sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Cadete Winslow

Assisti O Cadete Winslow (1999) de David Mamet no Max. Eu vi que era filme de época em uma zapeada e coloquei pra gravar. Não tenho mais visto o filme na grade de programação do Max. É baseado em uma história real que foi contada no livro de Terence Gatting.

Gostei muito como o filme é construído. As interpretações e emoções são contidas. Tudo muito formal mesmo em momentos de tantos conflitos. Um garoto é expulso da Marinha e acusado de roubo. O pai acredita no filho e entra com um processo contra a Marinha. Imagina o que sofreram. Processar uma instituição tão respeitada e importante. O pai é interpretado por Nigel Hawthorne. O garoto por Guy
Edwards
.

Começa com a filha ficando noiva de um oficial. Ela é estudiosa, feminista, luta pelo voto feminino e apoia o pai que precisa usar o dote dela para o processo. O pai do noivo envia uma carta dizendo que o processo está prejudicando o filho e que se não pararem o processo o noivado será cancelado. Ela procura o noivo, gosta do noivo, mas percebe que na verdade ele está interessado na mesada dela para aumentar o seu dinheiro mensal. Muito interessante como toda a trama é construída. A irmã do garoto é interpretada por Rebecca Pidgeon. A mãe por Gemma Jones. O advogado por Jeremy Northam. O advogado diz a feminista que quer continuar vendo-a no tribunal. Ela diz estará, mas no andar debaixo, onde só homens podiam ficar. Os textos feministas são muito sutis, mas muito claros, mostrando a condição de inferioridade a que eram submetidas as mulheres. Ela mesmo está preocupada se não casar, já que não consegue um salário que a sustente.

Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Novo Mundo

Assisti Novo Mundo (2017) de Thereza Falcão e Alessandro Marson na TV Globo. Direção geral de Vinícius Coimbra. Que novela!!! Além de falar de um importante período histórico brasileiro, ainda teve discursos incríveis sobre escravidão, índios, política, condição feminina. Foi tão impressionante e inesquecível que já estou com muita saudade.

Sim, fizeram algumas licenças poéticas, mas não tanto quanto o que falavam. Mostraram sim os inúmeros envolvimentos de Dom Pedro (Caio Castro). A novela começou com a vinda da Leopoldina (Letícia Colin) ao Brasil para casar com Dom Pedro. Eu tinha comprado antes da novela começar A Biografia  Íntima da Leopoldina de Marsillo Cassotti que comentei aqui. Só depois que soube da novela e aí resolvi ler. Logo que Leopoldina está vindo ao Brasil, Dom Pedro estava se envolvendo com uma dançarina (Luísa Micheletti). Eu acho que ele amou a Leopoldina. Pessoas sedutoras gostam de fazer os outros caírem de amores. Dom Pedro era tão sedutor quanto Domitila (Agatha Moreira), os dois eram muito parecidos. Cheguei a achar que o envolvimento do Pedro com a esposa (Joana Solnado) de Avilez (Paulo Rocha) fosse licença poética, mas não foi. Tinham rumores que ele teria se envolvido com a esposa do oficial realmente.
Foi emocionante demais o Dia da Independência. A novela mostrou ainda o Dia do Fico. Muitos falavam se iam mostrar Pedro passando mal com diarreia, não deixaram claro se era diarreia, mas ele passou muito mal caminhando. Ele tentava voltar ao Rio de Janeiro e passou mal no caminho. 

Logo que a novela começou passaram a dizer que Leopoldina era gordinha. Há um grande equívoco nessa informação. Leopoldina chegou no Brasil com 20 anos, casou e logo engravidou. Morreu com 29 anos e nesses 9 anos esteve grávida 7 vezes, sendo que cada vez são 9 meses e a mulher leva um pouco para desinchar após dar a luz. Algumas vezes, muito provavelmente antes mesmo de terminar a amamentação e desinchar ela estava grávida de novo. Gostei que Novo Mundo mostrou a importância política de Leopoldina. No livro vi que o pai dela era um grande diplomata austríaco. Ela aprendeu com ele a gerenciar conflitos e era ela que auxiliava muito Dom Pedro a resolver os inúmeros problemas que tiveram nesse período conturbado. Leopoldina foi determinante, bem como Bonifácio (Felipe Camargo).

As pessoas ficaram indignadas com a novela ter insinuado que Bonifácio teria se apaixonado por Leopoldina. Quem garante que não? Em tudo o que se lê sobre os dois sempre vem a frase que Leopoldina e Bonifácio estavam sempre juntos, que eles se identificavam muito porque os dois eram muito cultos. Que tinham altas conversas. Não podemos esquecer que princesas e rainhas sempre eram protegidas, quase imaculadas com raras exceções. Leopoldina era amada pelo povo, jamais deixariam qualquer insinuação manchar a sua imagem até por uma estratégia real. Mas quem garante que eles não tivessem nutrido algum sentimento? Sim, Leopoldina era católica demais, jamais aceitaria um envolvimento fora do casamento como se posicionou na novela. Mas achar que Leopoldina não seria uma mulher pulsante, é machismo.

