Matheus Leitão Netto queria conhecer mais a parte da história dos seus pais na época da Ditadura Militar. Seus pais foram presos e torturados em Vitória entre 1972 e 1974. Sua mãe com 19 anos, Míriam Leitão, estava grávida do irmão dele. Míriam Leitão fazia alguns trabalhos de resistência, pichar muros, entregar panfletos. Seu pai ficou 9 meses preso, passando fome, sendo torturado. Os policiais levaram os pais deles para o quartel, sem avisar ninguém, sem direito a visitas, advogados, julgamentos. No silêncio de uma confidencialidade perversa, pessoas decidiam como seriam os interrogatórios, quais torturas usar e se as pessoas teriam direito ou não a vida.
Não há direito a reparação da história. É proibido ter acessos aos documentos, como é proibido não entendo, já que há a lei de acesso a informação. Mas uma minoria se acha no direito de impedir que a história seja contada. Com os documentos de prisão dos pais, por 13 anos, Matheus Leitão Netto pesquisou os nomes das pessoas que assinaram esses documentos, tentou visitar o quartel, mas não teve autorização. Estranhamente o quartel, um lugar público, pode ser alugado pra festas, festas de formaturas, casamentos, mas não pode servir para pesquisa histórica. Fiquei pensando quais são as licitações que autorizam que um espaço público possa ser alugado e qual o destino do dinheiro.
Um dos torturadores de Míriam Leitão foi Paulo Malhães. O documentário lembra que o coronel confessou as torturas na Comissão Nacional da Verdade e foi assassinado logo depois. O coronel diz não ter culpa do que fez. O olhar sádico e perverso é assustador. Um prazer no olhar em falar da tortura, mesmo que o discurso não seja empolgado.
Pelo fato de todos serem jornalistas, conhecerem os direitos dos entrevistados e pessoas nas ruas, o documentário é muito cuidadoso em preservar a imagem das pessoas que não querem aparecer. O documentário mostra que vários países já fizeram a reparação. Eu vi o filme do Mandela: O Caminho para a Liberdade e lá na África do Sul os torturadores ficavam em uma mesa e um a um dos torturados iam ao microfone relatar os fatos, só isso, e que foi fundamental para a reconstrução da nação. E se achavam que os comunistas precisavam ser parados, que usassem a lei com prisões, julgamentos, jamais com desaparecimentos, torturas e mortes. Se os comunistas não podiam matar, sequestrar, roubar pela causa, os militares também não. O exército tentou impedir a realização do documentário.
Beijos,
Pedrita