Assisti a série A Testemunha de Acusação (2016) no Film&Arts. Eu descobri por um acaso e só tinham disponibilizado dois episódios, fui ver quantos eram e qual não foi a minha surpresa que são só dois mesmo. Quase um filme de longa duração. Agatha Christie sempre rende bons produtos. Eu li a obra há muitos anos. A produção impecável é da BBC.
Eu adoro Toby Jones e ele está maravilhoso. Ele é um advogado e vai defender um rapaz acusado de matar uma mulher rica com quem tinha um envolvimento, Kim Catrall. Ele era casado não no papel com outra mulher, que conheceu na guerra. E pedem que essa mulher afirme que estava com ele na noite do assassinato. Billy Howle é o acusado, a testemunha é Andrea Riseborough. O elenco é inacreditável de bom. A esposa do advogado é Hayley Carmichael. A empregada ciumenta, Monica Dolan.
Não lembrava o quanto essa obra é pessimista e trágica.
Eu vi o filme do Billy Wilder há um tempinho e comentei aqui.
Assisti Arábia (2017) de João Dumans e Affonso Uchoa no Brasiliana. Eu queria muito ver esse filme, já tinha ouvido elogios. Gostei demais! O filme ganhou inúmeros prêmios e está também no MUBI.
Um jovem (Murilo Caliari) vive precariamente com o irmão mais novo. Onde moram é distante de tudo! A tia é assistente social e passa de vez em quando para ver os meninos. Os pais pouco os visitam. É o garoto adolescente meio que cuida de tudo. Um homem é levado ao hospital e é o nosso protagonista. A tia pede ao jovem que busque roupas e documentos onde o enfermo mora. Na casa desse homem, o jovem encontra um caderno com páginas e páginas escritas a mão. O protagonista escreveu a sua história nesse caderno. Entediado, essa páginas de caderno, desvendam um mundo até então desconhecido pra ele. Como a literatura pode transportar alguém de uma vida entediante para um mundo imenso.
A história então tem o narrador, que fala as palavras escritas no caderno. Ele começa dizendo que não sabia se tinha algo a dizer, mas que quando começou a escrever, descobriu que tinha muito o que contar. A capacidade de contar histórias é fascinante. Aristides de Sousa está incrível. O personagem é daquelas pessoas que não tem medo de trabalho e não param de trabalhar. Ele viaja pra tudo quanto é lugar, fazendo todo o tipo de trabalho, uma infinidade de sub empregos exaustivos, mal remunerados e na maioria, insalubres . Ele fala que sempre tem que começar de novo. A cada mudança, ele tem sempre uma pequena muda de roupas e uns trocados. Um infinito recomeço. A última parada é onde o jovem vive. Lá ele trabalha em uma fábrica de minérios, como ele diz, ele tem minérios no pulmão, no sangue, é provavelmente dessa intoxicação que ele vai morrer muito jovem.
Assisti Nebenan (2021) de Daniel Bruhl no Max. Não fazia a ideia da existência desse filme. Daniel Bruhl fala exatamente da arrogância de grandes atores. Ele é Daniel como ele mesmo. Mora em um belo triplex, inúmeras camisas passadas, café da manhã pronto.
Os dois filhos pequenos não podem fazer barulho, uma imigrante cuida deles e pelo jeito da casa. Tudo tem que ser perfeito para o casal não ser incomodado em só se preocupar em existir. O pai não pode ser incomodado de manhã e a esposa dorme até tarde e não pode ser acordada. Todos vivem para atender as vontades deles, principalmente do ator. Ele saiu cedo de casa e vai a um bar. Lá ele encontra um homem e começa a ter embates. A arrogância do ator incomoda, mas o homem também é desprezível. É um personagem perfeito para mostrar a altivez e arrogância de atores famosos, acostumados a serem servidos. Com o tempo descobrimos que esse homem é um stalker. O filme é bem chatinho, continuei por ser um filme importante, debater questões importantes, mas nem vi direto porque é chato. Daniel Brühl arrasa, excelente também Peter Kurth. A dona do bar é Rick Eckermann. A esposa, Aenne Schwarz. O filme é praticamente a dupla, às vezes aparece algum personagem rapidamente.
