quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Shalimar, o equilibrista

Terminei de ler Shalimar, o equilibrista (2005) de Salman Rushdie, da Companhia das Letras. Eu adoro esse autor e queria muito ler esse livro. Há uns anos teve uma oferta no Submarino e não resisti. Ficou lá aguardando o dia de lê-lo. É simplesmente maravilhoso!


Todas as telas são de Dina Nath Walli, pintor indiano de Caxemira.
No início um embaixador é assassinado. Logo depois começamos em uma cidade, Caxemira, que fica entre a Índia e o Paquistão. Uma pacata cidade onde nasce Shalimar.

Vou falar detelhes do livro: Aos poucos vamos unindo as pontas e conhecendo também o início da história do Embaixador. Ele é de Estrasburgo, também uma região que teve interferência na guerra e mudou de domínio. Max queria fugir com seus pais, mas eles pediram para esperar. Depois dele conseguir sair do país, ele entra no mundo clandestino e igualmente como Shalimar, passa ,em nome de seu grupo, a resistência, a matar.

Shalimar, o equilibrista é um livro irônico, sobre conflitos do mundo todo. Também traz outra ironia. Apesar de Shalimar se tornar um terrorista, seu crime é passional. Ele matou o embaixador porque este lhe roubou a mulher. É um livro ambígüo. Como Salman Rushdie foi jurado de morte e viveu fugido, alguns de seus personagens passam o livro todo jurados de morte. O calculismo frio de Shalimar é intensificado porque ele se torna um terrorista só para passar o tempo, já que precisa esperar seus sogros falecerem para poder cumprir seu juramento de matar sua mulher e o embaixador. Ele jurara aos sogros que não os mataria, mas fizera outro juramento que os mataria. Para poder cumprir os dois juramentos, decidiu que cumpriria o primeiro enquanto os sogros fossem vivos e depois cumpria o segundo.


Também é muito triste a destruição de Caxemira e as regras impostas pelos muçulmanos. Caxemira era uma cidade pacata e alegre. Shalimar, o equilibrista vivia com uma trupe, sua mulher era a dançarina. Eles faziam apresentações. Com as novas regras, as mulheres eram obrigadas a usar a burca e a seguir os ditames muçulmanos. Algumas cidades como Caxemira resistiram e foram exterminadas.

Shalimar, o equilibrista mostra muito os conflitos que trouxeram muita intolerância a aqueles povos. Mas o mais estranho é o paralelo que Salman Rushdie faz como Ocidente que não é menos violento e opressor. Claro que fica difícil compreender na sua profundidade os conflitos nessa região de Caxemira, mas adorei por Shalimar, o equilibrista elucidar um pouco o momento em que a intolerância e as burcas, entre outras insanas regras, chegaram na região.
Shalimar, o equilibrista é um livro maravilhoso! Gosto muito do estilo narrativo de Salman Rushdie, seus parágrafos longos e ambígüos, a profundidade de seus racioncínios. Sou fascinada por esse autor.


Anotei alguns belíssimos trechos de Shalimar, o equilibrista, alguns são dos capítulos finais do livro, mas falam principalmente de momentos históricos na região de Caxemira:
“Haviam enterrado os maridos com quem passaram quarenta ou mesmo cinqüenta anos de vida desconsiderada. Curvadas, fracas, sem expressão, as velhas lamentavam os destinos misteriosos que haviam feito dar ali, afastadas, do outro lado do mundo, de seus pontos de origem. Falavam línguas estranhas que podiam ser georgiano, croata, uzbeque. Os maridos lhes falharam ao morrer. Eram pilares que desmoronaram, haviam pedido que confiassem neles e trazido as esposas para longe de tudo que lhes era conhecido, para essa terra-lótus sem sombra, cheia de gente obscenamente jovem, essa Califórnia cujo corpo era o templo e cuja ignorância era a felicidade, e depois tinham se mostrado indignos de confiança, soçobrando num campo de golfe ou caindo de cara numa tigela de sopa de macarrão, revelando assim a suas viúvas nesse último estágio de suas vidas, o quanto eram pouco confiáveis a vida geral e os maridos em particular.”

“Os fanáticos matam nosso cavalheiros e o Exército envergonha nossas damas.” Fuzilamentos, enforcamentos, esfaqueamentos, decapitações e bombas. “Este é o islã deles. Querem que a gente esqueça, mas nós lembramos.” Enquanto isso, o Exército usava o ataque sexual para desmoralizar a população. Em Kunan Poshpora, vinte e três mulheres tinham sido estupradas por soldados sob a mira de armas. A violação sistemática de meninas por unidades inteiras do Exército indiano estava se transformando em lugar-comum, as meninas levadas a acampamentos do Exército nuas, amarradas a árvores, os seios cortados com facas.

“De joelhos, Bombur Yambarzal foi condenado à morte em sua própria casa e disseram a sua mulher que, se os aldeões não parassem com esse comportamento pouco religioso e adotassem os modos sagrados, dentro de uma semana os militantes voltariam para executar a sentença. Naquele momento, Bombur Yambarzal, com um revólver na testa e uma faca na garganta, perdeu para sempre a visão, literalmente cego de terror. Depois disso, as mulheres não tiveram escolha senão usar burcas.”

Beijos,


Pedrita

5 comentários:

  1. Como ele escreve bem, não? Mesmo desxontextualizados esses trechos são um primor.

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  2. Ola pedrita, ham passei um tempo sem passar aki, ehh tava desanimado ate mesmo com meu blog, mas se voce achou melhor mudar para o blogspot então estamos aqui, ja lhe adicionei la nos meus links, abração...

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  3. Nunca li nada de autoria dele. Deve ser muito bom.

    Beijos

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  4. passando pela primeira vez no teu novo endereço! Você fez uma otima coisa ao mudar, o blogspot é bom!

    gostei da historia do livro, parece bem interessante

    grande beijo

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  5. Oi! Já estou preparando a minha listinha... Beijos!
    aqueta-2.zip.net

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