Terminei de ler
As Ondas (1931) de
Virgínia Woolf. É um dos meus escritores preferidos e queria muito ler esse livro, mas não me lembrava que tinha presenteado minha irmã com ele e que poderia depois pegar emprestado. É simplesmente maravilhoso! Agora compreendo porque
Virgínia Woolf se disse estafada ao terminá-lo e se refugiou no campo para descansar. O obra é construída em diálogos, como pensamentos, onde as ações se passam como se fossem conversas. Não chego a ser uma estudiosa de sua obra, mas acho magnífico o estilo de narrativa de
Virgínia Woolf e em
As Ondas é muito peculiar.
Obra
Sea Study de
Adrian Scott Stokes
Os personagens passam pela vida em ondas. A cada fase, o estilo de pensamento é condizente com a idade. Começa na infância e os olhares são tipicamente infantis, o que observam são o que descobrem. Na juventude com preocupações de afirmação em grupo, das conquistas.
Obra
Brimham Rock (1937) de
Graham Sutherland
Nós percebemos o passar do tempo só pelos pensamentos em diálogos dos personagens. Há um momento que falam de trabalho, filhos e casamento. Por último claro, a maturidade, onde os pensamentos começam a ser mais densos, existenciais e profundos. É uma obra simplesmente magnífica! Para ler e se deixar levar pelos pensamentos e sentimentos.
Obra
Women's Canteen at Phoenix Works de
Flora Lion
Trechos de As Ondas:
“O sol ainda não nascera.O mar se distinguia do céu, exceto por estar um pouco encrespado, como um tecido que se enrugasse.”
“As histórias que perseguem as pessoas até seus quartos de dormir são difíceis.”
“Vou até a prateleira. Se escolho, leio meio página de qualquer coisa. Não preciso falar. Mas escuto. Estou maravilhosamente alerta. Certamente não se pode ler sem esforço esse poema. Muitas vezes a página está decomposta e manchada de lama, rasgada e grudada por folhas fanadas, fragmentos de verbena ou gerânio. Para ler esse poema é preciso ter miríades de olhos, como um daqueles faróis que giram sobre as águas agitadas do Atlântico à meia-noite, quando talvez somente uma réstia de algas marinhas fende a superfície, ou subitamente as ondas se escancaram e delas emerge algum monstro. É preciso pôr de lado antipatias e ciúmes, e não interromper. É preciso ter paciência e infinito cuidado e deixar também que se desdobre o tênue som, seja o das delicadas patas de uma aranha sobre uma folha, seja o da risadinha das águas em alguma insignificante torneira. Nada deve ser rejeitado por medo ou horror. O poeta que escreveu essa página (que leio em meio a pessoas falando) desviou-se. Não há vírgula nem ponto-e-vírgula. Os versos não seguem a extensão adequada. Muita coisa é puro contra-senso. É preciso ser cético, mas lançar ao vento a prudência, e, quando a porta se abrir, aceitar resolutamente. Também, por vezes, chorar; também cortar implacavelmente com um talho de lâmina a fuligem, a casca e duras excreções de toda a sorte. E assim (enquanto falam) baixar nossa rede mais e mais fundo, e mergulhá-la docemente e trazer à superfície o que ele disse e o que ela disse, e fazer poesia.”
Todas as telas são de pintores ingleses do período do livro.
Música do post: Vaughan Williams- Stadsknapenkoor-Gorcum_MC1994_09_O-taste-and-see PART-I
Beijos,
Pedrita