domingo, 1 de outubro de 2017

Léxico Familiar

Terminei de ler Léxico Familiar (1963) de Natalia Ginzburg da Coleção Mulheres Modernistas da Cosac Naify. Quando a editora disse que ia fechar as portas pipocaram promoções com seus últimos livros de 50% de desconto, sem custo de frete. Comprei alguns. É uma belíssima edição! Gostei demais do livro!

Esse livro conta um pouco da história da autora, principalmente de quando  morou com os seus pais. Natalia Ginzburg viveu em períodos difíceis da história da Europa. No fascismo com a perseguição sistemática de quem era contra o regime e da Segunda Guerra Mundial. De família judia, teve uma educação austera, principalmente de seu pai que exigia nota 10 com louvor, mas mesmo quando os filhos tiravam essa nota dizia que tinha feito o que era obrigação. Pão duro, vivia bravo com os gastos da sua esposa. Há muitos diálogos e divertidíssimas as frases clássicas de seus pais. Sua mãe estava sempre insatisfeita onde morava, eles chegaram a se mudar bastante. Ela casa-se com um homem que já tinha sido preso duas vezes por suas ideias. A mãe fica preocupada. O marido continua sendo preso até morrer na prisão depois da Segunda Guerra Mundial. Ginzburg era o sobrenome do marido. O livro termina quando Natália Ginzburg casa novamente e muda de cidade.


Obra Praça da Itália (1913) de Giorgio de Chirico

Trecho de Léxico Familiar de Natalia Ginzburg

“O menino era judeu, e fora colocado pelos pais na escola pública; porém, pediram à professora que fosse dispensado das aulas de religião. Um dia a professora não estava na classe e tinha uma substituta no lugar dela, que não fora avisada, e quanto chegou a aula de religião, admirou-se ao ver o menino pegar a pasta e preparar-se para sair.
- Você aí, por que está saindo? – perguntou.
- Estou saindo – disse o menino – porque sempre vou para casa quando há aula de religião.
- E por quê? – perguntou a substituta.
- Porque eu – respondeu o menino – não gosto de nossa senhora.
- Não gosta de nossa senhora! – gritou escandalizada a professora.
- Vocês escutaram, crianças? Não gosta de nossa senhora!
- Não gosta de nossa senhora! Não gosta de nossa senhora! – gritava a classe inteira, então.

Os pais tinham sido obrigados a tirar o filho daquela escola.”

Beijos,
Pedrita

15 comentários:

  1. Este livro deve ser interessante. O trecho mostrado me levou a imaginar situações que voltarão a acontecer com a reimplantação do ensino religioso. E, de resto, em termos de Brasil, é tudo atual, nem parece que transcorreu tanto tempo.

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    1. marly, eu li esse trecho exatamente no dia daquela decisão absurda de religião nas escolas. crianças são constrangidas por outras crianças e catequizadores. crianças não tem o poder de discernir e uma escola não pode impor uma fé. mesmo o judaísmo como no livro, é basicamente ignorado no brasil. judeus não acreditam em jesus cristo. mas o brasil trata cristo como se fosse uma unanimidade.

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  2. Muito boa sua resenha do livro.
    É o tipo de livro que me interessa porque é baseada numa história real.
    Não conheço a autora.
    A moça do vídeo já vi outros vídeos de livros lido por ela(tinha no YouTube).

    Vc me deu uma boa ideia.
    Separei uma pequena tábua para ser usada exclusivamente para alho e cebolas.

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  3. Hello, Pedrita!
    Eu adoraria lê-lo, amei a resenha!

    Beijinhos, ótima semana ♥

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  4. Nunca ouvira falar da autora, mas parece-me uma obra muito interessante e o excerto mostra uma linda janela para o seu conteúdo.

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    1. carlos, tb só conheci quando vi essa coleção. amigos blogueiros já leram outros da autora e elogiaram muito.

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  5. Olá Pedrita
    Lembro que fiquei muito angustiada quando o diretor da editora disse que não iria doar os livros nem para as biblis nem para os autores porque doação tem um custo e isso iria angariar enorme rombo para as contas que já estavam no vermelho, dizia que os livros seriam picotados ://
    Senhor! Imagine um pai que exige notas altas dos filhos na escola e nem ao menos é capaz de fazer um elogio :(
    E ainda por cima é pão duro!
    E ela ainda se casa com um cara que é preso várias vezes...
    Não sei ainda se gostei do plot rsrs
    Bjs Luli
    Café com Leitura na Rede

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    1. luli, tb fiquei bem angustiada com o teatro do editor. muito pirado. e os livros continuam por aí a venda desde q ele negociou com a amazon. olha, não estranhei nem um pouco a criação da protagonista. achei muito familiar.

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  6. Eu quero ler! Gosto muito dessa autora!

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  7. Um arrependimento que carrego é não ter comprado essa coleção completa. Era caro, o preço me intimidou, mas teria valido a pena. Também aproveitei aquela promoção, inclusive tem livros que comprei na época que ainda não li.

    Sou apaixonada por esse livro. Histórias de família me enternecem e cativam, talvez pq minha família seja muito central para mim. Acho sensacional como a Natalia escreve com vagar, com sem sobressalto... sem dramas, situações absurdamente dramáticas, abuso, racismo, fascismo... que, parafraseando a própria Natalia, está com cara de não acabar nunca.

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