sexta-feira, 26 de junho de 2009

Macunaíma

Terminei de ler Macunaíma (1928) de Mário de Andrade. Esse livro veio na Coleção da Folha Grandes Escritores Brasileiros que comprei. Gostei demais de Amar, Verbo Intransitivo e queria ler esse. Gostei muito! Fiquei embasbacada como alguém conseguiria escrever tão rapidamente e com tanta fluidez aqueles diálogos. No final há vários textos de Mário de Andrade, dele dizendo como escreveu a obra. Me impressionaram a quantidade de referências folclóricas, ele mesmo diz nos textos finais que a intensão não foi escrever um livro nacionalista. Ele escreve de forma jocosa, mas acaba mencionando várias lendas indígenas, brasileiras e de descendência africana.

Obra Abaporu (1928) de Tarsila do Amaral
As referências às lendas me fizeram recordar várias histórias conhecidas como a do Boto, Curupira, e outras desconhecidas. Mário de Andrade parece brincar com esse universo e com Macunaíma. É de uma genialidade incrível. Muitas lendas me lembraram o genial Monteiro Lobato na série do Sítio do Pica-pau Amarelo. Quem assistiu vai se identificar em vários momentos com a obra.
Obra Tropical (1917) de Anita Malfatti
Trechos da obra Macunaíma de Mário de Andrade

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente.”

"Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante."
Música do post: Villa-Lobos - Lenda do Caboclo
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Beijos,

Pedrita

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Estamira

Assisti Estamira (2006) de Marcos Prado no Canal Brasil. Esse documentário premiadíssimo mostra um pouco da vida de Estamira, uma senhora com problemas mentais. Eu achei muito interessante que apesar dela viver no lixão, dormir lá algumas vezes, ela tem uma casa muito asseada, anda sempre vestida com dignidade. Ela tem vários filhos, alguns têm dificuldade de aceitar as loucuras da mãe. Para nós que estamos de fora não parece muito complicado compreender e aceitar essa mulher e o seu universo próprio. Ela guarda com cuidado a carteirinha com os retornos ao posto de saúde, que faz regularmente e toma regularmente os remédios. Mais equilibrada e lúcida que muitos. Quem convive com ela deve ser mais difícil respeitar as escolhas dela, mas no lixão ela tem amigos, um grupo ao qual pertence, se sente incluída, já que muitos lá tem perturbações parecidas com as dela.

São muito impressio-nantes as cenas no lixão. A formação dos gases e a com-preensão de Estamira sobre essas questões. Claro que em vários momentos ela parece mais lúcida que todos nós, mas um dos filhos, que mostrou fotos da Estamira jovem com marido e filhos, disse que a Estamira foi muito religiosa. Portanto é possível perceber no discurso da Estamira os sermões que religiosos fazem, principalmente aqueles que não sabem muito bem o que dizem, mas que utilizam palavras de efeito, trechos da Bíblia para parecer que é algo realmente profundo.

Alguns dos prêmios que Estamira ganhou foram: Melhor Documentário - Júri Oficial no Festival do Rio, Melhor Documentário na Mostra Internacional de São Paulo, Menção Especial no Festival de Londres, Melhor Documentário no Festival de Karlovy Vary, Grande Prêmio do FIDMarseille, no Festival Internacional do Documentário de Marseille, Melhor Filme - FIPRESCI, no Festival de Viena, 3º Prêmio Coral de Documentário e o prêmio de Melhor Documentário em Memória a Pablo de la Torriente Brau, no Festival de Havana, Grande Prêmio de Cinema de Direitos Humanos de Nuremberg, Prêmio SIGNIS de Melhor Documenário, no 18º Reencontro de Cinema Latino-Americano de Toulouse.





Beijos,

Pedrita

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dreamgirls

Assisti Dreamgirls (2006) de Bill Condon no Telecine Light. Eu nunca me animei pra ver esse filme, assisti mesmo por falta de opção e me surpreendeu. É outro filme muito bem realizado, com uma direção de arte de Tomas Voth impecável e musicalmente ótimo. Esse filme também passa por décadas e igualmente tem uma transposição do tempo muito bem realizada. No início há aqueles campeonatos em teatros em bairros negros, para negros e o estilo de interpretar é como John Lee Hooker, Sarah Vaughan, típico da época. Com a passagem pelo tempo os cabelos deixam de ser alisados, vem a época do blackpower, roupas hippies e o estilo de cantar fica mais romântico na onda de Johnny Mathis e Burt Bacharach. Por último, chega a época da discoteca, os cabelos ficam compridos, enrolados, roupas coladas e muito brilho. O estilo de cantar e interpretar também muda.

As atrizes são lindas e talen-tosas. Mereci-díssimo o Oscar de Melhor Atriz Coadju-vante para Jennifer Hudson, ela está excelente, não só quando está mais jovem, mas tambem quando amadurece, convincente. Os outras três são: Beyoncé Knowles, Anika Noni Rose e Sharon Leal. O elenco masculino também é excelente: Jamie Foxx, Eddie Murphy e Danny Glover. É mais um filme que fala da questão negra nos Estados Unidos e claro que conseguimos fazer contrapontos em outras partes do mundo como o Brasil. Mas como sempre ressalto a questão negra nos Estados Unidos tem particularidades diferentes da brasileira. Esse filme inclusive é daqueles feitos para os negros pelos negros. Dreamgirls fala muito das músicas negras que viravam hits nas rádios, eram transformadas para algum astro branco e aí transpunha os bairros. Aqui no Brasil houve muita exploração musical assim no mesmo período. Artistas de sucesso subiam o morro, pagavam pouquíssimo por uma canção, colocavam o seu nome e faziam sucesso. A diferença é que alguns artistas de sucesso eram negros ou descendentes. Não era uma relação entre brancos e negros e sim entre músicos pobres e músicos de sucesso, independente da raça.
Os figurinos de Sharen Davis são impe-cáveis e a excelente a edição de Virginia Katz e a direção é ótima.Dreamgirls ganhou ainda Oscar de Melhor Som, 3 Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme - Comédia/Musical, Melhor Ator Coadjuvante (Eddie Murphy) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Hudson) e BAFTA de Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Hudson).

