sábado, 14 de junho de 2008

Vestido de Noiva

Terminei de ler a peça de teatro Vestido de Noiva (1943) de Nelson Rodrigues da Coleção Folha. Vocês se lembram que comentei que queria ler a peça depois que assisti ao filme dirigido pelo filho do Nelson, o Joffre Rodrigues. E não é que o livro estava na Coleção Folha? Eu comprei toda a coleção e ela chega em lotes pra mim. Vestido de Noiva veio no segundo lote e é o 14º livro. Fiquei irradiante. Quem estiver em São Paulo talvez consiga achar em algumas bancas que guardam alguns volumes para venda. Eu tinha lido que em um momento da realização do filme, Joffre Rodrigues achou que estava muito teatro e quebrou a cabeça para definir as escolhas de edição que transformassem realmente a obra em um filme. Eu amei o filme e tinha muita curiosidade de saber quais foram essas escolhas.

Obra Cinco Mulheres em Guaratinguetá (1930) de Di Cavalcanti

No texto da peça começa o som do atropelamento e os delírios de Ataíde. No filme, Joffre Rodrigues começou pela chegada da família na casa que tinha sido muitos anos antes de Madame Clessi e de Ataíde descobrindo o diário da cortesã.
Eu me surpreendi ouvindo em minha mente a voz de Simone Spoladore na personagem Ataíde quando lia a peça. A da Marília Pêra como Clessi também.

Nelson Rodrigues era realmente um mestre com as palavras, em frases curtas dizia preciosidades que jamais esquecemos. Novamente me surpreendeu os delírios, sonhos ou realidade de nossa protagonista. Não sabemos se tudo o que ela vive com a Clessi é perturbação mental realmente e temos dificuldade de compreender o que aconteceu e o que acontece. Sempre toda a complexidade da obra de Nelson Rodrigues, da falsa aparência das famílias de classe média, da sordizes das relações. Majestoso! Obra de arte!

Obra Vaso de Flores de Anita Malfatti

Trechos da peça Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues:

“Buzina de automóvel. Rumor de derrapagem violenta. Som de vidraças partidas. Silêncio. Assistência. Silêncio.”

“- Sou louca? (com doçura) Que felicidade!”

“Um morto é bom, porque a gente deixa num
lugar e quanto volta ele está na mesma posição.”

Alaíde pede muito que tenha uma Ave Maria em seu casamento, que pode ser a de Gounod, é a que escolhi para ilustrar o post.


Música do post: Avemaria (Gounod)




e Beijos,
Pedrita

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Casamento de Muriel

Assisti ao filme australiano O Casamento de Muriel (1994) de P.J. Hogan no Telecine Emotion. Sempre tive curiosidade de ver esse filme de tanto que falaram. Gostei bastante! Principalmente pelo fato da protagonista não se modificar completamente dentro de um perfil pré-estabelecido. Muriel é uma garota com baixa-estima, com uma família complicada que vive inerte. Seu pai é um narcisista e um político corrupto. Claro, o sonho de Muriel é casar e também ser inserida no grupo de amigas que foi excluída. Gostei que o filme até realiza o sonho dela, mas a que preço? Ao preço do abandono de uma personalidade própria e de uma farsa. Ela acorda da ilusão, resolve voltar a ser ela mesma, uma moça diferente, que não se enquadrava na futilidade das suas colegas. Também esteticamente Muriel é diferente. É uma moça bastante alta, com estrutura óssea grande e não dentro do padrão físico considerado belo.

Muriel é interpretada brilhantemente pela Toni Collette. Sua melhor amiga por Rachel Griffiths. O pai por Bill Hunter. O noivo por Daniel Lapaine.

A trilha sonora é toda do ABBA. Eu nunca fui muito fã desse grupo, o 007 adora.


Música do post: ABBA - Dancing Queen



Beijos, Pedrita

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Minha infância na Prússia

Terminei de ler Minha infância na Prússia (1993) de Marion, Condessa Dönhoff da Editora 34. Minha irmã que me emprestou. Marion é uma jornalista que resolveu contar o período áureo de sua infância na Prússia que era uma província alemã. É estranho ver aquela vida de uma certa forma pacata, cheia de luxos e imaginar que todos perderam tudo após a guerra. Imaginar que depois podemos não mais ter o nosso lar, que um país deixou de existir pelas mãos da Alemanha nazista. É estranho achar na internet que ela foi uma jornalista alemã. Não, não foi, ela nasceu sim na Prússia. Estranho acabar um país e mais estranho depois de desaparecer ser ignorado como país de nascença.