Eram muitos personagens incríveis. Gostei demais de terem criado uma taberna suja, com poucos móveis. Essa reconstituição de época foi incrível. Era muito difícil ter móveis na época, roupas, os personagens repetiam muito as roupas, mesmo os do palácio. E banho não era algo comum. Era raro. Os personagens eram sujados. Licurgo (Guilherme Piva) e Germana (Viviane Pasmanter) foram inacreditavelmente incríveis. Licurgo criava pratos, inventou a feijoada, o frango a passarinho que ele enganava e era de pombo na verdade, pipoca e muitos outros pratos. Mas ele cozinhava muito, mas muito mal. E adoravam ter escravos brancos. Sempre davam um jeito de contratar funcionários sem pagar, explorando mesmo.

Eram tantos casais que eu amava. Wolfgang (Jonas Bloch) e Diara (Sheron Menezes) era um deles. Ela era escrava, ele a comprou e a alforriou. É linda a transformação dela. Inicialmente ela queria ser uma dama, com roupas exageradas cheias de babados. Ela sempre foi escrava de dentro. Quando descobre a violência dos escravos das plantações, resolve se vestir conforme suas origens. As mensagens subliminares de Novo Mundo eram muito impressionantes e inteligentes. Eu tenho curiosidade para saber se Ferdinando (Ricardo Pereira) ficaria com Diara em um primeiro momento. Gostaria de saber se mudaram, porque a rejeição a separação do casal Wolfgang e Diara foi imediata, eu queria o tempo todo os dois juntos e não queria que Wolfgang morresse. E gostei do final que deram ao Ferdinando, muito coerente.

Adorava também o casal Amália (Vanessa Gerbelli) e Peter (Caco Ciocler). Ele era médico e como homem das ciências era cético. Era ainda republicano. Muito interessante os textos dele que não acreditava em nada, tinha divergências com Dom Pedro, Bonifácio. O tempo todo eles falavam em respeitar a opinião do outro, de tolerância. Novo Mundo fez várias pontes com o momento político atual, estimulando a temperança, o diálogo. Até a abertura era muito inteligente, mostrando o caminho do ouro.
Outro casal que adorava era Cecília (Isabella Dragão) e Libério (Felipe Silcler). Ele um importante jornalista dono de um jornal, ela uma mulher a frente do seu tempo, como a maioria da novela, as mulheres em Novo Mundo eram muito fortes e determinadas. Cecília escrevia artigos contundentes sob pseudônimo contra a escravidão, sobre os direitos das mulheres. Mesmo sendo filha de um rico comerciante que enriqueceu com o tráfico de escravos, inclusive ilegal. Apesar de ser uma novela na escravidão, os textos falavam muito de igualdade. Os escravos não era submissos. Eram guerreiros, queriam sempre se juntar a grupos para libertar os irmãos e levá-los a quilombos. 

Boa parte dos empregados eram brancos. Raros eram os negros escravos ou em funções de menor remuneração. Libério era escritor e jornalista, Diara esposa de um rico fazendeiro. Alguns piratas em cargos altos, eram os ricos e davam ordens. Os escravos de ganho, raramente mencionados na ficção, tinham função determinante na trama. Eles ajudavam sempre os bons a levarem e trazerem informações. Amava o trio de empregados do palácio, Dalva (Mariana Consoli), Lurdes (Bia Guedes) e Patrício (André Dias), esse de caráter totalmente duvidoso que odiava Leopoldina, idolatrava Carlota Joaquina (Débora Olivieri) e Domitila. No final juntou-se a esse grupo Nívea (Viétia Zangrandi). Adorei o final que deram as esses personagens.

Adorava os piratas, desde o começo da trama eles se misturavam nas histórias, saqueando, criando aventuras. Fred Sem Alma (Leopoldo Pacheco), Hassan (Thiago Tomé), Jacinto (Babu Santana) e a bela Miss Liu (Luana Tanaka) que nos proporcionou maravilhosas lutas.

Inclusive com a guerreira Jacira (Giulia Buscaccio), que episódio. Jacira é índia, se apaixona por Piatã (Rodrigo Simas), mas ela quer ser guerreira, ele ia ser pajé e não queria saber de caçar. Piatã foi dado ao pai de Ana e viveu em Londres ou viajando com o pai.

Eu gostei bastante também do núcleo dos índios. Os textos foram muito atuais sobre a matança em massa que os portugueses fizeram aos índios na colonização, mas também das violências sofridas nos dias de hoje. Interessante como as tramas se misturavam. Com elenco enxuto, volte e meia alguma trama se encontrava. No início os índios encontram Joaquim quase morto e o tratam. Ele passa a ajudar os índios e se torna Tinga. 

Inclusive o botânico Ferdinando, após perder a sua amada (Maria João Bastos), passa a viver na mata e fazer pesquisas. Ele também vai a aldeia. E fica um tempo por lá.

