Assisti O Viajante (1999) de Paulo Cezar Saraceni no Canal Brasil. Sempre quis ver esse filme que passa com regula-ridade nesse canal, mas não conseguia. É o último da Trilogia da Paixão, não sei se acho os outros na programação. O filme é baseado no livro de Lúcio Cardoso que fiquei com vontade de ler. É um filme difícil. Duas mulheres se apaixonam por um caixeiro viajante sedutor e fazem desatinos por ele. A viúva é a que vai mais longe. A viúva é interpretada magistralmente pela Marília Pêra, o filme é ela e pra ela. O texto é todo poético, o filme é muito erótico só em tempos e olhares. Uma cena em que ela vestida e tira os anéis é muito erótica, sem ser uma cena de amor, é uma cena solitária como quase todas as cenas dessa grande atriz.
O caixeiro é o belo Jairo Mattos. A jovem donzela é a bela e talentosa Leandra Leal que tanto adoro. O tio que acolhe a sobrinha é interpretado pelo maravilhoso Nelson Dantas. A fotografia é do maravilhoso Mário Carneiro. A trilha sonora maravilhosa é do Tom Jobim adaptada pelo filho dele, o Paulo Jobim e pelo Sérgio Guilherme Saraceni. O Milton Nascimento aparece no filme interpretando personagens e canções. Uma canção é interpretada pela Célia & Celma. Outros do elenco são: Roberto Bonfim, Myriam Pérsia e André Valli.
Terminei de ler Tocaia Grande (1988) de Jorge Amado. Comprei os livros dessa Coleção da Folha - Grandes Escritores Brasileiros. Gostei muito desse. No início estava um pouco parecido com Terras do Sem Fim, que li sem perceber há exatamente um ano atrás. Tocaia Grande depois mudou completamente e ficou fascinante. Começa claro com uma Tocaia, a Tocaia Grande. Após vencer e ganhar a posse daquela terra, começam a chegar moradores e povoar o espaço. É realmente uma cidade utópica, mas não tem moderna assim, já que as mulheres continuam sobre o domínio masculino onde eles têm quantas mulheres querem e elas precisam suportar. No livro a utopia é que elas aceitam sem sofrimento isso, muito machismo alguém achar isso. Mas de qualquer forma é uma cidade onde todos colaboram, se apoiam e vivem em uma certa harmonia.
Obra Cangaceiro (1982) de Aldemir Martins
Adorei os personagens, o Fadul, libanês que é chamado de turco como muitos no Brasil chamam qualquer um que tenha nariz adunco e cabelos negros. O negro Tição. Os coronéis. As prostitutas. A cidade começa a ser povoada depois com sergipanos que fogem de problemas de terras do seu estado de origem. Lá eles plantaram a meia, mas depois que colheram descobrem que não possuem nada e ficam sem nada. Eu adoro obras extensas, com muitos personagens, muitos desenrolares. O vocabulário vasto de Jorge Amado é sempre incrível.
Obra Oxúm de Carybé
Trecho de Tocaia Grande (1988) de Jorge Amado:
“As comemorações dos setenta anos da fundação de Irisópolis e dos cinqüenta de sua elevação a cidade, cabeça de comarca e sede de município, alcançaram certa repercussão na imprensa do sul do país.”
“Ao descrever a paragem onde se perdera e repousara, soube que o nome daquele sítio era Tocaia Grande, assim denominado por ter sido cenário de tenebrosa emboscada seguida de matança a sangue-frio alguns anos antes nas desapiedadas brigas dos coronéis pela posse das derradeiras matas – naquelas bandas do rio das Cobras já não existia palmo de terra que não tivesse dono.
No calor da narrativa, tipos de má-fé, línguas de trapo, citavam nomes a propósito da famigerada tocaia mas Fadul sabia dar o devido valor a aleivosias e intrigas: entravam por um ouvido , saíam por outro. Certas versões, o melhor é ignorá-las.”
“O Barão era deveras autoridade em raças, herdara a competência do pai, perito na escolha e compra de cavalos e escravos. Mas Marie-Claude aprendera com as freiras do Sacré-Coeur que os negros também têm alma, adquirem-na com o batismo. Alma colonial, de segunda classe, mas suficiente pra distingui-los dos animais: a bondade de Deus é infinita, explicava Sóror Dominique dissertando sobre o heroísmo dos missionários no coração da África selvagem.”
