surreal! Apesar dele falar da colocação dos verbetes dos vivos e dos mortos, é um texto magnífico e muito surreal sobre a morte. A cena no cemitério também é incrível. Absolutamente surpreendente os textos sobre vida e morte e toda a subjetividade e surrealidade.

Obra O Bejio de Maria Helena Pais de Abreu

Anotei alguns trechos de Todos os Nomes de José Saramago, mas é uma obra pra ser ler na totalidade, linha por linha, todos os seus raciocínios ou ausências deles:

“Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita, revestida de esmalte.”

“Além do seu nome próprio de José, o Sr. José também tem apelidos, dos mais correntes, sem extravagâncias onomásticas, um do lado do pai, outro do lado da mãe, segundo o normal, legitimamente transmitidos, como poderíamos comprovar no registro de nascimento existente na Conservatória se a substância do caso justificasse o interesse e o resultado da averiguação pagasse o trabalho de confirmar o que já se sabe.”

“Em primeiro lugar, é uma absurdidade do ponto de vista arquivístico, considerando que a maneira mais fácil de encontrar os mortos seria poder procurá-los onde se encontrassem os vivos, posto que a estes, por vivos serem, os temos permanentemente diante dos olhos, mas, em segundo lugar, é também uma absurdidade do ponto de vista memorístico, porque se os mortos não estiverem no meio dos vivos acabarão mais tarde ou mais cedo por ser esquecidos, e depois, com perdão da vulgaridade de expressão, é o cabo dos trabalhos para conseguir descobri-los quando precisamos deles, como também mais tarde ou mais cedo sempre vem acontecer.”

“Diga lá, Se for certo, como é minha convicção, que as pessoas se suicidam porque não querem ser encontradas, estas aqui, graças ao que chamou a malícia do pastor de ovelhas, ficaram definitivamente livres de importunações, na verdade, nem eu próprio, mesmo que o quisesse, seria capaz de lembrar-me dos sítios certos, a única coisa que sei é o que penso quando passo diante de um desses mármores com o nome completo e as competentes datas de nascimento e morte.”

Todas as telas são de pintores portugueses.

Música do post: Acordai de Fernando Lopes-Graça (É preciso apertar o play)

Beijos, Pedrita

6 comentários:

  1. "Eu bebi cada gota do maravilhoso texto de José Saramago."

    Achei linda essa frase!!! \o/

    Ah, sobre esse widget das musiquinhas... Não seria melhor você colocar ele na parte do post no layout? Tem como fazer isso no blogspot, naquele editorzinho.
    O negócio é grande demais pro espaço em que está. Dá pra botar abaixo dos posts. :P

    Fikdik

    ResponderExcluir
  2. Oi Pedrita.

    Ainda não li este livro. Fiquei muito curiosa e resolvi pegar na biblioteca para ler.

    Seu blog está cada vez melhor ...

    Bjs.
    Elvira

    ResponderExcluir
  3. Olá, Pedrita,
    Li muito pouco de Saramago, apenas "O evangelho...". Um dia comecei a ler Todos os Nomes, mas não era um bom momento e parei logo. Mas você me animou a começar de novo, assim que possível. Obrigada! Agora estou na empreitada Proust (Em busca do tempo perdido).
    Também tenho um blog, que gostaria que conhecesse e opinasse, já que é boa leitora:
    www.tecidodepalavras.blogspot.com

    Abraços.

    ResponderExcluir
  4. é de longe o maior escritor vivo. adoro.

    ResponderExcluir

Cultura é vida!