sábado, 29 de outubro de 2022

Homenagem a Emilia De Benedictis

Fui ao concerto em Homenagem a Emilia De Benedictis (1919-1996) do Centro de Música Brasileira no Mackenzie. Uma bela apresentação gratuita!

Primeiro Sylvia Maltese tocou ao piano lindas obras de Emilia. Ela contou que Emilia era uma grande pianista e seu pai um importante compositor. Só depois ela enveredou para a composição com belas obras. Os filhos de Emilia, Oscar Sergio De Nucci, estavam na plateia e se emocionaram muito. Pergy Grassi cantou as músicas com poesia. No bis, o duo tocou em primeira audição para canto e piano em São Paulo a obra Água Órfã de Nilcéia Baroncelli. A compositora falou ao público que a obra foi composta em respeito ao estado de Minas Gerais após o rompimento da barreira em Mariana. Nilcéia lembrou que os índios estão morrendo pela morte do Rio Doce.

Programa

Velha Cantiga – A Gangorra

Arabesque nº 1 e nº 2
Nostalgia
Inquietude
Devaneio

Pergy Grassi (canto) e Sylvia Maltese (piano)

Música de Emilia De Benedictis e Poesia de Nilcéia Baroncelli
Nuvens 
Viagem (1ª audição da versão canto e piano)

Depois tocou Consuelo Quireze outras lindas obras de Leopoldo Miguez, Guarnieri e Villa-Lobos.

Maltese juntou-se  a ela e tocaram obras para piano a 4 mãos.

Programa

Leopoldo Miguez – Noturno – Opus 10


Heitor Villa-Lobos – Valsa da dor

Camargo Guarnieri
Improviso IX - Melancólico
Improviso II - Lentamente

Piano a Quatro Mãos – Consuelo Quireze e Sylvia Maltese

Fernando Cupertino – Suíte em Formas Brasileiras para Piano a quatro mãos (Dedicado às pianistas em 1ª audição)
Dobrado (Marcial)
Valsa Brasileira (Tristonho)
Tango Brasileiro (Dobrado)
Bailado Caipira (Com ginga)

Osvaldo Lacerda – Brasiliana nº 12
Cateretê  (Allegretto)
Canto de Bebida (Allegro Scherzoso)
Canção (Andantino con moto)
Maracatú (Passacalha e dança)

Beijos,
Pedrita

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Relação a 2

Fui na pré-estreia da peça Relação a 2 de Carol Rainatto no Teatro Nair Bello. A direção é de Hudson Glauber. É uma engraçada comédia de costumes.

Fotos de Heloísa Bortz

Um casal está em crise. Ele quer contato íntimo, mas ela cria sempre empecilhos.
Ele tem a infeliz ideia de convidar um casal amigo, sem consultar a esposa, pra que os ajudassem a sair do impasse. Claro que dá tudo mais ou menos errado! O elenco é ótimo: Dan Rosseto, Samantha Dalsoglio, Felipe Caiafa e Camila Coutinho.

Sim, talvez o fato deles falarem com outras pessoas, tenha ajudado. As mulheres conversaram entre si e os homens também. Mas eu prefiro achar que foi a cultura que salvou a relação. Gostei de interpretar dessa forma, porque nesses momentos tão sombrios, a cultura é capaz de salvar as pessoas, gerar entendimentos, diálogos e amor. Relação a 2 fica em cartaz até 20 de novembro.



Beijos,
Pedrita

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A Viagem de Pedro

Assisti A Viagem de Pedro (2022) de Laís Bodansky no TelecinePlay. Fiquei eufórica quando vi que já estava disponível no canal. Que filme! Eu amo essa diretora, é genial e esse filme igualmente incrível. Cauã Reymond arrasa como Pedro I.

O filme é ambientado em uma lacuna da história, pouco se sabe sobre a ida de Dom Pedro I a Portugal. Não deve ter sido uma viagem fácil, primeiro porque essas viagens de navio eram muito longas, já deviam ser difíceis naturalmente, imagine nesse contexto histórico.
Dom Pedro resolve levar a sua filha para assumir o trono de Portugal. Seu irmão ia assumir o trono e Dom Pedro acha que é por direito dele e de sua família estar no trono de Portugal. Aquele Dom Pedro que deu o grito de independência de Portugal, achava que ainda tinha direito ao trono. Pra isso larga no Brasil seu filho de 5 anos, que assume o trono por aqui, na verdade terceirizando o trono por seus tutores. Pra ver como Pedro I não estava nem aí pro Brasil e para seus filhos.

Laís Bodansky cria um Dom Pedro atormentado. Deve ter sido uma viagem difícil por inúmeros motivos. Imagino como deve ser difícil pra Pedro a viagem, um homem demasiadamente agitado, com muitos conflitos internos. Pra piorar, ele estava com sífilis e com problemas de ereção. Para um homem compulsivo sexualmente devia ser insuportável. Nos delírios, ele tem recordações do passado.

