
Terminei de ler
O Jogo da Amarelinha (1963) de
Julio Cortázar. Eu sempre quis ler esse livro. Há anos anotei uma lista de obras que devem ser lidas e lá estava ele. Nunca encontrava em sebos, só achei
Os Prêmios que li e gostei muito. Tive uma surpresa na minha última visita ao sebo, eles tinham um exemplar a venda, e apesar de eu ter passado lá há ano atrás, o atendente lembrava-se que eu sempre quis esse livro. Hoje vi que já é possível comprar nas livrarias virtuais, está o dobro do que eu paguei e parece que demoram pra entregar, mas já é possível encontrá-lo. O que comprei não é o dessa belíssima capa, é da editora
Cvilização Brasileira.
Obra de Xul Solar.Eu não gosto de ler sinopses antes de ler livros, já que muitas revelam mais do que deveriam, então desconhecia sumariamente a estrutura do livro. Fiquei maravilhada no início que dizia que o livro permitia várias leituras. Eu segui a orientação inicial. Ler do início até o capítulo 56, que traz o Fim. Depois segui pela ordem sugerida pelo autor, como um Jogo de Amarelinha. Comecei pelo capítulo 73, e a cada final de capítulo lia o que o autor me enviava. Simplesmente genial.
Obra Conceito Espacial (1965) de Lucio Fontana
Nosso protagonista é muito perturbado. Ele tem uma relação doentia com a Maga. É difícil sabermos o que é delírio ou realidade. Fiquei chocada com a presença do bebê. É claro para mim que é filho dele, mas ele sempre se refere a criança, ele nunca assume a possibilidade que é seu filho. Parece que pelo fato dele ter sugerido o aborto, e ela teimosamente não ter aceito, ele está livre agora da responsabilidade sobre eo bebê, deixa de ser seu, mas também pode ser porque sempre acha que Maga o traiu e nunca sabemos o que é verdade ou delírio de sua mente confusa. Tudo em seu raciocínio é perverso, manipulador e cruel. Eles também vivem em pobreza quase miserável.
O Jogo da Amarelinha é um livro muito complexo, com sentimentos muito vastos, do ódio ao amor, posse ao desprezo. Fiquei absurdamente embebida naquela narrativa doentia. Também nada é claro, há inúmeras lacunas, e talvez seja o que faça de O Jogo da Amarelinha mais fascinante, a dúvida. A não certeza de nada. Como se uma mente perturbada nos levasse a diversos caminhos, mas não há certeza de que realmente aconteceram. Devorei avidamente a tortura de seus personagens e pensamentos confusos.
Obra A Lua de Antonio Berni
Seguem trechos da obra O Jogo da Amarelinha de Julio Cortázar, mas merece ser lido na íntegra, várias vezes e com várias construções de ordens dos capítulos:
“Encontraria a Maga? Tantas vezes bastara-me chegar, vindo pela rue de Seine, ao arco que dá pra o Quai de Conti, e mal a luz cinza esverdeada que flutua sobre o rio deixava-me entrever as formas, já sua delgada silhueta se inscrevia no Pont dês Arts, por vezes andando de um lado para o outro da ponte, outras vezes imóvel, debruçada sobre o parapeito de ferro, olhando a água.”
“Acostumaram-se a comparar as colchas, as portas, os abajures, as cortinas; os quartos dos hotéis.”
“Por cima ou por baixo, Big Bill Broonzy começou a cantar See, see, rider; como sempre, tudo convergia de várias dimensões irreconciliáveis, um grotesco collage, que era preciso montar com vodca e categorias kantianas, esses tranqüilizantes contra qualquer coagulação demasiado brusca da realidade. Ou como quase sempre, fechar os olhos e voltar para trás, para o mundo, para o confortável mundo de qualquer noite, escolhida cuidadosamente entre o baralho aberto. See, see, rider, cantava Big Bill, outro morto, see what you have done.”
“Em Paris somos como cogumelos, crescemos nos corrimões das escadas, em quartos escuros onde cheira a gordura, onde a gente faz o amor todo o tempo e, depois frita ovos e põe discos de Vivaldi, acende cigarros... todos nós fazemos o amor e fritamos ovos e fumamos, ah!, nem pode imaginar tudo o que fumamos e o tanto que fazemos o amor, parados, deitados de joelhos, com as mãos, com as bocas, chorando ou cantando, e lá fora existe de tudo, as janelas dão para o ar e isso começa com um pardal ou uma goteira, aqui chove muitíssimo.”
Todas as telas são de pintores argentinos.
Música do post: See see rider (A vitrola de Maga é incessante. Seja de noite, seja de dia, seja com criança doente, com vizinho reclamando, está sempre lá tocando, e nós acompanhamos todas as escolhas musicais. Essa música é uma das mencionadas na obra.)

Beijos,
Pedrita