Joaquim (Chay Suede) e e Anna (Isabelle Drummond) eram o casal ficcional. Eles tem um filho e acabam criando o Quinzinho (Theo de Almeida). Que ator fofo. No início Quinzinho era mudo, depois ficou muito tagarela, grande filho, grande ator. Fofo demais. Adorei que no final o texto brincou com a pieguice do casal. Mas mesmo Anna sendo a mocinha, ela lutava com espada, era heroína também. 

Eram muitos personagens fortes. Sebastião (Roberto Cordovani) estava em todas as conspirações contra Dom Pedro. Queria enviar Dom Pedro de volta a Portugal, permanecendo o Brasil Colônia e sob ordens das cortes portuguesas. Excelente personagem. Sua escrava (Dhu Moraes) tinha sido abusada por ele quando jovem e tinha um filho bastardo, Matias (Renan Monteiro). Ela era praticamente a única negra conformada ao seu destino. A única que acreditava que não deviam irritar o patrão, que tinham até uma vida boa como escrava de dentro. Todos os outros escravos eram contrários a sua condição. Bela negra que casou depois com Matias, a Luana (Jeniffer Dias). Muito bonito que Novo Mundo teve casamentos católicos, indígenas e afros. Várias vezes tinham festas e danças afros.
Eram muitos personagens que adorava. Chalaça (Romulo Estrela), Thomas (Gabriel Braga Nunes), Padre Olinto (Daniel Dantas), Elvira Matamouros (Ingrid Guimarães), Greta (Julia Lemmertz), (César Cardadeiro), Tibiriçá (Roney Villela), Felício (Bruce Gomlevsky), Jurema (Jurema Reis), Dom João (Léo Jaime) e Comandante Millman (Ney Latorraca). Gostei muito de terem intercalado atores que adoramos com outros pouco ou quase desconhecidos em papéis de destaque como Ubirajara (Allan Souza Lima), Francisco (Alex Morenno), Rosa (Aline Morena), Shultz (Ruben Gabira) e Maria Benedita (Larissa Bracher). Novo Mundo foi uma novela que não subestimou o público, sempre indo além do que podia para fazer pensar, questionar, apaziguar e informar.

Beijos,
Pedrita

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Concerto do Centro de Música Brasileira

Fui ao Concerto do Centro de Música Brasileira no Centro Britânico Brasileiro. Fiquei impressionada com a execução do primeiro grupo, Duo Cerri-Botelho. Sérgio Cerri é flautista e Flávia Botelho é pianista, que músicos!!! Inesquecíveis!!! Que precisão de interpretação e que beleza de resultado. Também foi emocionante demais as obras que escolheram para tocar. Vocês sabem o quanto amo flauta. Linda o Romance Primaveril de Francisco Braga. Aprendi a conhecer Patápio Silva nessa série e entrou para a lista de compositores que adoro, dele o duo tocou Oriental. Patápio Silva foi um dos grandes flautistas brasileiros. Adoro Francisco Mignone e dele tocaram a Valsa-Chôro, adoro esses dois ritmos, que obra linda. Dificílima as obras de Osvaldo Lacerda, Poemeto e Cantilena, no bis eles tocaram mais outra bela composição dele, a Toccata. Amo Guerra-Peixe, e linda demais a Quatro Coisas. Radamés Gnatalli é outro compositor que adoro, e tocaram a Sonatina em Ré Maior em quatro movimentos, outro compositor de difícil execução. Tocaram ainda Águas Claras de Villani-Côrtes e terminaram com um compositor que aprendi a gostar muito, Breno Blauth. Dele tocaram a Sonatina T-57 em três movimentos.

Programa:

Francisco Braga - Romance Primaveril
Patápio Silva – Oriental
Francisco Mignone - Valsa Chôro
Osvaldo Lacerda – Poemeto e Cantilena
Guerra-Peixe - Quatro Coisas
Radamés Gnattali - Sonatina em Ré Maior (Allegro moderato, Expressivo e Allegro - Lembrando Pixiguinha)
Villani-Côrtes - Águas Claras
Brenno Blauth - Sonatina T-57 (Praiana, Devaneio e Ronda)

Depois se apresentou o Coral da Cultura Inglesa. Gosto muito desse grupo que é regido há 23 anos pelo maestro Marcos Júlio Sergl. No órgão estava Leonardo Fernandes. O repertório foi todo de obras sacras.  Lindas todas as músicas! O compositor Fernando Cupertino estava na plateia. O maestro conheceu muito Osvaldo Lacerda que compôs especialmente para os grupos que ele regia algumas obras.

Programa:

Ernani Aguiar - Salmo 150
Osvaldo Lacerda
Kyrie da Missa Ferial

Ave Maria

Pai Nosso 

A anunciação à Maria
Oração para aviadores


Fernando Cupertino
Alma de Cristo

Panis Angelicus da Missa em Mi Bemol Maior 



Beijos,
Pedrita