Assisti Totem (2017) de Marcel Sarmiento no Max. Porque sábado é dia de fantasminhas. Estou fuçando no Max o que não vi de terror, feliz que tem vários ainda a ver, estava sentido falta. Esse é tão independente que é difícil achar informações, fotos. Mas gostei, é bem melhor do que parecia! Não chega a ser um grande filme, mas é bem realizado, bom elenco e bom roteiro.
As filhas moram com o pai e é meio tabu falar sobre a morte da mãe. O pai informa que vai trazer pra morar com elas a namorada dele, que já chegou a hora, que tem mais de um ano. A filha adolescente meio que assumiu a casa, ela cuida do pai e da irmã mais nova e não quer a madrasta na casa. Kerris Dorsey está ótima! A irmã está tendo um comportamento estranho, fala com amigos imaginários mas um pouco mais esquisito que o normal. Uma graça Lia McHugh.
Coisas estranhas começam a acontecer e passam a achar que é a mãe que não gosta da madrasta na casa. Mas a filha adolescente acha que não, que é um espírito que se aproveita da imagem da mãe para fazer mal a elas, inclusive a filha menor. A madrasta é Ahana O´Reilly e o pai James Tupper. O filme é muito bem feito, bem surpreendente o que de fato ocorre. Gostei bastante. O final é bem clássico mas bom também.
Assisti no cinema Ainda Estou Aqui (2024) de Walter Salles. Finalmente consegui assistir! É tudo e mais um pouco do que dizem. Contido, sem melodrama, o filme causa um silêncio ensurdecedor!
O filme conta a história de Eunice Paiva. O roteiro se baseou no livro de seu filho, Marcelo Rubens Paiva. Ela era dona de casa, como ela mesmo dizia, cuidar de cinco filhos. Ela tinha uma funcionária que ajudava na casa. Uma belíssima casa a beira mar no Rio de Janeiro.
Gostei que o filme contextualiza a história da família. Rubens Paiva (Selton Mello) era -ex-deputado e engenheiro. Ele se debruçava na construção da casa da família. Calorosos, afetuosos, recebiam muito em casa. Essa foto é em uma das festas. A filha (Valentina Herzage) ia viver nos Estados Unidos. Eles também adoravam tirar fotos, tinham uma caixa lotada delas. Interessante que no futuro, olhando as caixas, eles não lembram que dia foi esse, como acontece mesmo, já que eles viviam tirando fotos. Nesse período atuam Luiza Kosovski, Bárbara Luz, Pri Helena, Dan Stulbach, Humberto Carrão, Caio Horowicz, Augusto Trainotti, Carla Ribas, Maite Padilha, Charles Fricks, Thelmo Fernandes, Camila Márdila, Daniel Dantas, entre tantos outros.
Até que Rubens Paiva é levado pra depor. Ele vai no carro dele mesmo. Eles não conseguem saber quem o levou para depor. É quando o silêncio ensurdecedor se instala. Com crianças pequenas, Eunice escolhe o silêncio. Homens armados ficam alojados na casa dela, vários. Ela inventa uma história pros filhos. Dá muita angústia os filhos interagindo com os bandidos. A personalidade da Eunice era incrível. Ela oferece as refeições, eles dizem não precisar, mas ela faz questão. Ela não se intimida, pede que eles escondam as armas, fala que é uma casa de família.
