Terminei de ler
A Romana (1947) de
Alberto Moravia. Eu comprei esse livro no sebo por R$ 10,00, é daquela coleção da capa vermelha da
Editora Abril, não essa que ilustra o post. No Brasil, esse livr parece só ser encontrado em sebos, está esgotado nas livrarias. Eu gostei demais dessa obra, antes de ler vi que esse autor escreveu também
O Conformista, que o
Bertolucci adaptou para o cinema e gostei muito.
Alberto Moravia fala muito sobre divisão de classes. Que pobres não conseguem efetivamente mudar de nível social, o que não muda muito hoje também, com raras exceções. Nossa protagonista é belíssima, uma mulher como poucas, mora com a mãe que sempre sonhou um destino melhor para a sua filha, diferente do dela. Mas o livro mostra o tempo todo que não é possível essa mudança, só em um ou outro momento temporariamente, enquanto a juventude e a beleza nos acompanham.
Obra
Via Crucis de
Lucio Fontana
E embora nossa protagonista ache sempre que vai conseguir, nós ficamos sempre com a sensação que ela está enganada. Nossa protagonista tem dificuldade de perceber que muito do que ela imagina é ilusão, até mesmo a ascensão da amiga que no fundo só conseguiu ir para um bairro melhor, mas talvez temporariamente, já que ela vive de aluguel e é sustentada por um homem. E eu penso como será quando a juventude se afastar dessa mulher. Gostei demais de
A Romana, do estilo do autor, e da desilusão que vai nos invadindo. Nós torcemos pela protagonista o tempo todo, mas o texto é sutil em nos mostrar sempre que é bem possível que tudo não só não melhore, mas piore.
Obra
Composição (1959) de
Enrico Accatino
Anotei alguns trechos de A Romana de Alberto Moravia. Queria ter anotado muito mais, mas eram tantos trechos, que o melhor mesmo é devorar a obra inteira. Apaixonante!
“Aos dezesseis anos eu era uma verdadeira beleza.”
“Talvez não tivesse essa sensação de mundo feliz proibido, se mamãe, durante minha infância, não me tivesse mantido distante do parque, assim como qualquer outra diversão. Mas a viuvez de mamãe, sua pobreza, e, sobretudo, sua hostilidade para com as distrações que a sorte não lhe prodigalizava, não me permitiram pisar no parque, como, de resto, em todos os outros lugares de diversão, a não ser bem mais tarde, quanto fiquei moça e meu temperamento já estava formado. Deve ser por isso, provavelmente, que ficou para toda a vida uma espécie de suspeita de ter sido excluída do mundo alegre e cintilante da felicidade. Suspeita da qual não consigo libertar-me sequer quando tenho certeza de estar feliz.”
“Assim cada qual coloca o próprio paraíso no inferno dos outros.”
“Além disso, gostava de Nossa Senhora porque era tão diferente de mamãe, tão tranqüila e serena, ricamente vestida, com olhos que me olhavam carinhosos; e tinha a impressão de que fosse ela minha verdadeira mãe, e não a mãe que gritava sempre, ofegante e mal vestida.”
Música do post: nino rota amacord posible para final
Beijos,
Pedrita