Youtube: Dreamgirls Music Video





Beijos

Pedrita

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Romana

Terminei de ler A Romana (1947) de Alberto Moravia. Eu comprei esse livro no sebo por R$ 10,00, é daquela coleção da capa vermelha da Editora Abril, não essa que ilustra o post. No Brasil, esse livr parece só ser encontrado em sebos, está esgotado nas livrarias. Eu gostei demais dessa obra, antes de ler vi que esse autor escreveu também O Conformista, que o Bertolucci adaptou para o cinema e gostei muito. Alberto Moravia fala muito sobre divisão de classes. Que pobres não conseguem efetivamente mudar de nível social, o que não muda muito hoje também, com raras exceções. Nossa protagonista é belíssima, uma mulher como poucas, mora com a mãe que sempre sonhou um destino melhor para a sua filha, diferente do dela. Mas o livro mostra o tempo todo que não é possível essa mudança, só em um ou outro momento temporariamente, enquanto a juventude e a beleza nos acompanham.

Obra Via Crucis de Lucio Fontana

E embora nossa protagonista ache sempre que vai conseguir, nós ficamos sempre com a sensação que ela está enganada. Nossa protagonista tem dificuldade de perceber que muito do que ela imagina é ilusão, até mesmo a ascensão da amiga que no fundo só conseguiu ir para um bairro melhor, mas talvez temporariamente, já que ela vive de aluguel e é sustentada por um homem. E eu penso como será quando a juventude se afastar dessa mulher. Gostei demais de
A Romana, do estilo do autor, e da desilusão que vai nos invadindo. Nós torcemos pela protagonista o tempo todo, mas o texto é sutil em nos mostrar sempre que é bem possível que tudo não só não melhore, mas piore.

Obra Composição (1959) de Enrico Accatino

Anotei alguns trechos de A Romana de Alberto Moravia. Queria ter anotado muito mais, mas eram tantos trechos, que o melhor mesmo é devorar a obra inteira. Apaixonante!

“Aos dezesseis anos eu era uma verdadeira beleza.”

“Talvez não tivesse essa sensação de mundo feliz proibido, se mamãe, durante minha infância, não me tivesse mantido distante do parque, assim como qualquer outra diversão. Mas a viuvez de mamãe, sua pobreza, e, sobretudo, sua hostilidade para com as distrações que a sorte não lhe prodigalizava, não me permitiram pisar no parque, como, de resto, em todos os outros lugares de diversão, a não ser bem mais tarde, quanto fiquei moça e meu temperamento já estava formado. Deve ser por isso, provavelmente, que ficou para toda a vida uma espécie de suspeita de ter sido excluída do mundo alegre e cintilante da felicidade. Suspeita da qual não consigo libertar-me sequer quando tenho certeza de estar feliz.”

“Assim cada qual coloca o próprio paraíso no inferno dos outros.”

“Além disso, gostava de Nossa Senhora porque era tão diferente de mamãe, tão tranqüila e serena, ricamente vestida, com olhos que me olhavam carinhosos; e tinha a impressão de que fosse ela minha verdadeira mãe, e não a mãe que gritava sempre, ofegante e mal vestida.”


Música do post: nino rota amacord posible para final




Beijos,

Pedrita

domingo, 21 de junho de 2009

Zodiáco

Assisti Zodíaco (2007) de David Fincher no Maxprime. Esse filme fugia de mim. Anotei várias vezes pra ver, até inclusive uma vez o filme não ia passar no horário que disseram, ou aparecia algo pra fazer, ou o telefone tocava. Enfim, nem acredito que consegui ver. O Zodíaco é muito bem construído, bem dirigido, muito bom. Vou falar detalhes do filme: É um filme onde não se resolve o mistério, infelizmente não conseguem provar nem descobrir quem foi. Há hipóteses, mas não confirmação. Embora o filme escolha uma possibilidade, não finaliza com gran finale, deixa a dúvida, afinal historicamente ela ainda existe. O filme é baseado no livro de Robert Graysmith, que é o protagonista do filme, interpretado por Jake Gyllenhaal.

A caracte-rização do filme também é muito bem realizada. O primeiro assassinato acontecem em 1969, sem conseguir desvendá-lo se arrasta por décadas. De 1969 a 1972 a moda deu um salto, os carros mudaram e o filme retrata muito bem essa mudança. Aos poucos vamos vendo os personagens mudando roupas, carros e envelhecendo. É tudo muito bem feito, bem detalhado. Gostei muito da direção de arte de Keith P. Cunningham. O elenco também é excelente. Praticamente três atores são os principais: Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo. Alguns outros são: Chloë Sevigny, John Carroll Lynch, Brian Cox e Elias Koteas. A trilha sonora de David Shire é excelente!
Música do post: Hurdy Gurdy Man




Youtube: Zodiac Trailer



Beijos,

Pedrita