O filme mostra toda a arrogância real, rara na cultura e na história que aprendemos, que em geral romantiza a monarquia. O jeito de superioridade com os negros na viagem, negros que tinham que ser livres porque na Inglaterra não tinha mais a escravidão. O elenco é inacreditável e diverso em culturas e idiomas. O filme tem vários idiomas com legendas. Dois atores que amo e são lindíssimos estão no elenco: Welket Bunguê de Guiné-Bissal e Isabel Zuáá de Portugal. Outros são, Victoria Guerra e João Lagarto de Portugal, Luise Heyer da Alemanha, Calvin Denangowe do Congo, Frances Magee da Irlanda, Sergio Laurentino, Rita Wainer, Luiza Gattai, Isac Graça e Celso Frateschi. Fiquei muito emocionada de ver a Sonia Guedes em uma participação. Imagino que tenha sido um de seus últimos trabalhos. Essa diversidade de nacionalidade no elenco foi fundamental para o filme, deu muita veracidade.
Beijos,
Pedrita

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Jakub Kuszlik

Fui ao concerto do Jakub Kuszlik no Festival Chopin no Teatro São Pedro. Eu tinha ficado impressionada com esse pianista quando vi os vídeos e mais ainda presencialmente! Que talento! Ele tem uma energia arrebatadora! 

Foto de Karolina Sałajczyk

Polonês, é mais um pianista finalista do Concurso Chopin de Varsóvia de onde foi tirada essa foto. Ele e o piano parecem entrar em uma sinergia inacreditável! É como se tudo parasse e existisse só ele, o piano e a música! Ele voltou três vezes para bis.

Programa

Fantasia em Fá menor, Op. 49

Mazurkas Op. 50

Scherzo No 4 em Mi maior, Op. 54

 Sonata em Si menor, Op. 58

Allegro maestoso
Scherzo: Molto vivace
Largo
Finale: Presto non tanto; Agitato
As próximas apresentações do Festival Chopin serão com o canadense J J Li Bui (dia 26 no Teatro B32) e com a polonesa Ewa Poblocka (dia 30 no Theatro Municipal de São Paulo).

 

Beijos,
Pedrita

domingo, 23 de outubro de 2022

Maria Bonita de Adriana Negreiros

Terminei de ler Maria Bonita (2018) de Adriana Negreiros da Objetiva. Queria muito ler esse livro quando soube do lançamento. Em uma das últimas feiras virtuais do livro, comprei.

O marcador de livros é magnético e com um trecho da obra de Tomie Ohtake

O livro fala muito da situação das mulheres no cangaço. A autora mostra o que como acontece com muitas mulheres da história, um apagamento dos fatos. Interessante que o nome Maria Bonita surgiu depois que ela morreu, porque na verdade ela era chamada de Maria de Déa. Como infelizmente ainda acontece muito, crianças se casavam ou eram estupradas. Maria de Déa era casada quando passou a se relacionar com Lampião. Ela casou aos 13 e era traída pelo marido com uma prima dela de 11 anos. As mulheres eram estupradas pelos maridos ou por quem se interessasse por elas. Hoje em dia muitos pais ou parentes querem ser os primeiros na vida da mulher, então cada vez mais cedo crianças tem sido violentadas. A idade média tem sido 9 anos.
Incrível imaginar que essas fotos só foram possíveis graças a Benjamin Abrahão, mas esse trabalho o desgraçou. Primeiro seus filmes e fotos foram confiscados pelo governo de Getúlio Vargas, depois as poucas fotos que conseguiu manter e publicar para sobreviver foram fruto de ameaça. Uma pena que ele não tenha levado esse material ao exterior e lá vivido em paz e ter seu trabalho reconhecido. Mas se não fosse ele, não teríamos essas fotos pra conhecer um pouco os famosos cangaceiros. 

Era praticamente uma época de bang bang. Cangaceiros e policiais viviam em guerra. Destruíam, matavam, estupravam, queimavam. Cada um decidia com quem faria acordos para ter proteção, mas nada era efetivamente garantido. Tudo incerto e um período de muita violência.
Foi com Maria da Déa que começou a permissão para ter mulheres no bando. Em geral os cangaceiros iam na cidade onde a mulher estava pra ficar com elas. Também estupravam por poder e iam a prostíbulos. Quando Lampião levou Maria de Déa para o acampamento, levou outras pra que ela não fosse a única. Dadá não gostava de Maria de Déa. São histórias cheias de lendas. Tudo indica que Maria da Déa não usava armas. Adriana mostra que a vida sexual não era tão intensa como se imaginava. Pela dificuldade dos acampamentos, pela aproximação das barracas, pelas regras por crendices, enfim, eram mais raras do que se imaginava. Mas sem métodos contraceptivos, elas engravidavam naquela precariedade toda. E como criança não era viável no acampamento, até mesmo pelo choro que chamava a atenção, eram dadas pelo caminho. Eu sabia que as cabeças tinham ficado expostas na cidade, mas fiquei mais chocada ainda em saber que eram colocadas em latões pra conservar e levadas de cidade em cidade pra ser expostas, quanta morbidade. E eu sabia daquela pesquisa pavorosa na época onde estudavam os cérebros e criavam teorias abomináveis pelo formato e tamanho da cabeça. A obra é incrível. Há um vasto índice remissivo da pesquisa.



Beijos,
Pedrita