Nota - Eu vi no Youtube que teve uma novela inspirada no livro que foi exibida na Rede Manchete, inclusive eu vi e gostava muito, mas a inspiração foi leve demais, quase um pensamento, porque se bem me lembro havia uma igreja, sendo que no livro Tocaia Grande não há nenhuma definição religiosa, cada um segue as suas rezas conforme a sua cultura.
Fui ao concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) na Sala São Paulo. Era a noite de comemo-ração dos 20 anos de spalla do maestro Cláudio Cruz que estava como solista do concerto e interpretou a primeira audição do Concerto para Violino de Ronaldo Miranda, que obra maravilhosa e de difícil execução. O concerto trouxe a regência de Roberto Minczuk que desde o seu afastamento como diretor assistente da orquestra não tinha mais regido a Osesp. Gostei da mistura de repertório, uma obra atual de um compositor brasileiro e duas obras estrangeiras bem conhecidas, a Osesp interpretou a Abertura Zur Namensfeier de Beethoven e a Sinfonia nº 1, Titã, de Mahler. A Sala São Paulo estava lotadíssima, muitos chegaram um pouco antes do concerto e não conseguiram ingressos. Foi um belíssimo concerto!
Assisti Trama Macabra (1976) de Alfred Hitchcock no Telecine Cult. Tenho adorado que esse canal tem passado os filmes mais recentes desse mestre do cinema. Em geral acabam reprisando ao cansaço os mais consagrados que já vi várias vezes e passam pouco desses que não conhecia. Esse tem um roteiro genial como não poderia deixar de ser. Pode até ser menos ovacionado em relação aos outros do Hitchcock, mas mesmo assim infinitamente superior a muito filme recente. O roteiro é baseado no livro do Victor Canning. Gosto da trama trazer dois casais trambiqueiros. Um bem mequetrefe, ela é uma vidente fajuta e ele um taxista que faz as pesquisas pra vidente fingir que alguém que já morreu fala detalhes da vida da pessoa em sessões pra ela. O outro casal é mais sofisticado, ele é um colecionador de joias e sequestra personalidades para conseguir diamantes raros espalhados pelo mundo.
O elenco é todo muito bom: Bruce Dern, Barbara Harris, William Davane, Karen Black e Ed Lauter. Há umas cenas meio mal feitas, como quando o taxista dirige e conversa com sua partner, mas mesmo assim Trama Macabra é muito bem realizado. Como nesse filme o Hitchcock já está consagrado, só aparece a sombra dele. É muito genial o momento que ele aparece. O taxista anda por uns corredores de um escritório e duas pessoas falam atrás de uma porta e uma é a sombra do Hitchcock, muito divertido! O trailer é uma delícia, é o Hitchcock falando do filme.
Assisti ao espetáculo Simplesmente eu, Clarice Lispector de Beth Goulart no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo. Eu queria muito ver esse espetáculo desde que tinha lido matérias a respeito, adorei quando entrou em cartaz em São Paulo. Só que anda lotado porque assim que foi programado a excelente Beth Goulart ganhou Prêmio Shell por essa sua apresentação. E merecidíssimo, esse espetáculo é incrível. É um monólogo onde a Beth Goulart interpreta a Clarice Lispector e algumas de suas personagens. Enquanto Clarice é uma mulher forte e determinada, suas personagens já são mais românticas e diferenciadas. Percebemos claramente quando é a Clarice ou suas personagens. Além de recursos cênicos, a Beth Goulart muda completamente a interpretação, que atriz. Não é um espetáculo linear, são fragmentos da personalidade da Clarice Lispector que vamos costurando seja pelos aspectos apresentados da escritora, seja pelos seus personagens.
O cenário, a iluminação e os figurinos são belíssimos. Os figurinos ajudam na construção das persona-gens de Clarice. Beth Goulart coloca peças de vestuário que são entregues entre as frestas de um cortina do cenário e se transforma. Como os monólogos o espetáculo tem apenas uma hora de duração, o que torna tudo leve, agradável, mas ao mesmo denso e profundo como os belíssimos textos de Clarice. A equação toda fica impecável e marcante. Incrível espetáculo. Os ingressos do espetáculo Simplesmente eu, Clarice Lispector custam somente R$ 15,00 e fica em cartaz até dia 20 de junho. Está lotando, então é preciso comprar com antecedência.