Obra de 1909 do pintor prussiano Lovis Corinth


Novamente vemos os exageros de empregados da nobreza desse período. Muitos filhos. Me surpreendi com a distância que eles tinham dos pais. Quando Marion fala de sua infância comenta a enorme saudade do convívio com os seus irmãos e com os empregados. Eu anotei um trecho onde ela comenta que moravam em outro andar, que viam os pais muito pouco e eram os empregados que estavam sempre com eles. Eles andavam muito a cavalo, caçavam, tinham títulos de nobreza. Marion conta como eles armazenavam os alimentos no inverno, como juntavam o gelo para conservar, já que não havia geladeira. A Prússia era um país muito frio, com invernos muito rigorosos, nos dá agonia quando ela viaja dias e dias a cavalo para fugir da invasão nazista. É possível verificar nos trechos que anotei valores e regras que não conhecemos.
1858 - Princesa Auguste Viktoria Friederike Luise Feodora Jenny Princess da Prússia

Anotei vários trechos da obra Minha infância na Prússia de Marion, Condessa Dönhoff:
“Em geral, a hierarquia era observada com tanto rigor nos níveis inferiores quanto entre os dignatários da corte. A cozinheira jamais faria uma refeição com as criadas da cozinha, ou a castelã, a senhorita Schikor, com as domésticas, que tinha sob suas ordens; a cozinheira e a castelã sentavam-se à mesa numa sala especial à qual apenas a camareira de minha mãe tinha acesso e, ocasionalmente, um ajudante solteiro do administrador, o chamado eleve. Os três jovens cocheiros subordinados ao cocheiro-mor também faziam as refeições no castelo e tinham uma mesa própria – no entanto, apenas num local de passagem.”

“Convenção, o conceito que uma geração posterior combateu com tanta veemência – o convencional tornou-se o superlativo de tudo o que é vazio, superficial e fútil – era algo determinante para minha mãe e seu tempo. Para mim, a forma, no sentido de estilo, parecia muito importante, mas a convenção não; e já bem cedo também eu desenvolvi uma resistência contra ela. Só depois de ver o quão insegura as pessoas ficam sem convenções é que se aprende a valorizá-las.”

“Violação à honra eram inadmissíveis. O divórcio, por exemplo, estava absolutamente fora de questão para oficiais e altos funcionários e acarretava a perda do cargo.”

“As crianças, pelos menos nós três, os filhos mais novos, quase não víamos nossos pais; eles viviam lá embaixo, nós vivíamos em cima com a babá, comíamos sozinhos, brincávamos sozinhos. À noite, minha mãe subia para as orações, e quando havia convidados tínhamos que descer para dizer boa noite.”
Música do post: Prussian Military Song - Hohenfriedberger_Marsch

Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Homem que não estava lá


Assisti O Homem que não estava lá (2001) dos Irmãos Coen no Cinemax. É o primeiro filme que vi desses diretores, confesso que sempre relutei. Gostei demais! Adorei o roteiro inteligente, texto impecável e a forma como conduziram o enredo. Excelente! O Homem que não estava lá é baseado nos filmes noir, há várias sutilezas que brincam com o gênero. Nosso protagonista está exageradamente sempre com um cigarro, chega a dar até enjôo de tanto que ele fuma. A fotografia de Roger Deakins é simplesmente maravilhosa! Taato que ganhou o prêmio Bafta.
Nosso protagonista é o excelente Billy Bob Thornton. Sua esposa a ótima Frances McDormand. Ele é um barbeiro e imagina que a sua esposa o traia com o chefe dela. Mas ele não se incomoda. Ele só pensa no assunto quando aparece uma proposta de um negócio e resolve chantagear o amante rico de sua mulher para conseguir o dinheiro para os negócios. A trama é bem complexa e surpreendente.

O Homem que não estava lá ganhou prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. Alguns outros do elenco são: Michael Badalucco, Adam Alexi-Malle e James Gandolfini. Também gostei bastante das representações das duas outras mulheres: é muito divertida a cena da esposa do dono da loja interpretada por Katherine Borowitz e da participação de Scarlett Johansson que aparece continuamente ao piano, com uma interpretação correta mas medíocre principalmente de obras de Beethoven.


Música do post: Robert Stoica - Moonlight Sonata [Beethoven]



Beijos,

Pedrita

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Promessa


Assisti A Promessa (2005) de Chen Kaige na HBO Plus. Fazia tempo que queria ver esse filme. Duas amigas blogueiras tinham falado para que eu visse o filme A Promessa, não sei se mencionavam esse, já que há outro com o mesmo nome na grade de programação da HBO. Se foi esse eu gostei demais. É uma daquelas histórias orientais cheia de fábulas. A produção é impecável. Li que foi um dos filmes chineses mais caros. Gostei demais das cenas em locais fantasiosos, com personagens voando, andando sob a água, de uma beleza estética estonteante e muitos efeitos especiais.

Os protagonistas são muito bonitos. O belo casal é interpretado por Cecilia Cheung e Jang Dong-Kun. O vilão também é muito bonito, interpretado por Nicholas Tse. No início nossa protagonista aceita uma promessa, ela terá todos os bens que desejar, mas perderá todos os homens a quem amar. Essa promessa só será mudada por questões praticamente impossíveis. A Promessa fala de honra, escravidão, guerra e amor. É muito bonito!

A trilha sonora é de Klaus Badelt.

Música do post e do filme: Klaus_Badelt_-_The_Promise_-_03_.Love_Theme



Beijos,

Pedrita