Ela e a filha de 15 anos são levadas pra depor como em um sequestro, capuz preto, algemas. Desesperador a angústia de Eunice querendo saber da filha. A filha passa uma noite e é liberada. Nenhuma das duas são torturadas, o que normalmente acontecia. Ficar sozinha em uma sala fétida, sem banho, sem informação, sem direito a advogado, é uma tortura desesperadora. Nem assim Eunice se intimida. Ela pergunta sempre sobre o marido, sobre a filha e consegue de seu carcereiro a informação que a filha já foi pra casa. Imagine o desespero dessa mãe. Os filhos de uma hora pra outra ficaram sem os pais, só com a funcionária, sem ter notícias.
Ela começa a ter problemas financeiros. O marido desaparecido, nada pode-se mexer. E claro, os sequestradores negam que levaram o Rubens Paiva e que ele nunca mais saiu. Falam que ele fugiu com terroristas. Em um determinado momento, um conhecido em sigilo, conta que tiveram a informação que Rubens Paiva está morto. Ela começa a lutar pelo corpo como Zuzu Angel e para que o exército assuma o seu crime. Ela viu o carro do marido no pátio quando foi presa, consegue ir buscar, ela vai incomodando como pode. Diferente da Zuzu, ela não é assassinada para ficar calada. É nesse período que ficamos sabendo que aquela casa maravilhosa era alugada. Ela pega os cinco filhos e vem para São Paulo para a casa dos pais dela.
Eunice passa a trabalhar com tudo o que pode, traduções. Volta a estudar e se forma em advocacia aos 47 anos. Além de trabalhar pela liberação de presos políticos, informações sobre desaparecidos, ela se torna indigenista. No filme mostram uma palestra dela sobre a viagem que fez a floresta amazônica para denunciar os massacres indígenas na construção, muitas vezes irregular, da Transamazônica. Fernanda Torres está maravilhosa, que atriz! Mas eu concordo com a atriz em seus discursos, o filme só chegou onde está, pela Eunice, é a personalidade dela que espanta todos no filme. Corajosa, nunca calada, mas sempre estratégica na proteção dos seus.
Eunice Paiva levou 25 anos para receber o atestado de óbito de Rubens Paiva. Somente 25 anos depois que o exército admitiu ter torturado e assassinado Rubens Paiva. Ela sorri e fala que é estranho sorrir por um atestado de óbito e fala do sofrimento que é a família de um desaparecido. Quem já mexeu com inventário sabe muito bem o que ela estava falando. Sem falar na porta aberta de sentimentos com um desaparecido. Uma jornalista pergunta se não há questões importantes pra ser resolvidas para retomar ao passado. Eunice é rápida e categórica, não, enquanto os culpados não foram julgados e punidos por seus crimes, tudo pode acontecer novamente. Ao fundo está Marcelo Rubens Paiva, já escritor e autor do livro Feliz Ano Velho na época.
Eunice Paiva teve Alzheimer e ficou uns 15 anos com a doença. No final Fernanda Montenegro aparece como Eunice. Outros nesse elenco são Antonio Saboya, Maeve Jinkingis, Marjorie Estiano, Maria Manoella, Olivia Torres e Gabriela Carneiro da Cunha. A trilha sonora é incrível e tem no Spotify. A mais reverberada é a linda de Erasmo Carlos,
Eunice e Rubens Paiva.
Essa foto foi feita para uma matéria da revista Manchete.
Eu acabei assistindo no meu cinema preferido de São Paulo, o Espaço Augusta que agora finalmente ganha patrocínio da Petrobras. Fiquei muito emocionada porque o cinema ficou sem patrocínio e indefinição por bastante tempo, era muita angústia. E fiquei muito emocionada quando entrei perto da hora do almoço e estava lotado. Um amigo até perguntou se eu tinha conseguido comprar ingresso pra esse filme porque semana passada não tinha. Infelizmente eu não pago mais meia porque antes era Espaço Itaú de Cinema. Acham que o Itaú talvez continue dando desconto com alguma fidelidade. Assim espero porque fiquei bem irritada com o banco de deixar de apoiar esse cinema.