sábado, 3 de dezembro de 2022

Medida Provisória

Assisti Medida Provisória (2020) de Lázaro Ramos na Globoplay. Queria muito ver esse filme, inclusive no cinema. É incrível! O excelente texto é baseado na peça Namíbia, Não! de Aldri Anunciação, inclusive ele participa do filme. Quando foi escrita não chegava perto do escancaramento do conservadorismo. Sim, o preconceito que sempre existiu passou a beirar o insuportável.

O roteiro é muito bem construído. Uma família tem posições diferentes. Um casal muito bem sucedido, ela médica e ele advogado, acredita que o diálogo é o caminho. O jornalista, com dificuldade de trabalho, profissão cada vez mais desacreditada e sem espaço, pensa que só o diálogo não resolve. E os atores são incríveis, Taís Araújo, Alfred Enoch e Seu Jorge. Mariana Xavier é a namorada do jornalista.

 
É uma época conturbada, mas ainda democrática. Os brancos começam uma campanha de reparação histórica absurda, surreal, sugerindo que vão financiar a volta de negros a "sua origem". Que o governo irá financiar a viagem para países do Continente Africano.

O que era um convite indecente vira um projeto de lei. Políticos conservadores conseguem aprovar a lei de "deportação" no congresso. Lembrou muito o que leio da perseguição nazista aos judeus, que passam a ser tratados violentamente e segregados da sociedade, perdendo suas casas, bens. O advogado avisa ao irmão que a lei não previu a invasão de privacidade, e que ninguém poderá entrar no apartamento deles pra retirá-los. Já a médica, fugindo, encontra um dos inúmeros Afrobunkers clandestinos, onde negros resistem. Nesse núcleo aparece a maravilhosa Diva Guimarães, professora, que encantou o Brasil com diálogos emocionantes.
O filme é muito forte, inteligente e milimétrico. Há uma cena de injustiça tanto no Afrobunker, bem como na cidade, culminando em tragédias simultâneas. O ódio gera violência. O elenco continua incrível: Adriana Esteves, Cláudio Gabriel, Pablo Sanábio, Flávio Bauraqui, Renata Sorrah, Paulo Chun, Dani Ornellas, Hilton Cobra, Pedro Nercessian, Indira Nascimento, Luis Miranda, Jéssica Ellen, Emicida, Tia Má, Gustavo Falcão, Dan Ferreira e William Russell.
Em uma caminhada, personagens se misturam com muitos profissionais, é emocionante, aparecem Conceição Evaristo, Rodrigo França, Luana Xavier, Flávia Oliveira, entre tantos outros.


Lázaro Ramos comentou na página do filme no instagram que cada cena tem referências atrás. Achei algumas, quero ver de novo pra descobrir outros porque o filme é tão envolvente que volte e meia esquecia de olhar. Mas vi alguns: Ruth de Souza, Conceição Evaristo, Bob Marley, Dorival Caymmi.

Beijos,
Pedrita

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Retrospectiva Spotify 2022

É um momento muito esperado a Retrospectiva Spotify. Fiquei surpresa que ouvi bem menos esse ano. 20.562 minutos. Deve ter sido porque trabalhei mais. Elephant Gun continua entre as mais ouvidas, agora em 4º lugar. Amo essa música! Esse ano eu criei a Playlist As mais mais, onde coloco as músicas que mais gosto de ouvir nesse momento. E deu certo, a retrospectiva mostrou exatamente as que gosto mais. E também é bom porque tem vezes que eu gosto muito de ouvir as músicas que gosto mais. Essa retrospectiva ficou tanto o que amo ouvir que acho que vou ouvi-la muito.

Mas eu sou Fominha de aventura. O texto é exatamente como sou, amo descobrir novas músicas, ritmos, tanto que minhas playlists são enormes, com horas de duração e sempre coloco mais. A cada filme, vou procurar a playlist, acrescentar mais e pra piorar estou em cócegas pra começar a ouvir as músicas mais ouvidas dos meus amigos, tenho diversão musical por bastante tempo.


 

As músicas mais ouvidas são realmente as que mais gosto de ouvir. 


E sim a música que mais ouvi é mesmo uma das que mais gosto de ouvir, The Blower´s Daughter de Damien Rice de um filme que amo, Closer.
Eu me divirto sempre com os gêneros. Um amigo no instagram até colocou interrogações em 2 gêneros dele que são mais esquisitos que o meu que também não sei. Eu ri demais com clássicos de adulto, que criança não ouve, deve ser isso.

Sem dúvida meus artistas preferidos.
Mas eu ouvi bem mais artistas diferentes. 1074 no total. Minhas retrospectivas anteriores estão aqui.

