Sempre entrecortado, esses volumes alteram os 40 anos do Rodrigo e seu problema de saúde futuro. Esse Rodrigo só ouviu falar de seu antepassado, mas os dois são parecidos na alegria de viver, de se enfiar em brigas, de serem alegres e justos e mulherengos. No terceiro volume o foco é o Floriano, filho do Rodrigo, que busca o anti-modelo do pai. Ele não quer ser como pai, é retraído, gosta de escrever, e começa então o livro dentro do livro. O Floriano escrevendo essa obra e a dificuldade de não julgar tão severamente o pai que sempre o magoou. Outra surpresa é o diário de Sílvia, quase uma filha adotiva da família. Incrível como o autor conseguir mudar totalmente o estilo de narrativa, que parece realmente que é de uma delicada moça religiosa a escrever. Aqui estão os posts de O Continente e O Retrato.
Trechos de O Arquipélago de Érico Veríssimo:
“Poucos minutos depois das duas da madrugada, Rodrigo
Cambará desperta de repente, soergues-se na cama, arquejante, e através da
névoa e do confuso horror do pesadelo, sente na penumbra do quarto uma presença
inimiga...”
“Maria Valéria costumava ler os jornais todos os dias,
com os óculos acavalados no longo nariz. Flora gostava de observá-la nessas
ocasiões. A velha não podia ler sem mover os lábios. De vem em quando fazia um comentário
em voz alta – hum! – encolhia os ombros – mentira! – ou sacudia a cabeça – boa
bisca! – e assim por diante...”
O Arquipélago III
“A tristeza lha vinha da compreensão a que chegara, da
inutilidade de todos os gestos, da monotonia com que os fatos se repetiam. Os
homens insistiam nos erros. Pronunciavam frases antigas com um entusiasmo novo.
Encontravam justificativas para matar e para morrer, e estavam sempre dispostos
a acreditar que “desta vez a coisa vai ser diferente”.
“São quase sete e meia da noite, as luzes da cidade já
estão acesas, mas veem-se ainda no firmamento vestígios do lento e rico
crepúsculo que os dois amigos apreciaram através das janelas do Recreio
Florentino e que levou Tio Bicho a observar: “É uma sorte o pôr do sol não depender
do governo e de nenhuma autarquia, porque, se dependesse, o trabalho cairia nas
garras de funcionários incompetentes e desonestos, haveria negociata na compra
do material, acabariam usando tintas ordinárias... e nós não teríamos
espetáculos como este.”
Beijos,
Pedrita