
Terminei de ler
Maria Antonieta - Biografia (2006) de
Antonia Fraser. Comprei esse livro novo no ano passado na
Livraria Nobel porque queria ler depois que vi o
filme.
Maria Antonieta tem muitas biografias, inclusive uma do
Stefan Zweig de 1999 que quero ler, eu vi o filme com a história dele e comentei aqui no
blog. É uma pena que no Brasil não temos a cultura das biografias. Faz poucos anos que começamos a ter algumas, mas não em profusão como em outros países e com tantas comparações de teorias, afinal a vida íntima de alguém, por mais que vigiada, nem sempre conseguimos saber alguns fatos como realmente aconteceram.
Antonia Fraser é uma escritora especialista em biografias desse período. O texto dela é excelente e as considerações dela são muito boas. Só não gostei no início umas comparações que ela faz sobre o físico em relação aos dias de hoje. Se fosse uma matéria estaria ótimo, mas um livro será lido daqui há 100 anos, até mesmo muitos séculos a frente, e o que é bonito e feio em um corpo depende da moda da época, dos padrões estéticos de uma época que mudam sempre. Gostei muito de toda a pesquisa que a
Antonia Fraser realizou. É muito extensa a lista de livros bibliográficos no final da obra.

O livro traz ilustrações no centro, com várias telas que foram realizadas da família real como essa de
Luisa Elisabeth Vigée Le Brun quando a
Maria Antonieta tinha 28 anos. Como o filme eu fiquei bastante impressionada com essa mulher que teve que largar tudo na Áustria pra se casar com um homem que mal conhecia, isso aos 14 anos de idade. Tanto ela como o seu futuro marido Luís foram criados em arredomas de riqueza, viveram para serem nobres, não conheceram a pobreza, viveram fora de uma realidade e novamente acho que essa falta de realidade que
fizeram com que fossem tão odiados. Mas eu acho que nem eles tinham a percepção do mundo exagerado que viviam. Há uma outra consideração da
Antonia Fraser que discordo, ela insinua que talvez o motivo da
Maria Antonieta amar bailes é porque o casamento não tinha sido consumado. Não sei,
Maria Antonieta viveu com o marido sem consumar o casamento por muitos anos, dos 14 anos dela até uns 21. Ela devia adorar bailes porque era jovem, cheia de vida, como qualquer adolescente, mesmo que real. Os detalhes dessa biografia são impecáveis, é um livro fascinante. É muito triste o desfecho dessa família real. Entendo que a Revolução Francesa queria mostrar a sua força, mas jamais acho que condenar alguém a morte, só porque viveu fora de uma realidade, seja algo digno. Se eu sou contra a pena de morte até para criminosos, que dirá com reis e rainhas que o único pecado teria sido viver longe da realidade. A pobreza para essa família já era castigo suficiente. A situação da mulher também é muito bem relatada no livro.
Maria Antonieta não só sofreu pelas imposições e obrigações a mulher, como sofreu por ser de outro país. Todos parecem culpar a rainha por não consumar o casamento, algo típico até muito recentemente, onde os problemas conjugais são, na maioria das vezes, atribuídos as mulheres. Eu não sabia que não há nenhum descendente de
Maria Antonieta.
Maria Antonieta gostava muito de música e foi muito próxima de
Gluck.

Obra com a
Maria Antonieta com seus filhos novamente de
Luisa Elisabeth Vigée Le Brun.
Anotei vários trechos de
Maria Antonieta - Biografia de
Antonia Fraser:
“Em 2 de novembro de 1755 a rainha-imperatriz ficou o dia todo em trabalho de parto pela décima-quinta vez.”
“Cavalgar e caçar eram ocupações normais para moças.”
“É verdade que a imperatriz exibia sua deferência de esposa ao imperador, por outro lado, era ela quem trabalhava dia e noite nos documentos do Estado e o imperador quem saía alegremente para caçar. Maria Teresa é que era a maravilha da Europa devido à sua força e à sua capacidade de decisão, não Francisco Estevão.”
“O livro do guarda-roupa da rainha era-lhe apresentado todos os dias por sua dama das vestes, junto com uma almofada de alfinetes; Maria Antonieta furava o livro com um alfinete para indicar a sua escolha. Os carregadores que trabalhavam no guarda-roupa da rainha (eram três grandes recintos cheios de armários, mesas e cômodas) traziam então os trajes em enormes cestos cobertos com panos de tafetá verde. O livro do guarda-roupa de 1782, aos cuidados da Condessa d´Ossun, ainda existe. Cada vestido é classificado e acompanhado por um retalhinho do tecido. Há amostras dos tecidos da corte em várias tonalidades de rosa, em musseline listrada de um cinza-névoa e um veludo cotelê turquesa para a Páscoa.”
“Robespierre, por exemplo, acreditava que o lugar mais seguro para as mulheres era o lar, cumprindo o seu dever tradicional de protetora dos seus. (Nisso estava de acordo com Rousseau, que achava que a “glória” da mulher estaria na “estima do marido”.) Dentro de poucas semanas os vários clubes femininos que tinham insistindo na Revolução seriam oficialmente fechados. Como a história pré-revolucionária estava marcada por casos de mulheres cruéis no governo, com as quais Maria Antonieta era regularmente comparada, já se sugeriu que a misoginia da Revolução Jacobina inspirou-se na idéia de que as mulheres poderosas pertenciam à época do despotismo. A domesticada e apolítica Rainha Carlota da Inglaterra estava num caminho muito satisfatório (do ponto de vista masculino) quando escreveu que as mulheres fariam muito melhor mantendo-se fora dos assuntos políticos e levando “vidas reservadas”.”
Música do post: 01_GLUCK_Orphee_Duo
Beijos,
Pedrita