Essa retrospectiva é muito caprichada, inteligente, eu não paro de ver. Os artistas também recebem banners com o tempo que ouviram suas músicas, os países, quais músicas mais ouvidas. Eu tenho um carinho enorme pelo Spotify

E pela minha linda caixinha de som laranja da JBL.


Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Um Lugar Bem Longe Daqui

Assisti Um Lugar Bem Longe Daqui (2022) de Olivia Newman na HBOGo. Quase vi esse filme no cinema já que tinha amado o livro de Delia Owens. O nome original é muito lindo, Where The Crawdads Sing. Esse pôster é lindo demais!

É difícil condensar um livro tão denso, uma história inteira de uma jovem. A infância de Kya é muito condensada. Jojo Regina está uma graça. Fica pouco perceptível os abusos na infância. E a narração didática incomoda um pouco. Fica parecendo tudo muito "fácil" pra menina. O casal que ajuda a garota é interpretado por Sterling Macer Jr. e Michael Hyatt.
O filme melhora com a protagonista adolescente. A produção preferiu escolher só duas atrizes pras quatro fases da Kya. Uma não tão criança, e outra não tão adolescente. Daisy Edgar-Jones está muito bem no papel, mas não convence muito na versão adolescente.

O filme preferiu uma escolha mais convencional. Focar no caso policial, um jovem é encontrado morto, e no dois romances da jovem. David Strathairn interpreta o advogado. Os dois jovens são Taylor John-Smith e Harris Dickinson.
Mas a história é tão rica, tão profunda, tão necessária, que se transforma em um lindo filme. O pântano é um personagem. Essa jovem sofre sucessivos abandonos e nem por isso a cidade se compadece. É sempre chacota de todos, não só das crianças e jovens. Desrespeitada o tempo todo, tenta sobreviver na adversidade. A linda canção final, California de Taylor Swift foi feita especialmente pra o filme.



Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O Caminho da Fênix

Acompanhei as atividades do projeto O Caminho da Fênix da Cia Teatral Casa de Marias. Li o livro Enquanto não cicatriza - História de mulheres que sobreviveram de Celia R. Ramos Méris, Maria Vitória Siviero e Silvani Maria da Silva. O projeto realizou uma pesquisa em abrigos sigilosos de proteção a mulheres que sofreram violência. Pelas dinâmicas, o grupo definiu as linguagens que iriam relatar o que viram. O livro traz crônicas inspiradas nas vivências que tiveram com essas mulheres. São histórias de muita dor, de muito abandono. As violências estão, na maioria das vezes, em todos os momentos. O relacionamento abusivo que levou a mulher em fuga ao abrigo é só um dos inúmeros relatos de abandono, violência, muitas vezes desde a infância. E mulheres que se tornaram mães e tiveram seus filhos também espectadores daquelas vidas difíceis, com muita violência e pouco afeto.  
No lançamento do livro no Centro Cultural São Paulo teve um bate papo com Ester Francisco da Silva, assistente social, Mestre em Economia Política Mundial, especialista no Combate à Violência Doméstica e ativista de movimento de Mulheres Negras e Ricardo Estevam é psicólogo, especialista em políticas públicas para mulheres em situação de violência, mestrando pela faculdade de saúde da USP em violência contra mulheres. Estava lotado, foram tantas perguntas que nem todos puderam se manifestar pelo adiantado da hora. Ester falou que a questão toda é complexa e vem desde a infância, de como criamos os filhos. As meninas e meninos são criados de modo diferente, depois essas pessoas tem que se entender e se encontrar no futuro. Ricardo falou da dificuldade de falar do tema. Que a mulher morta ganha um tempo pequeno na televisão, mas depois outra toma o lugar e a notícia. Que nas poucas reuniões de família evitam falar de temas difíceis. Que sem o diálogo não temos como ajudar, acolher e resolver as questões, quando ainda há tempo. Ricardo lembrou da armadilha do papel do homem como provedor, que não pode expressar seus sentimentos, que tem que ser forte. Ester falou da quantidade de mulheres assassinadas em uma única semana, que a pandemia piorou a questão. Os dois lembraram como muitas religiões são machistas e falam da submissão da mulher. Ester comentou que em algumas cidades da grande ABC tem o projeto E Agora José? que ajuda homens a compreender o processo de violência.
A última ação do projeto foi o lançamento do documentário O Caminho da Fênix onde especialistas falaram da situação das mulheres, dos abrigos. Mulheres protegidas foram entrevistadas e contaram um pouco de suas histórias. Imagens ficcionais com atores mostravam a solidão das mulheres, os momentos difíceis até a decisão de partir. Lindos momentos na praia, onde elas livres poderiam se reconstruir. Foi um momento de esperança.

As entrevistadas falaram da solidão dessas mulheres nesse processo.





Beijos,
Pedrita