quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Eu, Daniel Blake

Assisti Eu, Daniel Blake (2016) de Ken Loach na Netflix. Nossa, que filme, que trágico! Quem não está bem nessa época não aconselho a ver. Mas acaba sendo fundamental, temas tão profundos, e nós brasileiros acabamos tendo muita identificação na humilhação que o protagonista passa. O roteiro é de Paul Laverty.

Um víuvo, excelente trabalhador e carpinteiro, é proibido de trabalhar por um problema cardíaco e a médica diz para ele procurar auxílio financeiro no estado para sobreviver. Ele insiste se não pode continuar a trabalhar, mas ela é categórica. Ele começa então um processo burocrático para conseguir o auxílio e claro, não consegue. O estado não considera os laudos médicos e orienta ele a conseguir o seguro desemprego, mas ele tem que participar de palestras para fazer currículos e tem que procurar emprego. Ele diz que a médica proibiu, mas eles são irredutíveis. Fora  a dificuldade de ele falar com os sistemas, sejam eletrônicos ou virtuais. Como no Brasil, fala com atendentes não médicos que resolvem julgar laudos médicos. O cadastro do seguro desemprego só pode ser virtual e ele não tem computador, mas o sistema é irredutível. O quanto isso acontece hoje, a pessoa praticamente sem dinheiro pra comer tem que ter computador, pagar acesso a internet. E quem é desinformado é capaz de achar que existam computadores disponíveis, não é tão simples assim. E que adianta um computador se ele não sabe usar? E por que ele tem que ser obrigado a saber usar? Os sistemas cada vez mais desumanos, pessoas quase robôs, vão humilhando pessoas que estão em situação de absurda vulnerabilidade. Se ele pudesse trabalhar, fazer o que ama, ele continuaria trabalhando, não está nessa situação porque quer. O filme foi baseado em relatos de várias pessoas que passaram por essa situação. Como acontece muito no Brasil. E com a pandemia vemos ainda mais. A facilidade com que falam em aulas virtuais, sem entender que famílias inteiras tem um celular só, pouco dinheiro pra créditos de internet. E a humilhação pelo auxílio emergencial? Juravam que dava pra fazer virtualmente, mas muitos não conseguiram e ficavam horas na fila aglomerando pra tirar uma dúvida porque por telefone nunca conseguiam. O filme parece um espelho de toda essa humilhação que vimos. Dave Johns está impressionante!
 
Ele acaba conhecendo uma família em situação parecida de vulnerabilidade. Inicialmente ele acha a situação dela pior, mas a dele vai piorando da mesma forma. A mãe tinha perdido o apartamento por falta de pagamento de aluguel e viveu com os filhos em um quarto em um albergue até que conseguiu uma casa muito longe da escola das crianças. Ela dá o que tem de comer aos filhos e come uma ou outra fruta quando consegue. Tenta emprego de tudo quanto é forma, de faxineira, qualquer serviço, serviços gerais em hotéis, mas não consegue. Sem dinheiro pra pagar a luz, passam muito frio no inverno. Blake que ajuda, ele tem muita experiência em materiais, coloca plástico bolha nas janelas pra segurarem o calor do dia, vasos de barro com velas pra ficar quente e aquecer o ambiente. Como ele ajuda essa família. Ótima atriz que faz a mãe, Haylay Squires. E as crianças, nossa, que graça, Briana Shann e Dylan McKiernan.

Beijos,
Pedrita

18 comentários:

  1. Filme que fica gravado na mente — absolutamente inesquecível.

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  2. Sinto-me bem mas... vou seguir o seu conselho. Não vou ver. Não quero massacrar o meu " jovem " espírito, lol
    .
    Tenha um dia feliz. Cumprimentos
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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    1. rykardo, é bem fundamental, mas não é um filme fácil de assistir.

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  3. Vi este filme, que é comovente e desperta reflexão, na época do lançamento. Ken Loach sempre teve interesse pela classe trabalhadora britânica.

    Beijão

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    1. marly, é muito deprimente. humilhante. desemprego em alta e os sistemas humilhando quem passa fome. mas infelizmente nada diferente do brasil. o que mais me chocou.

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  4. OI Pedrita, sabe aquele filme que você acha que viu, mas não tem certeza?! Não sei se vi o trailer e estou achando que assisti ao filme... mas acho que não. É uma história bem impactante. Acho que se realmente tivesse assistido, não teria dúvidas. Gostei muito da dica e da sua resenha. Quero confirmar se vi ou não, mas vou esperar estar em uma fase melhorzinha.
    beijos
    Chris


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    1. chris, eu tenho esse problema, volte e meia fico na dúvida se já vi o filme.

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  5. Pedrita,
    Vi esse filme há alguns anos e gostei demais.
    Se fosse assistir agora, acho que não conseguiria. É triste demais. É real demais e a todo instante podemos fazer paralelo com o que ocorre por aqui. Com certeza, nessa época em que já sofremos com tudo que está ocorrendo, não daria para vivenciar mais problemas.

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    1. heloísa, sim, triste demais, chorei direto. e nessa época, com tanta miséria. mas é bom pra quem julga e não entende, que acha que estão todos bem só pq parece q estão bem.

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  6. No Brasil, e talvez em todo o mundo capitalista, não se combate a pobreza, se combate o pobre. Me sinto exausta de tanto ódio a essas pessoas que lutam tanto de tanta desumanização. Dói no osso que me deu a vida e internamente causa-me arrepios.

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    1. pandora, nossa, disse exatamente o certo. eu tb me sinto exausta.

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  7. Já tinha muita curiosidade em assistir esse filme e fiquei com mais vontade ainda depois da sua resenha.
    Já prevejo que vou me revoltar, me emocionar e desidratar de chorar 😢😢

    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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